As pessoas podem ser muito cruéis

As pessoas realmente podem ser muito cruéis, especialmente quando fazem comentários acerca do peso ou aparência dos outros. No geral, quem está acima do peso aguenta todo tipo de brincadeira ou palavras sem o menor tato como: “Nossa, mas você está forte hein.” E, para quem não tem ou nunca teve problemas de peso, fica aqui a seguinte mensagem: a pessoa que está gorda detesta ouvir que está “forte”, pois ela sabe que é apenas um eufemismo. É a mesma coisa que dizer que um negro é “moreno” ou “queimado”. Muitas vezes, nem mesmo quando um gordo perde peso, ele escapa dos comentários duros. Uma moça, após perder uns trinta quilos, ouviu de várias pessoas: “Nossa, você deu uma melhorada, porque você era bem gordona.” Ela disse que só ficou imaginando o que não falavam dela pelas costas no tempo em que ela era gorda.

A crueldade é ainda maior na infância, visto que é mais escancarada e vemos bons exemplos de crueldade infantil na antiga novela Carrossel. Vale citarmos Maria Joaquina, a riquinha racista, que não gostava do colega Cirilo por ele ser negro e dizia aberrações como: “Não atendi o telefone porque ele é tão negro quanto você” e “Meta-se com os da sua cor”. Além de Maria Joaquina, Cirilo aguentava o colega Paulo, que o chamava de “Chocolate”. Outras crianças vítimas de piadas eram Jaime e Laura, que estavam acima do peso. Laura ouvia que estava uma “gorda inflada”, era uma “baleia” e Jaime, que era um “elefante”.

A verdade é que a crueldade está presente no comportamento da maioria das pessoas, adultas e crianças mas, no caso dos adultos, eles disfarçam mais para não causarem má impressão. Outra coisa que vale ser mencionada é o politicamente correto. Por causa do politicamente correto, diz-se que não se pode chamar alguém de índio, mas de “nativo” nem de negro, mas de “afrodescendente”. No entanto, o politicamente correto não diminuiu nem o racismo nem qualquer outro tipo de preconceito. Apenas fez com que os preconceitos com que temos lidado tenham ficado mais disfarçados. Do que adianta dizer que fulano é afrodescendente quando, na prática, uma pessoa negra é alvo de desconfiança ao frequentar um shopping, sendo a primeira suspeita quando ocorre um roubo?

As crianças, quando são cruéis e perversas, precisam ser devidamente orientadas para que esse comportamento seja podado. Deve-se ensinar a elas que não se deve zombar de ninguém por causa de características como peso, cabelo, religião ou aparência física. Entretanto, isso pode ser difícil porque é possível que elas tenham aprendido seus comportamentos errados com os próprios pais.

Se os pais são racistas, como o professor conseguirá ensinar à criança a não zombar do colega negro que usa penteado afro e segue uma religião de matriz africana? E um agravante é que as crianças não medem as palavras quando vão troçar dos colegas, botando apelidos ridículos, como houve com uma menina que tinha o cabelo volumoso. Todas as outras crianças a incomodavam por causa do cabelo, colocando nela o apelido de um personagem de novela.

Lidar com a crueldade, principalmente na infância, é algo bastante complicado. Os pais devem ser os primeiros a ensinar às crianças que elas não devem mexer com ninguém, seja por qual motivo for. Fica muito difícil para um professor e para qualquer outro profissional da área da educação tentar incutir noções de respeito quando as crianças não foram, desde o início, ensinadas a respeitar a todas as pessoas. E temos de admitir que é possível que certas crianças tenham aprendido a ser cruéis com os próprios pais.