DIGA NÃO A AUTOCOBRANÇA

Prólogo

Trata-se, este artigo, de uma reflexão sobre a importância de se cobrar menos e se valorizar mais. Também quero aproveitar o ensejo para agradecer aos meus milhares de leitores pelas deferências a mim concedidas durante este ano pandêmico de 2021 que, nos estertores de seu fim, se despede da sociedade depois de tantos estragos socioafetivos e econômicos.

Alguns leitores poderão imaginar que este texto está à beira do limite do inapropriado, mas, às vezes, é mais fácil viver para os outros do que descobrir como viver por si e para si mesmo. Cansa-nos viver com a sensação de que não se é bom e/ou não se evoluiu o suficiente, não é mesmo? Ouso escrever: Ainda não me cansei!

Hoje amanheci o dia com essa pergunta na mente: Que tal olhar mais vezes o mar, ver o sol nascer ou a lua surgir no esplendor de sua beleza, nos convidando a um luau (festa de origem havaiana. — Nota do Autor) de reflexões? “Que tal se cobrar menos?”.

SOBRE O TEMA EM COMENTO

Hoje, como faço todos os dias, mas nem sempre foi assim, enviei meu bom dia, via WhatsApp, para minha amada filha Fabianne. Por extensão penso em toda a família. Eu quis terminar o ano fatídico de 2021, infortunado ano por conta da danosa pandemia, abordando esse tema porque acredito que muita gente viva com o mesmo sentimento, afinal, a autocobrança está sempre aí, batendo na porta dos que desejam ser o primeiro em tudo.

ACONTECEU COMIGO

Durante muitos anos busquei a perfeição. Eu me cobrava demais. Perdi muito tempo! Sem nenhuma orientação eu sempre quis ser o primeiro nos cursos que fiz quando estava no serviço ativo, no Exército, e/ou na vida civil. Essa busca incessante por "ser o primeiro" me rendeu bonitos e invejáveis diplomas, experiência, rápidas promoções e uma excelente estabilidade financeira.

Frequentei uma das melhores universidades do Brasil durante cinco longos anos. Cursei Ciências Jurídicas e Sociais na Universidade Federal do Rio de Janeiro — (UFRJ). E se não fosse aquela conceituada instituição de ensino superior teria sido a Universidade de São Paulo — USP. Isso porque eu não podia estudar em uma universidade particular. Optei pela UFRJ por, à época, estar servindo no Centro de Estudos de Pessoal — CEP e morando no Bairro do Leme-RJ. Nessa briosa Unidade Escola servi (trabalhei e estudei) de Dez/1988 a Jun/1998.

Contudo, esqueci de viver e acompanhar os melhores momentos, durante a infância e adolescência, com minha doce menina Fabianne e meus amáveis filhos, seus irmãos, Wilson Júnior e Walter. Por extensão também negligenciei excelentes momentos de alegria com a esposa Maria de Fátima Rodrigues Pereira, com meus pais, irmãos, sobrinhos, tios e tias e outros parentes menos próximos (A maioria residente em Campina Grande,PB.). Isso não foi bom! Não cultivar a afetividade faz emergir ressentimentos fortes e até, em alguns, a sensação de abandono.

OBSERVAÇÃO PERTINENTE E OPORTUNA

O Centro de Estudos de Pessoal e Forte Duque de Caxias é um estabelecimento de ensino do Exército Brasileiro, que, desde 1965, busca melhor compreender, estudar e preparar o homem. A Organização Militar foi criada com o objetivo de ser um centro de estudos do comportamento humano, formando militares para desempenhar funções no campo das ciências sociais e humanas dentro das Forças Armadas e Auxiliares. — (Nota do Autor.).

Qual foi o resultado de eu me cobrar em demasia? A verdade é que envelheci com experiência por mérito próprio! Contudo, entre mim e meus filhos a barreira da melhor fraternidade ainda existe, não entre mim e a Fabianne, mas ainda há, de forma suave, quase imperceptível, entre mim e os filhos amados Wilson Júnior e Walter.

UM EXEMPLO A SER SEGUIDO

Minha filha tem um extremado zelo com meus netos, seus filhos, e até sobrinhos. Ela me superou e se supera a cada instante na afetividade. Ela é um exemplo a ser seguido. Isso é excelente! É muito comum ouvirmos a expressão em latim “carpem diem”, que nos chama a aproveitar o momento, e termos uma reação mais negativa a ela do que positiva.

Isso acontece porque geralmente entendemos que quem “aproveita o dia” são as “aproveitadoras”, as “desocupadas” e “irresponsáveis”. Afinal, se formos previdentes, não podemos simplesmente viver o presente, pois existe muita coisa a ser planejada, decidida e revista. Demorei, mas finalmente compreendi o valor e o bem que nos causa o culto à fraternidade associado ao preparo psicossocial e econômico.

CONCLUSÃO

Temos que fazer nossas projeções de contas a pagar, decidir quando tiraremos férias, quando poderemos sair com os amigos, nos inscrever naquele curso que sonhamos, fazer com antecedência a lista de compras, nos antecipar frente aos imprevistos e montar nossos planos de ação para os objetivos que pretendemos alcançar a longo prazo.

Ou seja, geralmente nosso foco é o futuro, não o presente, mas visando apenas progresso socioeconômico e negligenciamos o socioafetivo. Isso não é bom! Por isso repito a pergunta: Que tal se cobrar menos em todos os aspectos e se cuidar na saúde mental e física? Que tal cuidarmos em cultuar e recuperar o tempo mal-empregado para ficarmos mais perto dos familiares e seletos amigos e amigas?

Por isso e muito mais, planeje sim, pague suas contas em dia, mas respire fundo a cada coisa que for fazer e se concentre no agora. Veja como o tempo se expande quando você foca nele ao invés de no amanhã. Faça tudo com prazer, calma e alegria. As inspirações serão mais frequentes, você precisará planejar menos e os resultados serão mais positivos.

Enfim, quero aproveitar o fecho deste texto para desejar a todos os meus notáveis leitores uma reunião familiar fraterna nesses festejos natalinos e passagem de ano. Que possam se abraçar e harmonizar sem ressentimentos. Para todos deixo os meus experientes conselhos:

Cobrem-se menos! Digam não a autocobrança extremada! E se alguém lhe disse (disser) algo ruim sobre uma pessoa e o deixou em dúvida sobre o caráter dessa pessoa.... Cuidado! O princípio do contraditório é muito importante para dirimir dúvidas. Tente ouvir o suspeito e/ou acusado! Não acredite em quaisquer informes sem antes ouvir a pessoa de quem se falou algo bom ou ruim. Toda forma de saber nasce de uma dúvida. Duvide sempre! Não se esqueça do que já dizia Aristóteles: “A dúvida é o princípio da sabedoria”.