UM DEFICIENTE VISUAL DIFERENCIADO

Prólogo

Muitos bons profissionais de ambos os sexos, bem qualificados, saudáveis, jovens, de boa aparência... ESTÃO SEM EMPREGO (Grifei). Em todo o planeta Terra há milhões de desempregados.

No Brasil são mais de 14 milhões de profissionais, alguns milhares muito bem qualificados, sem condições de ganharem o próprio sustento. Dizem que a culpa é da pandemia, da falta de investimentos e incentivos governamentais nas indústrias, no comércio e afins.

Entretanto, sempre há uma ou outra exceção. Bons exemplos de superação existem em todos os países, mas no momento só quero citar um belo exemplo de determinação em nosso Brasil. Sem enxergar, o médico Ricardo Ayello Guerra apesar de ser um deficiente visual trabalha em dois hospitais e um consultório.

Li a matéria na internet, escrita por Sibele Oliveira em colaboração para o TAB, de São Paulo. A história, digna de louvor, foi publicada em 27/08/2021. Compartilho com muito gosto essa história por entender ser exemplar e motivacional para todos nós supostamente não deficientes.

A HISTÓRIA DO ENDOCRINOLOGISTA

É uma sexta-feira calma no quarto andar do Hospital do Servidor Público Estadual, na Vila Clementino, na zona sul de São Paulo. Ali, onde ficam os ambulatórios, sem pacientes disputando espaço ou correria para tirar o atraso dos atendimentos, tudo o que se pode ouvir é o silêncio.

Nesse fim de tarde, algumas salas já estão vazias e, dentro de instantes, a 443 também ficará. Foi nela que Ricardo Ayello Guerra, com 50 anos de idade, atendeu os 20 pacientes do dia. Uma rotina que o endocrinologista repete a semana inteira sem sobressaltos, apesar do detalhe que o diferencia dos colegas: ele não enxerga.

A vida no escuro não atrapalha Ricardo no desempenho do seu ofício. Ele está há 26 anos no Hospital do Servidor Público Estadual, além de dar expediente no Hospital do Servidor Público Municipal, ambos em São Paulo, e em uma clínica em Atibaia. Na unidade da Vila Clementino, onde conversou com o TAB, o endocrinologista é responsável pelo ambulatório de câncer de tireoide. Trabalha com médicos residentes, com quem discute os casos clínicos.

A TECNOLOGIA A SERVIÇO DA MEDICINA

Já tarefas como manusear o computador e imprimir receitas ficam a cargo dos que estão começando a carreira. No consultório, a rotina de Ricardo é diferente. Ele usa dispositivos como um medidor de pressão arterial que fala e conta com a ajuda de José Roberto, encarregado de avisar quem será o próximo paciente e ler os exames.

Ricardo analisa os resultados, escuta o laptop (com o programa NVDA instalado) verbalizar as informações registradas no prontuário e tecla as novas. Só então chama o paciente. Por não enxergar, não faz a inspeção. As outras etapas do exame clínico - palpação, percussão e ausculta - ele tira de letra. Nem melhor nem pior do que os colegas. "O pessoal acha que cego é tipo um ciborgue, com super audição (SIC). Isso é uma lenda. Escuto igual a todo mundo", conta.

OBSTÁCULOS VISUAIS

Isso não significa que Ricardo teve uma vida fácil. Ele sempre teve baixa visão, consequência da retinose pigmentar, doença com a qual nasceu. Quando criança, vivia isolado num canto da escola, incomodado com o ambiente escuro do estabelecimento. Ainda assim, era importunado pelos colegas de classe, que jogavam bolinhas de papel na cabeça dele.

Ricardo sabia deixar os aborrecimentos fora de casa e se permitia ser um menino alegre no lar, na companhia dos pais e dos irmãos. Quando mudou de colégio, no ensino médio, as coisas melhoraram, pois o clima era acolhedor. Como saía pouco de casa à noite, devido à cegueira noturna, preenchia o tempo estudando. Até que estar entre livros e cadernos se tornou um hobby. Foi nessa época que decidiu fazer faculdade de medicina.

INICIOU O CURSO DE MEDICINA COM 30% DA VISÃO

Paulistano, mas morando no Rio, optou pela UERJ (Universidade do Estado do Rio de Janeiro). Começou o curso depois de explicar sua condição aos professores. Como ainda tinha cerca de 30% da visão, ia bem nas provas, mas não em todas as matérias. Nas aulas de anatomia, não via o alfinete espetado em estruturas muito pequenas de órgãos humanos como o rim. O problema foi resolvido quando o professor o deixou tatear as peças na hora da avaliação.

Convidado para falar sobre a carreira de médico a um grupo de jovens cegos, ouviu um deles dizer que é possível fazer qualquer coisa sem enxergar, até ser piloto de avião. "Você está errado. A gente tem que encarar a realidade. Um pé de manga não vai dar maracujá. A gente tem que respeitar as limitações", ponderou. "A gente tem que dar exemplo. Não pode, porque passou uma dificuldade grande na vida, sentar-se, chorar e arrumar uma aposentadoria por invalidez. Acho que o exemplo melhor é tentar continuar. Dentro do que for possível.". – (SIC).

MINHA CONCLUSÃO

A história desse endocrinologista cego, que não se permite o exercício da danosa vitimização, me fez lembrar de uma belíssima animação japonesa que mexe com os sentimentos dos cinéfilos, iguais a mim, durante toda sua duração ao mostrar a face perversa e compassiva do ser humano. Trata-se do filme animado “A voz do silêncio" dirigido por Naoko Yamada.

Nessa película, os minutos iniciais são particularmente difíceis de serem assistidos pelo fato de “bullying”, especialmente na infância, ser algo tão absurdamente cruel e desprezível, mas a jornada de redenção do Shoya foi bem construída, assim como a percepção e relação (nada simples de ser compreendida) dos demais personagens acerca da deficiência auditiva da Shouko.

A história do responsável Dr. Ricardo, quando disse: "A gente tem que encarar a realidade. Um pé de manga não vai dar maracujá. A gente tem que respeitar as limitações". – (SIC) também é comovente e com um final feliz. A saga desse notável ser humano comprova sua resiliência e é menos dramática pela determinação estribada na oportunidade bem utilizada.

Quando eu escrevi e publiquei o texto: “OS FORTES MERECEM CONQUISTAS JUSTAS!” asseverei e aqui repito:

“Não subestime sua competência e não queira ser o (a) único (a) feliz possuidor (a) de um oásis permanente no deserto escaldante, mas mantenha-se forte nas suas crenças e convicções para saciar sua sede de vontade progressiva, justa e merecida por mérito exclusivamente seu! Cultue a fé e a esperança para ser feliz e forte porque só os fortes que não sublimam trivialidades materiais fugazes vencem dificuldades e merecem conquistas justas.”.

Por fim, há quem diga que em todas as vitórias, em todas as conquistas, o reconhecimento e o abraço mais estimulante é sempre o da pessoa amada reforçado pelo da família. Não discordo dessa assertiva, mas o seu reflexo brilhante no espelho da vida é o melhor exemplo de merecido progresso.

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NOTAS REFERENCIADAS

– Textos livres para consulta da Imprensa Brasileira e “web”;

– Texto de Sibele Oliveira em colaboração para o TAB, de São Paulo;

– Assertivas do autor que devem ser consideradas circunstanciais e imparciais.