Sobre a popularidade do mito de que psicopatia e racionalidade estão relacionadas

A psicopatia é um transtorno de personalidade caracterizado por egoísmo, crueldade e impulsividade enquanto que a racionalidade é uma virtude exclusiva ao ser humano, de analisar e julgar a partir da verdade ou com justiça, e que, portanto, requer reflexão/autocontrole e empatia. No entanto, muitas pessoas, mesmo de lados opostos no espectro político-ideológico, tanto da esquerda quanto da direita, concordam em conceituar a racionalidade de maneira potencialmente equivocada, que faz com que pareça ter uma forte relação com a psicopatia. Porque acreditam que seja sinônimo de calculismo, frieza emocional, insensibilidade... A diferença é que as de esquerda a condenam e as de direita se sentem confortáveis em adotar esse conceito até para se considerarem mais racionais que os outros, especialmente que os seus adversários políticos. No entanto, a racionalidade não se expressa a partir da ausência de emoções e sim pelo seu conhecimento, controle e cooperação com o raciocínio analítico. Se, para pensar de maneira racional, deve-se focar no fato, isso não significa que a emoção seja irrelevante nesse processo. Por exemplo, quando está acontecendo uma guerra estúpida, como a invasão russa à Ucrânia, a indignação em relação às vítimas humanas e não-humanas dos bombardeios nas cidades nos ajuda a julgar essa situação com justiça ou imparcialidade. Afinal, civis desarmados e animais não têm qualquer culpa, não são ameaças a ninguém. Além do mais, a guerra é uma ação extrema que só deveria ser inevitável em situações extremas, porque também é uma questão de correspondência entre as naturezas da ação e da reação. O que não é o caso na grande maioria das guerras se sempre existem outras opções, a partir do momento em que há tentativas reais de diálogo e busca por um entendimento mútuo para uma resolução pacífica e muito mais inteligente do que promover carnificina, destruição, sanções econômicas...