Linhas Cruzadas
O programa "Linhas Cruzadas", sempre apresenta debates sobre temas relevantes, nem sempre polêmicos, mas a abordagem ,sim; claro que não se esgotarão assuntos como "busca da felicidade", "razão x emoção" ou "realização no trabalho" em apenas um programa de uma hora, porém esses tópicos já foram abordados à exaustão pelos filósofos, mesmo que a sociedade utilitarista diga que "filosofia não serve para nada".
Estão aí os consultórios cheios para constatar que o "buraco é mais embaixo" e que todas as formulinhas modernas de receitas para "viver bem" e de "felicidade" caem facilmente no cômico, quando não no ridículo.
O ser humano tende ao exagero ,seja não estando satisfeito com a casa ultramoderna de último tipo ou pensar que morando em uma cabana no mato, um ser que tira tudo de latas e pacotes, pode de repente se tornar um silvícola e passar a usar tanga.
Nem uma coisa nem outra; está cheio de gente que se submete a profissões que odeiam só pelo status social durante anos, aí criam um cenário com mulher, filhos, casa de praia, viagens, mas, o ser humano, eterno insatisfeito; quando alguém ao lado ficaria contente com algumas apenas dessas coisas, ele se enjoa de tudo isso e resolve "morar no mato";alguns constroem sítios no fim do mundo ( que bom se não o convidarem a visitar), mesmo que alguns alternem o "sobe e desce" eterno das serras; os mais radicais querem levar uma vida "vegana", abrem um bistrô naturalista e vão te encher o saco porque coloca açúcar no café ou come carne, sendo que o borocochô se entupiu de carne a vida inteira e agora está com charminho.
Todas ilusões românticas, eu digo, nascidas no Romantismo. Não viemos ao mundo para sermos "felizes"; quem pensa assim está se iludindo, acreditem em mim. E pensar que tendo uma vida ruim vai encontrá-la no dito "Paraíso" é outra perda de tempo, embora a maioria se aferre com um afinco nos bens materiais de forma digna de nota.
É lógico que não buscamos o sofrimento e, aqui e ali, as vitórias parciais nessa batalha que é a vida nos dão alento para a labuta , é de se notar. Porém o sofrimento é parte indissociável da vida; passando por eles e lutando com afinco nos engrandecemos. A batalha , para mim, é a melhor comparação possível com o viver.
Não se iludam de que as "pessoas simples" são mais felizes e vivem melhor; esse é um mito do Cristianismo; claro que nada impede que tenham momentos de felicidade, mas a penúria causa enormes estragos, conflitos, sofrimento, doenças, privações. Que você vai sair por aí e montar uma cabana no mato é muito bonito nas músicas dos hippies; sem dúvida é uma visão de mundo poética e um tanto ingênua.
Do outro lado temos também as coisas mais ridículas e imbecis de que se tem nota, como um amor patológico e quase doentio por aparência e bens materiais, com casas lustrosas, sem uma poeira; algumas bem cafonas, em que não vive gente, mas são apenas cenários.
Eu aqui não perdoo ninguém ; sempre me inspiro no que vejo, porém nunca é nada pessoal. Somos guindados pelas coisas e circunstâncias do mundo, e às vezes nem sabemos quem somos. Claro que existem pessoas felizes em meio ao luxo e outras sorridentes na mais austera simplicidade. Mas, como disse, somos eternos insatisfeitos; se fôssemos animais, não teríamos conflitos, mas não somos mesmo.
A ausência de diferenças sociais elimina a maioria dos conflitos; está comprovado; o ser humano é invejoso; esse é um sentimento que faz parte de nós, queiramos ou não. Quando alguém ostenta em meio à pobreza causará ódio; não tenha dúvida. Mas o que esperava? Não é uma espécie de provocação?
Está claro que não conseguimos produzir riqueza para todos e sempre uma elite será privilegiada; assim nos querem fazer acreditar. Eliminar essas diferenças sempre foi a luta de todos os movimentos sociais, conseguindo, no mais das vezes, atenuar, nunca resolver os problemas.
Sem perder o foco, é bom vivermos, não "felizes", mas de bem com a vida com o que temos ao redor; não há outra alternativa, sempre buscando esferas superiores, se assim o desejarmos, não sem consequências, de mais custos, despesas, trabalho, problemas. A medida do que desejamos só nós podemos determinar; tanto ao céu, não há limites para o desejo e ambição humanos, mas ao rés-do-chão, não pense que não pode desfrutar com mais intensidade e aproveitamento das coisas, de forma minimalista. É sempre um aprendizado.