FOME - VERGONHA ABSOLUTA
A situação da pobreza extrema em nosso país, infelizmente passa à margem do conhecimento público, salvo raríssimas matérias da imprensa.
Diria que a sociedade como um todo, não tem a mínima ideia do que seja a pobreza extrema, a ponto de faltar o que comer, ou seja, da pessoa, da familia, passar fome. Isso, não ter o que comer.
Não estou falando de faltar perspectivas, de pensar na casa própria, de sonhar com uma vida melhor, em estudar, em se formar, em crescer na vida. Estou falando de fome, do estômago apertado e todo o pensamento focado unicamente nas dores da fome, que faz doer principalmente a alma.
Absurdo é que o contingente de pessoas que passam fome ou não se alimentam o minimamente saudável, representa muito mais do que toda a população da grande maioria dos países. Sim, nossa população extremamente pobre, é maior que mais de 100 países do nosso planeta.
Mesmo assim, essa situação passa quase desapercebida pela sociedade brasileira. De certa forma, é compreensível, pois, essa população não tem voz, não tem vez, não tem grito, não tem como se manifestar.
Toda energia que lhes resta está focada na busca pelo que comer e o mundo da comunicação de massa, vive em paralelo ao mundo financeiro, faz questão de ignorar essa gente, para não assumir a vergonha, a desumanidade, o quanto é feia essa realidade.
Outro tanto percentual da população, debita essa situação, a preguiça, a falta de iniciativa de gente faminta, culpando-os pela sua situação, ao invés de humanamente entender que tal situação é advindo da concentração de renda, do ineficácia do estado e até do crime que o governo vigente comete ao não cumprir os preceitos básicos da constituição.
Tais pessoas fazem parte daquele um terço da população do planeta, que cito, que representam os fascistas, os nazistas, os capitalistas extremos e outros istas, que entendem a atenção e essa gente faminta como apenas um custo e melhor seria a sua extinção, sua eliminação, ou seja, simplesmente a eliminação de custos evitáveis.
Outros tantos, mesmo cientes dessa realidade triste, feia, vergonhosa, não tem a mínima ideia do que é passar fome. Não conseguem ser empáticos porque jamais viveram tal situação. Não ter o que comer e não ter como agir, pois, toda iniciativa prática exige algum dinheiro e lhes falta dinheiro para comprar pão. Simplesmente pão.
Escrevo sobre esse assunto, sobre essa vergonha, porque sei o que é isso. Conheço essa realidade. Sei o que é aquele vazio no estômago, aquela dorzinha teimosa que vai crescendo, crescendo, fazendo com que não se pense em mais nada que algo para comer, chegando ao ponto do desestímulo total. A inanição aniquila todos os valores mais sagrados de uma pessoa.
Eu sei o que é a fome, na sua forma real e nas suas consequências na deformação física e emocional. Tive a sorte de passar um curto período em situação tão negra, mas suficiente para sentir e sofrer por décadas as mazelas desse tempo.
Importante mesmo é dizer que nosso país, esse gigante cantado em prosa e verso, com cores lindas e vibrantes, com riquezas naturais invejadas pelo mundo, comete o pecado de conviver com essa situação de tanta gente passando fome, da forma mais insensível, da forma mais desumana, da forma mais vergonhosa, da forma mais feia que se pode assistir, ou seja, inertemente insensível.
E quanto se fala de estado forte; quando se fala em distribuição de renda; quando se fala em redução da carga horária do trabalho; quando se fala na melhor remuneração do trabalho, os direittisas idiotizados, os neoliberais abestalhados, se limitam a nos chamar de esquerdopatas.
Talvez eu seja realmente um doente, pois, saber do que ocorre nas periferias desse nosso Brasil, efetivamente me adoece. Adoece e muito a minha alma. Saber da fome que assola tanta gente, realmente me faz um esquerdopata, um esquerdista doente, de coração, de alma e de patriotismo.