A psicopatia é um transtorno mental ou apenas uma estratégia adaptativa??

Quase todos os transtornos mentais têm em comum o fato de serem um tipo de disfunção da mente, que causa prejuízo variável ao bem estar subjetivo dos seus portadores, que também tende a afetar o bem estar dos que convivem diretamente com eles e mesmo os que não estão relacionados. Um transtorno que foge um pouco a essa regra, por não preencher todos os critérios, é a personalidade anti social e, mais especificamente a psicopatia, já que não costuma prejudicar o bem estar subjetivo dos seus portadores. Por causa disso, até existe um debate sobre a validação do seu status, se se deve continuar a ser tratada como uma desordem ou de ser vista como parte do comportamento saudável da espécie humana, aqui, sob o nome de "estratégia adaptativa". Porém, a psicopatia é plenamente compatível com o primeiro critério, o mais importante dos três, por ser a própria definição de transtorno. Apenas a compare com outras condições psiquiátricas, por exemplo, a depressão, para perceber que, em ambas, comportamentos ou estados emotivos "normais", como sentir-se triste ou agir com egoísmo, especialmente quando são racionalmente justificados, se manifestam de maneira patológica: constante, excessiva e inflexível. A psicopatia ou, de maneira mais abrangente, a personalidade anti social, também é totalmente compatível com o terceiro critério, se seus portadores são responsáveis pela maioria dos problemas humanos, tanto a nível individual quanto coletivo, especialmente os mais graves.

Atavismo??

Se a depressão é um caso clássico de transtorno, por preencher todos os critérios básicos para ser categorizada como tal, a personalidade anti social mais parece ser um tipo de transtorno por atavismo, isto é, uma expressão ou versão primitiva, subdesenvolvida de capacidades superiores do intelecto humano, nomeadamente as que contribuem para o comportamento racional: emotiva, empática, analítica e reflexiva.

E, para piorar, ela tem sido extremamente bem sucedida nas sociedades humanas, vide a desproporção de psicopatas de alto funcionamento, e outros tipos similares, nas elites política, econômica.. sempre semeando conflitos, explorando e oprimindo os outros... sem falar dos que se distribuem nas outras camadas sociais e que agem de maneira idêntica dentro de suas "áreas de atuação". Mesmo assim, isso não significa que seja apenas uma "estratégia adaptativa", mas que, por causa da domesticação cultural e biológica da maioria dos indivíduos de nossa espécie, os menos domesticados tendem a se beneficiar desta situação para agir indiscriminadamente contra os que são mais domesticados ou menos ariscos que eles.

Portanto, por uma análise primária, a personalidade anti social se enquadraria em uma categoria neutra de qualidade, insuficiente para ser considerada mórbida, mas também totalmente saudável ou "normal", tal como eu pensei para a homossexualidade que, apesar de poder ser considerada uma disfunção relativa, se prejudica o ímpeto pela procriação por vias naturais (com certa exceção para a bissexualidade), não é causal a nenhum sintoma psiquiátrico, nem intrinsecamente prejudicial ao bem estar subjetivo do seu "portador" e aos não-portadores, no máximo, correlativa. No entanto, em relação à personalidade anti social, sua disfuncionalidade atávica que, ainda por cima, está diretamente relacionada com implicações morais legítimas, impede que seja "elevada" à condição de expressão saudável da mente humana. Como conclusão, pode não causar sofrimento psicológico aos seus portadores, mas é claramente um desequilíbrio mental e tende a causar muita dor e sofrimento aos outros.

Mais um Thiago
Enviado por Mais um Thiago em 25/03/2022
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