A MALDIÇÃO DA ELITE DO ATRASO
A MALDIÇÃO DA ELITE DO ATRASO
Mais um artigo sobre fatos históricos que comprova cabalmente a tendência da natureza humana em buscar o poder às custas da dominação e exploração dos seus semelhantes, exatamente como enfatizado no artigo publicado anteriormente (A Face Escura da Humanidade), que descreve e faz comentário crítico à repressão e controle da população medieval europeia pela Igreja e a nobreza.
Desta vez trazendo à baila acontecimentos históricos do Brasil relativos ao segundo império no reinado de D. Pedro II e a questão abolicionista, a qual envolveu também sua filha, a Princesa Isabel. Ambos favoráveis à abolição da escravatura desde muito antes dela ser assinada pela monarca e promulgada como lei Áurea.
É sabido que o fator decisivo para que evento tão relevante acontecesse foram as intensas e fortes pressões populares que já vinham ocorrendo há muito tempo, em verdade, logo depois da Independência, porém, com maior ênfase a partir de 1860.
Entretanto, não se pode negar a influência e simpatia da família real pelo processo, particularmente do Imperador, da Princesa e da Imperatriz Teresa Cristina, que chegou a vender suas joias em benefício da causa. Conforme explicitado no artigo, não foi uma só vez que receberam ameaças às suas integridades físicas e às suas vidas, oriundas principalmente da repugnante elite dos grandes e poderosos cafeicultores escravocratas com receio de perder a mão de obra escrava e barata que lhes proporcionavam lucros exorbitantes.
O que mais chama atenção é a informação sobre os estudos do IHGB e FGV entre 1992 e 2010, os quais concluíram que, se o reinado de Pedro II ou a continuação de seus planos por sua filha Princesa Isabel tivessem mais 15 anos de duração, 67% das favelas e por consequência 43% da violência e tráfico de drogas não existiriam na cidade do Rio de Janeiro e, provavelmente, em outras grandes metrópoles como São Paulo, que emergiam na época.
Para finalizar, um fato curioso que nos impele à reflexão: D. Pedro II foi o dirigente mais culto e humanista que o Brasil já teve. Juntamente com Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek e Luiz Inácio (Lula) da Silva, governos republicanos, constituem os líderes governantes que mais se preocuparam com a pobreza e o subdesenvolvimento brasileiro e justamente estes tiveram fins melancólicos, sendo que o último ainda vive sua desdita.
D.Pedro II foi expulso do Brasil e teve um fim melancólico e triste. Getúlio Vargas foi protagonista de um dos momentos mais emblemáticos do Brasil com seu suicídio e carta testamento em 24/08/1954.
Juscelino Kubitschek foi vítima fatal de um estranho e misterioso acidente automobilístico na via Dutra em 22/08/1976 e que, até hoje, suscita suspeita de complô e atentado político atribuído à Operação Condor, entre as ditaduras militares da Argentina, Brasil, Chile e Paraguai.
Lula, por sua vez, após dois períodos de gestões bem sucedidas, em que a população mais necessitada viveu dias melhores proporcionados por programas sociais de sucesso, assim como melhor distribuição de renda, alcançando também a classe média e os empresários, com subsídios generosos e vantajosos, os quais foram estendidos para os militares, foi acusado e preso sem provas, mas que não anula o fato de que fortes evidências indicam que cometeu ou condescendeu com corrupção e irregularidades inquestionáveis, apesar da não materialidade provada.
Fica a pergunta: Por que os grandes líderes brasileiros, de tendência e natureza humanista, preocupados com as injustiças sociais e a pobreza no país, acabam encontrando destinos tão desafortunados?
Marco Antônio Abreu Florentino
Pedro II do Brasil
Em 1871, a Imperatriz Teresa Cristina doou todas as suas joias pessoais para a causa abolicionista, deixando a elite furiosa com tal ousadia. No mesmo ano A Lei do Ventre Livre entrou em vigor, assinada por sua filha a Princesa Imperial Dona Isabel.
O bairro mais caro do Rio de Janeiro, o Leblon, era um quilombo que cultivava camélias, flor símbolo da abolição, sendo sustentado pela Princesa Isabel.
José do Patrocínio organizou uma guarda especialmente para a proteção da Princesa Isabel, chamada “A Guarda Negra”. Devido a abolição e até mesmo antes na Lei do Ventre Livre, a princesa recebia diariamente ameaças contra sua vida e de seus filhos. As ameaças eram financiadas pelos grandes cafeicultores escravocratas.
A família imperial não tinha escravos. Todos os negros eram alforriados e assalariados, em todos imóveis da família.
D. Pedro II tentou ao parlamento a abolição da escravatura desde 1848. Uma luta contra os poderosos fazendeiros por 40 anos.
O Parlamento sempre negava o projeto de lei, pois muitos tinham influências diretas ou indiretas com os grandes cafeicultores escravocratas.
Se tratando de uma MONARQUIA CONSTITUCIONAL PARLAMENTARISTA, o imperador não tinha o poder para decretar leis sem aprovação da maioria do parlamento.
Princesa Isabel recebia com bastante frequência amigos negros em seu palácio em Laranjeiras para saraus e pequenas festas. Um verdadeiro escândalo para época.
Na casa de veraneio em Petrópolis, Princesa Isabel ajudava a esconder escravos fugidos e arrecadava numerários para alforriá-los.
Os pequenos filhos da Princesa Isabel possuíam um jornalzinho que circulava em Petrópolis, um jornal totalmente abolicionista.
Pedro II criou uma cota para negros alforriados ingressarem no Colégio Pedro II e nas Faculdades.
Essa cota não foi aprovada pelo parlamento, porém Pedro II tirou de seus próprios proventos a garantia da cota.
No período de 1872 e 1889 centenas de ex-cativos se tornaram médicos, advogados, engenheiros... Graças a chamada “bolsa do imperador”.
“Estudos do IHGB e FGV entre 1992 e 2010, concluíram que se o reinado de Pedro II ou a continuação de seus planos por sua filha Princesa Isabel tivessem mais 15 anos de duração, 67% das favelas e por consequência 43% da violência e tráfico de drogas não existiriam na cidade do Rio de Janeiro e provavelmente em outras grandes metrópoles como São Paulo que emergiam na época.”
FONTE: Biblioteca Nacional RJ ( Acervo Teresa Cristina ) , Arquivo Nacional RJ , UNESCO , Livro Os Bestializados de José Murilo de Carvalho 1987 e Livro As Barbas do Imperador de Lilian Moritz Schwarcz 1998