Mulheres Violadas, Agredidas, Amedrontadas
Estes dias a ferocidade tem sido presente na realidade nacional. A violência doméstica se tem revelado constante ante a inércia da sociedade que, herdeira dos bons costumes, defensora da família tradicional e cristã, nada ou pouco tem feito para se contrapor aos gritos e gemidos das mulheres diuturnamente agredidas.
Num estudo acurado com o fito de olhar os gráficos desse quadro de abusos, uma constatação, prontamente, será feita; o aumento cada vez maior da violência sexista em todos os espaços da vida social.
Muitas têm sido as mulheres surradas, silentes, em seus lares e muitos dos “bons cristãos”, a pretexto de que em briga de marido e mulher não se mete a colher, vão se eximindo de qualquer interferência para salvar vidas ou apaziguar ânimos mais exaltados no mundo machista.
E perante a violência cultural que enfrentamos no cotidiano, o que fazer? O Estado se mostra ineficiente no enfrentamento a estas mazelas, a classe política numa surdez contagiante, mesmo porque muitos políticos, coronéis dissimulados, são useiros e vezeiros desses abusos contra suas companheiras.
A questão das violações contra a mulher vem de longe e se apresenta como fruto do patriarcado, quando o homem manda de forma arrogante e a mulher o obedece de forma submissa, uma vez que lhe foi ensinado, até mesmo pela religião, que a esposa deve sujeição ao marido.
Esta questão tem sua origem também no patrimonialismo, de que falava Max Weber, famoso filósofo alemão que discorria de um modo específico de dominação e de poder, corroborado também por Raimundo Faoro em seu livro Os Donos do Poder. Nesta seara a mulher sempre foi disposta enquanto um objeto, um enfeite e alguém que não podia se achegar na sala de estar, reservada a cozinha enquanto espaço mais adequado para sua estada ou permanência.
A sociedade tem que reagir aos absurdos psicóticos de virilidade de muitos “machos” que não aceitam as condições de suas companheiras em finar uma relação abusiva. E estas mulheres estão sendo espancadas, ameaçadas até mesmo diante de seus filhos pequenos que carregarão as marcas desses sofrimentos até mesmo os reproduzindo no futuro.
Tal quadro de violências se apresenta na forma mais usual, a física, muito mais comum nas comunidades hodiernas. Também se manifesta de forma moral e psicológica, gerando efeitos catastróficos na vida da mulher ameaçada que tem de se esconder para continuar vivendo como prisioneira de sua própria condição.
E quando os homens subtraem objetos de uso pessoal dessas companheiras, tomando-lhes o celular, por exemplo, praticam, então, a violência patrimonial no mais desprezível dos sentidos.
Quando obrigam as mulheres a práticas ligadas ao sexo obrigando-as a tomarem parte naquilo que não desejam, os agressores expõem-nas à violência sexual na maneira mais vil e torpe. Toques indesejados, relações constrangidas e o aborto forçado têm sido práticas constantes em nosso meio sem reação de terceiros por serem assuntos alheios.
O Estado oferece uma rede precária de proteção. Ainda assim, esta rede, formada de abnegados profissionais e pessoas filantropas, tem se esmerado no combate aos desmandos dos machos que só o são até a chegada da autoridade policial. Esta rede socioassistencial tem procurado fazer seu trabalho. Os Centros de Referência de Assistencial Social – CRAS – cumprem papel fundamental no intuito de dirimir os sofrimentos impostos secularmente às mulheres.
Por estes dias vimos uma mulher reivindicar direito de oferta de alimento junto ao Poder Judiciário. Foi ameaçada de morte por tal feito. E quem lhe deu guarida? A sociedade estava lá e nem incômodo mostrou, uma autoridade estava lá e com este abuso não se ocupou; a Igreja estava lá e não profetizou. A infeliz mulher, de tão sozinha, surtou.