Uma conversa sobre a imagem da Eliana
Não sou de acompanhar essas notícias de “celebridades” mas teve uma nos últimos dias que me chamou a atenção. Eliana, pra mim era só aquela mocinha que aparecia de manhã nos programas infantis, na década de noventa, eu já era adulto e, portanto, não acompanhava muita coisa. Depois parece que virou apresentadora de auditório para adultos, mas na minha cabeça ficou mais aquela menina que apresentava desenhos animados para as crianças. Nos últimos dias ela foi notícia por reclamar de uma foto que tiraram dela enquanto brincava com os filhos. Na foto mais “reveladora” ela aparece de costas usando um biquíni bem curto.
Já deixo logo de cara a minha opinião de que ela tem razão em ficar zangada e de se sentir invadida mas, no entanto este texto não tem a intenção de apontar culpados. Esse texto tem o foco na ideia expressada pela própria Eliana ao se ver invadida: a ideia de que sua imagem tinha sido roubada. Dizem que os povos de indígenas tem uma relação curiosa com a imagem, não gostam de ser fotografados. Me lembro do que eu já ouvi falar sobre o caso dos Ianommamis, do norte do Brasil, esses indígenas costumam ficar muito constrangidos quando lhe mostram fotos ou filmagem deles. Principalmente quando percebem que alguém da tribo, que aparece nas imagens, já não está mais vivo, eles se preocupam com os parentes do morto que sofreriam ao ver este ali bem vivo, num pedaço de papel ou numa tela.
A questão aqui é que Eliana não está numa tribo indígena, ao contrário, ela esta aqui fazendo parte da nossa sociedade de consumo. Em tempos de redes sociais, é um tanto curioso que alguém se sinta decepcionado por não conseguir ter controle sobre sua própria imagem, sendo ela uma pessoa famosa. Alias, mesmo uma pessoa comum corre os seus riscos. É só colocar sua fotinha inocente lá na rede e de repente alguém que não vai muito com sua cara pode fazer sabe-se lá o que com ela… já aconteceu uns casos bizarros, melhor nem pensar neles.
Mas Eliana apareceu de biquíni. Sendo ela um ícone, dos programas infantis, isso não deixa de ter um lado de constrangimento, ao colocar em oposição inocência infantil e sensualidade. Se fosse alguém como Viviane Araújo, estaria tudo certo,pois se trata de uma celebridade acostumada a vender sensualidade e uma foto como essa só seria um produto a mais nessa sociedade onde todos parecemos estar vendendo alguma coisa.
Mas Eliana não vende sensualidade então ela não teria nenhuma vantagem nesse tipo de foto, ao contrário, só prejudicaria sua história de apresentadora infantil. Então não seria a perda do controle da imagem mas sim a perda do controle sobre o que está sendo vendido?
Eliana hoje se zanga com a sociedade de consumo que lhe mostrou uma face hostil através de uma câmera, mas nem sempre foi assim. Eliana também já vendeu, não sensualidade, mas já vendeu brinquedo para crianças e uma série de outras coisas desse tipo. A sociedade vinha sendo boa para Eliana até então.
Assim seguimos em frente feito a Eliana, sempre vendendo alguma coisa, e cada vez mais ciente de que nem sempre controlamos o que vendemos, e nem sempre o que vendemos trás algo de bom para nós.