A DUREZA DE SER MULHER: NUNCA ACEITEI ESSA DIFERENÇA!

Lembro-me com muita tristeza dos tempos de quando eu era criança e adolescente e morava numa cidadezinha do interior do Nordeste. Quando as pessoas descobriam que uma moça não era mais virgem, o assunto se tornava o “prato principal” de toda a comunidade e região.

As vizinhas inventavam de varrer a frente das casas para iniciar a fofoca no entorno! E eu todo ingênuo e discreto, ficava ouvindo aquelas conversas sem conseguir compreender absolutamente nada! Já que a virgindade de alguém, digo, de uma mulher, era algo tão relevante e de interesse social, eu confesso que ficava ainda mais curioso e também mais preocupado com o meu próprio futuro, afinal, os “malfeitores” eram sempre obrigados a casar com as moças ou então teriam que fugir pra longe para que não fossem mortos ou castrados! “Ou casa com minha filha, ou casa comigo”, costumavam determinar os pais da época. E muitos se casavam e eram infelizes para sempre! Mas há quem morra de saudades dessa época!

E eu ficava buscando entender porque somente as mulheres tinham que passar por aquele constrangimento todo! Ninguém comentava sobre o desvirginamento dos homens! O que tinha a ver virgindade com caráter?! Nunca entendi isso.

Depois que comecei a pesquisar sobre o assunto, descobri que muitas daquelas moças eram rejeitadas pelos esposos simplesmente porque eles pensavam que tinham sido enganados, já que um considerável percentual tem um hímen que não deixa sinais visíveis de que fora rompido! Injustamente, algumas daquelas mulheres foram expulsas pelas famílias e terminaram sobrevivendo nos prostíbulos.

Que bom que conseguimos evoluir um pouquinho, mas há ainda muito o que avançar. Muitos homens ainda se acham no direito de trair e de espancar e até matar suas namoradas, esposas, amantes, etc., se estas fizerem o mesmo!

Fui criado num ambiente machista, mas tive a sorte de ter uma mãe inteligente e um pouquinho à frente do seu tempo que dizia que não se importava que seus filhos casassem até com prostitutas, pois o que interessava era a relação a dois, o respeito a partir daquele momento e a felicidade deles!

Minhas maiores referências sempre foram as mulheres! Minha mãe, minhas tias, irmãs, amigas, colegas de trabalho, alunas, namoradas, esposa. Talvez por isso eu tenha sempre preferido ter filhas! É claro que elas têm também seus defeitos, mas não é só uma questão de gênero! Às vezes gosto de provocá-las, mas que fique claro que não é por causa do gênero, é meu gênio!

Ivan Lopes, 28/05/22.

Professor e jornalista.