BATENDO NA PORTA DAQUELA CASA...

Em cada porta uma surpresa

O que me aguarda

Qual é a história a ser contada

Quais as dores, as dificuldades

De cada membro daquela família?

É sempre uma emoção nova

Os relatos, os casos

Observar como cada membro reage

E interage

Como flui a comunicação

E a dinâmica familiar.

Ah!

Famílias...

Tão diferentes na sua composição

No seu funcionamento

Nos seus vínculos

Nas suas alianças...

Histórias tão sofridas

Tocaram o meu coração

Famílias, onde tudo começa

Não importa como ela seja

Sempre foi e sempre será

Um espaço sagrado!.

" Os melhores anos da minha vida profissional foi atuar junto a grupos de famílias de comunidades carentes

do Município da Prefeitura, no CRAS, de duas cidades vizinhas.

Sempre era uma surpresa, bater a porta daquelas casas, o contato inicial, ali mesmo já começava o acolhimento, a formar os vínculos, a confiança , por entrar em um espaço tão íntimo e ser bem recebida.

Lembro até hoje do meu primeiro atendimento, do seu nome, da sua queixa, e de como me emocionei com o "caso", mas não podia demonstrar e misturar os meus sentimentos, naquele momento.

Quantas famílias pude ouvir, em cada relato, sentimentos, emoções, sendo revelados, às vezes, logo nos primeiros encontros.

Adentrar naquelas casas, sempre foi sentir emoções diferentes, as primeiras impressões, a acolhida pelos membros da família, tem que "quebrar o gelo" , como se diz, por que é meio estranho, uma pessoa desconhecida bater na porta e se dispor a ouvir a família, suas queixas, seus problemas.

Nem sempre pude entender logo qual era a demanda daquelas famílias, não, é preciso ter tato, zelo, cuidado, pois as relações familiares são muito complexas, carregadas de experiências , muitas vezes, tão traumáticas, que refletem no funcionamento e no comportamento de cada grupo familiar.

Na maior parte dos casos, a demanda do meu trabalho era para um enfoque familiar, tentando fazer a família sair daquele estado em que ela se encontrava, muitas vezes, de desemprego, de negligência, de abandono ou de violência a qualquer nível.

Era também para orientar, dar suporte, informações, encaminhamentos, pois muitas vezes as famílias não conseguem romper com esse ciclo existêncial, era um enfoque de "empoderamento", e não simplesmente de "assistencialismo,".

Esses anos foram muito prazerosos para mim, cresci muito como pessoa, pois me defrontar com as "misérias humanas", com os casos de violência , com os problemas da Comunidade, só me fez crescer e valorizar mais ainda o ser humano, da forma como ele é, sem ter um olhar preconceituoso e de julgamentos. Afinal, cada pessoa carrega as suas dores, as suas feridas emocionais e a sua história de vida , e ela é única, e precisa e merece ser respeitada!.