O comportamento humano é determinado pelo meio ou pela biologia??

É intermediado pelo meio, mas determinado pela biologia.

Vou explicar minha resposta por uma auto análise...

1. Imaginação, interesses especiais e lampejos de precocidade artística

Desde a minha primeira infância que eu tenho apresentado uma imaginação expressiva, combinado com uma constante obsessão por interesses especiais, que começou com dinossauros, continuou com geografia, na segunda infância e adolescência, até desembocar na psicologia e, de maneira mais "autoral", na filosofia.

Pense num garoto de 5 ou 6 anos que, apenas pela disponibilidade de algumas fontes de inspiração (tal como o filme/desenho "De Volta para o Vale Encantado"), passa a ficar obcecado por dinossauros...

Eu sempre preferi os meus interesses do que me dedicar com afinco às matérias escolares, nos meus tempos de estudante. Sempre tive uma motivação intrínseca mais forte do que a extrínseca, uma vontade de fazer o que me dá prazer, físico ou mental, e com grande dificuldade de fazer o que não quero. Esta é uma das razões para o meu desempenho ter sido regular na escola. Talvez se, naquela época, eu tivesse um mínimo de motivação para me dedicar aos estudos, ainda mais nas matérias que não gostava, minhas notas teriam sido mais altas. E isso não é síndrome de filho mimado, porque nunca consegui sublimar minhas vontades primárias mesmo quando desejava/desejo ou necessito fazê-lo.

Me lembro de uma vez que uma professora de geografia, impressionada com a resenha que escrevi sobre o filme que ela colocou para assistirmos, "Os Últimos Rebeldes" (Swing Kids), me perguntou se eu já tinha lido Harry Potter. Isso foi no início dos anos 2000. Também me marcou quando, no mesmo período, uma professora de história pediu para fazermos uma música com tema histórico e cantar na frente de todos. Eu, sozinho, peguei uma música do Renato Russo (Por Enquanto), com a versão cantada pela Cássia Eller, e fiz a letra em cima. Dois dos meus melhores amigos, e eu, ficamos em primeiro lugar, empatados com outro grupo que tinha mais de cinco componentes (apenas eu que cantei, um amigo travou no palco e o microfone do outro parou de funcionar na hora). Não me lembro de ter sido "influenciado" por ninguém, a não ser por mim mesmo, por minha mente imaginativa e hiperativa, para ter conseguido escrever a letra para a música, algo que nunca tinha feito.

"Empurrei com a barriga" a faculdade de geografia, de 2008 a 2014, porque eu gostava de ver mapas e aprender sobre países e não sobre teorias marxistas, ainda mais naqueles anos, no auge do meu anti-esquerdismo, antes de acordar para as mazelas profundas que têm a autoria da direita conservadora e capitalista...

Comecei a ter vontade de escrever. A minha primeira poesia foi escrita em 2013, se minha memória não falha. A partir de 2014 ou 2015, comecei a me dedicar aos textos. Se alguém me influenciou de maneira decisiva para escrever, eu desconheço. Fui errando e aprendendo. E continuo no intento de melhorar. Prefiro a maioria dos meus textos de agora do que os que escrevi há dois, três... cinco anos atrás, porque são menos pretensiosos, mais compactos, de acordo com o que consigo produzir.

Pelo fato de ser muito intrinsecamente motivado, isso pode ser visto como um fator de exceção, de não ser possível extrapolar o meu caso para os outros. Mas, sinceramente, duvido. Acho que, por mais forte possa ser a influência do meio, a resposta final é sempre a do sujeito.

2.Timidez e introspecção

Com base em algumas lembranças remanescentes da minha primeira infância, incluindo fotos da época, de quando eu morava na cidade onde nasci, Araxá, eu tenho uma vaga impressão de que era menos tímido do que quando me mudei para onde tenho vivido. Então, coincidente com a mudança de cidade, me tornei mais consciente de quem sou, das minhas diferenças, resultando em uma crescente dificuldade de interação social. Também fui emocionalmente afetado pela relativa derrocada de padrão de vida da minha família, pela situação de desemprego do meu pai, que perdurou por anos, e minha mãe tendo que voltar a trabalhar como professora para ajudar nas finanças de casa.

O ambiente pode ter me influenciado até certo ponto, mas não o meu irmão do meio, porque ele foi um adolescente popular, sem grandes dilemas pessoais, apesar de ter morado na mesma casa e vivenciado as mesmas angústias familiares. Já, o meu irmão mais velho, também sentiu de maneira mais profunda essas mudanças que se sucederam em nossas vidas na década de 90 do século XX, apresentando um comportamento de rebeldia durante a sua adolescência. Até poderia concluir, a partir deste meu exemplo, que as circunstâncias do ambiente não são decisivas ao comportamento humano, mas o quão sensíveis nós estamos a elas; que a biologia tem um papel mais importante, se é o próprio sujeito que responde ou reage às interações com o meio, se está nele a resposta final, por mais persuasivas possam ser as forças externas.

Eu acredito que, não foi apenas o ambiente que gerou minha timidez, mas primordialmente a existência de uma predisposição. E, se foi coincidência ou causalidade, ela emergiu juntamente com o aumento da minha introspecção, durante essa fase de transição da primeira para a segunda infância em que nos tornamos mais autoconscientes.

Da minha família nuclear, eu sou o mais introvertido, introspectivo e imaginativo. Dos meus parentes mais próximos, que apresentam características psicológicas parecidas com as minhas, inclusive com trajetórias de vida similares, eu identifiquei um casal de tios (uma tia que faleceu em 2009), irmãos de minha mãe, ambos portadores de ansiedade social.

Então, eu penso que puxei deles essa tendência de ser mais caseiro, por também sofrer do mesmo transtorno; que, por razões genéticas, "devo" pelo menos parte da minha mente atípica aos meus tios..

Hoje, eu percebo que a intensidade da minha timidez depende das circunstâncias dos ambientes em que estou, da densidade de pessoas, do nível de confiança ou intimidade que eu tenho com elas... Ainda assim, mesmo que possa ser categoricamente considerada uma reação ao meio, parece ser preciso apresentar uma predisposição para se tornar mais tímido ou preocupado com a opinião alheia, se é notório que as pessoas tendem a reagir de maneiras diferentes quando expostas às mesmas situações, sugerindo que apresentam características intrínsecas diferentes que as influenciam.

Pois se é de praxe associarmos semelhanças de comportamentos entre pais, filhos e/ou irmãos com influência biológica ou genética, no meu caso, o padrão parece ser o oposto. O meu palpite é que, por via materna, uma maior carga mutacional (percebida pela presença de transtornos mentais nos meus tios) gerou essa maior discordância de tendências comportamentais na minha família, com relativa exceção do meu irmão do meio em relação ao meu pai, por serem os mais parecidos.

É óbvio que também apresentamos semelhanças, por exemplo, uma maior inclinação para a honestidade, que manifesta-se de maneira particularmente exemplar nos meus pais e que eu posso ter "herdado", parcialmente. Que eles podem ter me ensinado seus valores, mas só eu que poderia ter sido recíproco a apreendê-los, até porque, acabei rejeitando sua crença religiosa...

• Uma tendência mais neurótica e sensível de minha mãe;

• Uma tendência de ser mais distraído e relaxado que pareço ter herdado do meu pai (o meu irmão do meio também).

Sim, eu diria que sou um pouco mais complexo que o cidadão médio, pois apresento uma maior diversidade de características psicológicas, tal como de ser mais neurótico e relaxado, ao mesmo tempo.

3. Perfil cognitivo discrepante

Não conheço ninguém da minha família que tenha déficits em ciências exatas no mesmo nível que eu os tenho. Poderia culpar os meus pais, os meus professores ou a mim mesmo por nunca ter conseguido desenvolver minhas capacidades nessas matérias, incluindo as de física e química. Mas, nem eu tenho culpa, porque ninguém pede para nascer com alguma desvantagem ou com menor potencial. Simplesmente nascemos e nos desenvolvemos de maneiras diferentes, intelectual e psicologicamente ou, pelo menos, não de acordo com as expectativas dos outros. Eu me lembro que, até a quinta série do velho ensino fundamental, eu adorava matemática, assim como a maioria dos meus colegas de classe, porque escrevia menos que nas aulas de português. Então, a partir do momento em que as aulas de matemática deixaram de ser centralizadas na tabuada e nas quatro operações fundamentais, eu comecei a "afundar" nela em notas vermelhas e recuperação no final do ano. E isso piorou quando outras matérias foram introduzidas no currículo, a partir do ensino médio. Até em biologia eu não ia bem. Interessante que, hoje em dia, eu gosto mais desta matéria do que na época da escola...

Nesses últimos anos, eu cheguei à conclusão de que minhas capacidades cognitivas quantitativas, analisadas de maneira superficial por testes de QI, são as mais baixas do meu núcleo familiar, que não devem superar os 110 de média; que o meu perfil cognitivo apresenta as maiores diferenças: de déficits nas exatas e acima da média em domínios específicos das humanas, como história e geografia.

4. Descrença

Desde cedo, meus pais buscaram nos dar, para os meus irmãos e eu, uma educação cristã, que também pode ser considerada uma forma de "inculcação", de algo que é imposto como verdade ou o certo sem que seja comprovado e sem que a vontade e a opinião daquele que está sendo doutrinado sejam levadas em consideração.

Um fator importante que contribuiu para me desvencilhar desta inculcação bem intencionada foi o desenvolvimento paralelo de minha capacidade racional, de querer saber sobre a verdade objetiva, de não me contentar com o que me dizem ou com o que me conforta.

Então, a partir da minha adolescência, eu fui percebendo contradições profundas nos discursos e nas práticas religiosas, além do caráter fantasioso de suas narrativas. Consequentemente, eu fui me "desgarrando do rebanho", primeiro, em direção ao agnosticismo e, mais tarde, ao ateísmo. Mesmo quando acreditava em deus, eu já tinha um pé atrás...

Me lembro de uma vez em que comecei a rezar, escondido no quarto do meu irmão, pedindo a deus para que desse um emprego ao meu pai, que na época estava desempregado. Evidentemente que "Ele não me atendeu", já que, só depois de muitos anos que o meu pai conseguiu, por meios próprios, voltar à ativa...

Vale ressaltar que, meu irmão mais velho, além de ser ateu, compartilha comigo outras semelhanças, como a de ser canhoto, de não saber andar de bicicleta e nem de dirigir carro, pelo menos até hoje.

Coincidências??

Também somos mais fisicamente parecidos (puxamos mais nossa mãe) do que em relação ao nosso irmão do meio que, depois de idas e vindas, retornou à igreja católica, mas tende a ser tão crítico a ela quanto nós.

Novamente, eu concluí que o meio (especialmente por influência dos meus pais) me doutrinou a ser cristão, mas a minha "biologia" (inclinação para ser mais curioso, de buscar pela verdade objetiva) acabou prevalecendo...

5. Orientação sexual

Minha (homo)bissexualidade não foi ensinada ou estimulada por nada nem por ninguém, pelo contrário, se, por alguns anos, eu fui convencido a negar, para mim mesmo, quem eu sou, até não conseguir mais conter minha própria natureza.

Determinismo biológico versus ambiental

Eu acredito que, nada melhor do que nós mesmos para avaliarmos os fatores que influenciam nossos comportamentos, especialmente se conseguirmos desenvolver o autoconhecimento.

Pois, com esse relato pessoal, eu percebo que me enquadro mais na categoria de "determinista biológico", porque acredito que as características intrínsecas (biologia) do ser humano têm um papel decisivo no seu desenvolvimento psico-cognitivo e em seus comportamentos reativos e voluntários às interações com o meio, sem desprezar totalmente suas influências. Já que, se eu fosse um "determinista ambiental", atribuiria praticamente tudo o que sou aos outros ou aos eventos que marcaram minha história de vida, se seria como determinar que uma folha é levada pelo vento exclusivamente por causa da força do vento, desprezando que a folha também precisa ser leve o suficiente, de ter uma certa natureza, para que possa ser levada.

Nós mesmos somos como "ambientes ambulantes".

Ao preferir pelo determinismo biológico, não significa que eu esteja desprezando as influências do meio sobre mim e nos outros ou sugerindo que nossos comportamentos não possam ser flexíveis, mas que a própria biologia humana é flexível... não de maneira significativa, tal como muitos pensam. Se parece notório a influência do meio na expressão fenotípica da minha timidez, por exemplo. No entanto, novamente, isso não seria possível se não tivesse qualquer inclinação para reagir desta maneira e isso serve para praticamente todo resto...

Mais um Thiago
Enviado por Mais um Thiago em 29/04/2022
Código do texto: T7505782
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