A FACE APÁTICA DUMA SOCIEDADE QUE DÓI
A inspiração desse meu artigo, dessa minha vontade incoercível de escrever e compartilhar o que escrevo, me chegou pela observação do nosso meio e aqui deixo claro que se trata duma sensação pessoal frente ao que vejo, ouço e sinto.
Nesses dias atuais é impossível se passar ileso frente ao tudo que ocorre no nosso país, devido em parte à violência das ocorrências e principalmente à velocidade com que somos bombardeados pelas diversas plataformas de notícias, por meio de imagens e descrições dos fatos sucessivos cada vez mais tristes.
Se trata de avalanches de tragédias que se repetem sucessivamente dentro dum alicerce etiológico de mesmo "modus operandi: DESCASO COM VIDAS.
As reações das pessoas, atingidas direta ou indiretamente pela perplexidade dolorosa, são diversas e têm se manifestado sob vários aspectos da saúde física, mental, social e espiritual.
Nesse meu texto, a despeito de tantas doenças que derivam do enfrentamento da TRAGÉDIA CRÔNICA QUE VIVEMOS, quero chamar a atenção de quem me lê para a expressão, não apenas a facial mas a corporal, das pessoas que são acometidas pelas tantas tragédias.
Nas várias reportagens da imprensa é impressionante a comunicação dum sentimento uno de APATIA SOCIAL que conseguimos captar apenas observando as entrevistas e as narrações advindas.
É como se as pessoas que perderam tudo já não tivessem mais nada a perder, ainda que percam as suas vidas e as dos seus entes queridos.
Há um nítido aumento do limiar das dores sociais tendendo ao infinito dos nossos dramas.
Não é normal ouvirmos alguém falar com certa "pseudo serenidade" de espirito que acabou de tirar dos escombros sua família inteira soterrada...com a aparente resignação de quem foi ali comprar pão mas encontrou a padaria desmoronada.
Obviamente que se trata duma reação patológica de defesa, em crescente no nosso meio , como se um corpo social doesse tanto que já se encontra anestesiado, mesmo em meio ao enfrentamento de dores mais fortes.
A leitura da face das pessoas é de desolação coletiva. Dói lê-las pelos escombros.
A pergunta que me faço: que sociedade futura planejamos construir diante duma apatia social flagrante e tão dolorosa, onde a vida é apenas mais um detalhe perdido em meio a dor de tantas perdas acumuladas?
Que futuro EMOCIONAL terão as crianças, instrumentos reais dum porvir em construção, infância em número crescente submetida a tanta desolação plantada num meio duro, adaptado na marra das surrealidades vividas, obrigadas a doer cada vez menos, ainda que as dores se exacerbem em intensidade?
Que futuro terá uma sociedade abandonada à própria sorte e , de certa forma já notória, dessensibilizada pelo necessário mecanismo de defesa inconsciente, para se poder continuar minimamente a despeito da avalanche de tragédias que se sucedem?
Seria possível construirmos uma sociedade de Paz diante dum país que se esqueceu de implementar a dignidade e o devido valor às vidas?
A meu sentimento, construímos um cenário que tende a um futuro frio, árido, violento, empedernido, abatido física e moralmente pela dor perene que já nos tira a capacidade de sentir dor.
Uma sociedade dessensibilizada funciona como uma disputa de feras num antigo coliseu.
Fica aqui a minha proposta reflexiva sobre o nosso caos apático...o de sempre.
É impossível não se doer coletivamente diante duma terra única e rica que, em meio à luta tão árdua pela sobrevivência rasa, enterra seus mortos aos baldes, por tantas causas evitáveis, sem que tenhamos tempo e cognição suficientes para entender a participação nossas próprias mãos na construção dum cenário de tanto desalento.
Esse seria uma assunto que não terminaria nunca.
Sorte e força a todos nós, querido Brasil.