QUANDO O BURACO "EXISTENCIAL" É INSONDÁVEL
Já faz mais de uma década que andar pelas ruas da capital de São Paulo, mais conhecida como Sampa, causa espanto pela constatação do desmazelo notório que há com o "cuidar da cidade".
Quem deveria cuidar e mesmo aqueles que destroem ou fingem consertar algo normalmente não tem a mínima noção de CIDADANIA.
Não entendem que consertar ou recuperar algo público é cuidar do que é dele também.
Existe um termo socialmente aculturado por aqui, que eu percebo que causa constrangimento em alguns, que é o que identifica alguns bairros como "bairros nobres" da cidade. Esqueçam essa denominação. Porque nobre mesmo seria se ter educação, compromisso com a cidade e cidadania.
Aqui não entro no mérito da complexa questão sociológica em se explicar o que seria um "bairro nobre" mas posso garantir que se o quesito for "cuidar do patrimônio público", a nota é ZERO.
Não existe bairro nobre nesse quesito do zelar. E sem qualidade de vida esqueçam a nobreza...
O desmazelo vai desde cuidar de pontes, viadutos, rotas viárias, asfaltos, canalizações, redes elétricas, de telefonia, de mídias, até cuidar das vidas.
A nossa ponte ESTAIADA, a exemplo, patrimônio arquitetônico de TODA A CIDADE e do Brasil, dá sinais visíveis de deterioração e emite gritos por manutenção. Mas ninguém vê.
O lixo...bem o lixo é emblemático dos tempos. É lixo a se perder de vista.
Vandalismo?
É a raiva do déficit de cidadania na vida privada destruindo o que é de todos.
Mas aqui eu quero falar de algo mais emblemático ainda, o que ilustra o título desse meu texto.
Não é novidade que ao andar pela cidade com olhos atentos aos caos a gente acabe encontrando indícios e fatos explícitos do que aqui coloco.
Buracos? Ah, buracos são entediantes, mal tapados lugares comuns, quando o são, com asfalto de areia...como os castelos da praia que desmoronam sob os " sóis" ao simples toque duma marola.
Mas fotografar dinheiro público (o meu , o seu, o nosso!) indo buraco abaixo, a céu aberto, pelo ralo do desmazelo, ao relento das vidas, não é todo dia que temos a oportunidade de fazê-lo.
Num espaço que há três anos era um belo micro ecossistema duma área verde urbana , então destruída pelo poder público, hoje se encontra um amontoado de sacos asfálticos abandonados , como se o terreno público fosse um depósito de material de construção da própria Prefeitura de Sampa.
Sacos de grânulos de concreto asfáltico (TAPA-BURACOS) e canos de PVC aguardam ali há semanas uma obra que já começou ser feita há meses, cujo acabamento da rua adjacente dá vergonha de se olhar.
Como o poder público, agindo dessa maneira, pode cobrar seriedade sobre os descartes de lixo da comunidade pela cidade toda, em TODOS OS BAIRROS?
Essa é a resposta que gestor algum nos dá porque já percebeu que a população se acostumou a não enxergar.
Por favor, senhores gestores e responsáveis: Respeitem a população que lhes dá emprego!
Façam jus ao dinheiro do contribuinte.
Façam jus aos proventos que o povo lhes paga.
Cuidem do que é de todos para o bem de todos.
Parem de fazer remendos na cidade a jogar o suor da cidadania nos entulhos do desmazelo gestor.
Eduquem a população e mais que isso, deem o EXEMPLO de cidadania GESTORA.
Ali, naquele terreno judiado, muito melhor seria se ter conservado as árvores gigantes que foram cruelmente amputadas pelas serras do próprio poder público.
Afinal...ninguém de nós respira asfalto tampouco sobrevive nos insondáveis BURACOS sem fundo espalhados pelos nossos caminhos...
Respeitosamente: Da cidadania que agoniza.