Independência
Idealizo para o Brasil uma independência de si próprio. Explico... O jeitinho brasileiro, no seu sentido degradante, é o calcanhar de Aquiles tupiniquim, caracterizado por projetos de poder e manifesta-se em costumes que subvertem um bem-viver oriundo das virtudes da cidadania, com base democrática. Um golpe contra o Estado Democrático de Direito, ou mesmo a sua tentativa, evidencia o quão longe uma nação, ou parte dela, está da civilidade e dos trilhos que levam aos elevados índices sociais. Um ponto comum entre países desenvolvidos é justamente a democracia.
Posto isso, é por demais preponderante um imã social invertido repelindo o referido jeitinho brasileiro e magnetizando as virtudes cidadãs cosmopolitas, para se assimilarem experiências bem-sucedidas de nações-modelos, visto que os extratos da sociedade brasileira são compostos por um impressionante mosaico, bastando também trazer para o território nacional referenciais de países que vêm demonstrando a viabilidade de determinados projetos de nação.
No Brasil, além da população original indígena, preciosa e que requer resguardo, o leque étnico nacional abrange a maior colônia japonesa fora do Japão, um expressivo número de descendentes de africanos, a numerosa colônia italiana, bem como os descendentes de espanhóis, alemães, holandeses, suíços, judeus, árabes etc. Portanto, vejo que um rumo para o Brasil é resgatar suas boas raízes e buscar soluções em países referenciais, se valendo da criatividade inerente aos brasileiros, para adaptar a amálgama das boas ideias e traçar seu projeto de nação e, com efeito, vir a afastar projetos de poder, na missão de reconstruir a cidadania e formar cidadãos plenos, ou seja, conscientes, virtuosos e prontos a exercerem a cidadania no cotidiano, de modo a se constituírem gerações as quais virão a conviver numa nação independente das amarras que ainda teimam em se perpetuar nas diversas esferas sociais. O fortalecimento das instituições no Brasil faz parte dessa transformação, cuja Constituição cidadã, de 1988, é o principal farol aos navegantes do revolto mar institucional, cujos piratas golpistas, milicianos etc. engendram levar ao naufrágio suas embarcações.
O Brasil é um país de privilégios, de corrupção institucionalizada, das castas de poder, estando fadado ao caos, caso uma mudança de rumo não aconteça, ainda que morosa, até porque a transformação de uma nação, na cronologia histórica, demanda décadas. Países como a Finlândia e Coreia do Sul, outrora subdesenvolvidos, vieram se aprimorando com o tempo e, atualmente, são exemplares, seja nos âmbitos institucionais ou no da cidadania. O que lá funciona bem? Como procedem seus cidadãos? Que virtudes estão presentes? O que deles podemos replicar/adaptar?
No passado, os portugueses nos trouxeram a corrupção e a burocracia imperial, mas que no atual paradigma podem nos legar o semipresidencialismo, ou um adaptado semiparlamentarismo... A França já foi nosso esteio cultural, todavia houve uma fonte sucessora, a contemporânea americanização de referenciais, que trouxe, no pacote, uma preocupante faceta: a beligerância do armamentismo. Afora isso, a ameaça à democracia no Brasil é o símbolo maior do distanciamento das nossas raízes na cultura ocidental, cujo berço é a Grécia. O semipresidencialismo francês pode trazer a saudosa influência francesa ao Brasil. Por outro lado, pessoalmente, vejo o parlamentarismo como melhor sistema de governo para o futuro, atrelado à supressão de privilégios, apoiado no voto distrital e na melhor qualificação de postulantes ao poder, dentre outras práticas que se mostram efetivas nos países-modelos, por exemplo, a cultura do não desperdício - tanto de recursos financeiros quanto humanos, hídricos etc. -, a qual é tão vigorosa na Dinamarca, que aliás é o país menos corrupto do mundo. O Brasil pode conter desperdícios? Pode, e deve!
Se a Coreia do Sul, a Finlândia, a Dinamarca, a Nova Zelândia e a Austrália, por exemplo, conseguiram conquistar elevados índices sociais e de civilidade, o Brasil também consegue! Demora? Sim, a história ensina, pois o compasso do tempo das nações se estende por gerações. É sacrificante? Sim, o povo precisa se resignar, sem imediatismos, para colher resultados num futuro. É gratificante? Sem dúvidas! Isso resgata o orgulho nacional, reaviva a cidadania e traz motivos para se comemorar genuinamente qualquer data cívica!