A JUVENTUDE NA MATURIDADE

Prólogo

Eu ou você não podemos comprar felicidade, mas ainda podemos comprar chocolate que é quase a mesma coisa. – (Nota do Autor).

Quero dedicar este texto a todos os meus amigos de outrora. Companheiros de caserna principalmente. Colegas da infância, adolescência e vida adulta. Pessoas que não se comunicam por conveniências familiares, socioafetivas, profissionais ou pessoais por mim compreendidas. – (Nota do Autor).

ACORDEI MAIS CEDO

No dia 13 de abril, próximo passado, acordei mais cedo do que nos dias anteriores e me pus a contar os anos já vividos. Com um sorriso silencioso no rosto sulcado percebi que estou velho, mas jovem na espiritualidade. Na supracitada data completei 73 anos de idade!

Em “flashes” azulados passei a me recordar dos companheiros da infância, adolescência e vida adulta. Onde estarão essas pessoas? Como estarão vivendo? Houve progresso em suas vidas socioeconômico e afetivas? Iguais a mim envelheceram vivendo com dignidade?

Sei que alguns faleceram, outros envelheceram com a autoestima baixa pela falta de progresso. Alguns enveredaram pela larga estrada da perdição nos vícios, na pobreza proporcionada pelo ócio e desqualificação, talvez pela falta de oportunidade.

Entretanto, outros progrediram. Alguns são professores, políticos, psicólogos, administradores, biólogos, empreendedores, empresários, pequenos e médios comerciantes; oficiais de justiça, médicos, engenheiros, advogados, promotores, juízes; oficiais das Forças Armadas e das polícias federal, civil e militar já reformados pela idade iguais a mim.

NÃO ME VITIMIZO

Não me queixo! Sinto-me como uma criança que ganhou um pacote de chocolates; o primeiro, quando menino, comi com prazer e gana, mas hoje, aos 73 anos percebi que naquele pacote havia menos chocolates do que eu queria para suprir minha gula.

Na juventude fui voraz. Todo jovem é voraz e imediatista. Na vida adulta alguns são mais ainda! Hoje eu não devoraria os doces com tanta pressa. Iria saborear um por um bem devagar por medo de deixar o pacote vazio antes do tempo.

ENVELHECER COM DIGNIDADE

Envelheço a cada instante e sei que estou morrendo desde a concepção no útero materno... Percebo que não tenho mais tempo para ouvir pessoas absurdas que, apesar dos alertas dos mais espertos e da idade cronológica, não cresceram por desídia e/ou incompetência; pela torpeza, ingratidão, falta de reciprocidade e compreensão dos princípios basilares da urbanidade.

Essas pessoas vitimistas, grosseiras e lamuriantes, que anseiam, o tempo todo, ser foco de atenção, não compreendem que cada ser humano tem responsabilidades, deveres e obrigações. Tenho as minhas e todos têm as suas. Meu tempo está muito curto para discutir quem está certo ou errado ou quem merece o perdão ou ser apedrejado por culpa comprovada.

SOU MAIS SELETIVO PELA OBVIEDADE DO PRAZER

Hoje sou mais seletivo! Quero a essência do básico. Minh' alma está com pressa. Meu espírito quer se desprender do corpo velho, da carcaça hoje menos útil, talvez imprestável para quem não consegue enxergar meu lado solidário.

Sem o vigor da juventude e agora com poucos chocolates no meu pacote.... Quero viver ao lado de pessoas humanas que sabem rir, com respeito, dos meus passos trôpegos, inseguros, e aplaudir minhas piadas sem graça ou ler meus escritos insossos.

Não desejo e não quero conviver com personalidades histriônicas e/ou bipolares. Quero me solidarizar com pessoas que não ficam longe de suas responsabilidades, que defendem a dignidade humana e valorizam a verdade e a honestidade.

CONCLUSÃO

O essencial é o que faz a vida valer a pena, isto é, ser útil, querido e necessário. Ainda me sinto assim! Quero me cercar de pessoas que sabem tocar os corações dos semelhantes sem cobranças com choros sofridos, plangentes ou sorrisos sardônicos.

Ao alcançar a maturidade quero imitar pessoas a quem as dificuldades da vida ensinaram a crescer com toques suaves na alma, no mais recôndito do espírito humano. Sim... Estou com pressa para viver com a responsabilidade que só a maturidade pode oferecer como uma benevolência ou dádiva.

De hoje em diante pretendo não desperdiçar nenhum dos doces que eu ainda tenha, na melhor representação das minhas conquistas, ou ainda possa ganhar. Tenho certeza de que os chocolates recebidos como prêmios, pelo meu trabalho honesto, serão mais doces e inebriantes atualmente, na maturidade plena, do que os que comi até agora.