Ainda bem que as coisas mudam

Se há algo que podemos dizer é que é ótimo as coisas mudarem. As mudanças fazem as pessoas e sociedades evoluírem. Algumas pessoas se recusam a aderir às mudanças porque toda evolução envolve alguma destruição, mas precisamos entender que não dá para mudar nada sem destruir alguma coisa. No caminhar constante, vão sendo destruídos conceitos e ideias e isso realmente pode deixar muita gente – especialmente os mais conservadores – insegura. Certas pessoas, criadas dentro de determinados valores, adoram dizer que no tempo delas não era assim. Porém, tudo precisa mudar.

Um exemplo de que é ótimo saber que tudo muda é o do bullying. Antes, era fato normal e corriqueiro nas escolas e as autoridades escolares pouco ou nada faziam a respeito. Hoje, entendemos que o bullying é um problema que deve ser combatido pelos pais e educadores. Ainda há muito que precisa ser feito, mas só o fato de hoje se reconhecer que essa prática covarde não deve mais ser tolerada é um grande avanço. Também podemos falar de como foi positiva a mudança em relação aos alunos com problemas de aprendizagem. Antes, quando pouco se sabia a respeito de dislexia e déficit de atenção, as crianças que não conseguiam acompanhar as explicações dos professores ou fazer as lições na velocidade em que era exigido eram logo tachadas de “lentas” e “pouco inteligentes”. Hoje, reconhece-se que cada pessoa tem seu ritmo de aprendizagem (que deve ser respeitado) e já se fala em como proporcionar a alunos com dislexia ou déficit de atenção uma assistência especial para que consigam aprender.

Vale apontar para o fato de que antes era considerado normal que os pais e até os professores batessem nas crianças e adolescentes, pois a surra era vista como uma maneira de educar. Muitas pessoas maduras lembram de quando apanhavam dos pais com cinto, chineladas e até com mangueira e vara. E era comum os professores castigarem fisicamente os alunos com a palmatória (aplicada principalmente quando uma criança não respondia corretamente uma lição), régua ou então mandarem os alunos ajoelharem nos grãos de milho ou sentarem em um canto com o chapéu de burro. Em nossos tempos, embora haja discussões e controvérsias, pois ainda há quem defenda que uma palmada é educativa, muitos são os que dizem que surras e outros castigos que os pais impõem aos filhos não educam, mas causam traumas que podem acompanha-los a vida inteira.

Quem defende os castigos físicos diz que a surra, dentro de um certo limite, serve como punição, porém temos de reconhecer que é muito difícil estabelecer um limite para dizer quando um castigo físico deixa de ser justo e se torna exagerado. Muitos pais, quando vêm a bater nos filhos, é porque não estabeleceram limites antes e recorrem às surras porque os deixaram ir longe demais. Desta forma, eles podem perder o controle e bater com muita força, machucando as crianças ou adolescentes. Embora muitos pais hoje digam que surra serve sim como método punitivo, dizendo que inclusive apanharam dos seus pais, é bom que lembremos que, muitas vezes, quando eles apanharam, acharam injusto e doloroso e com certeza não têm boas lembranças das surras que levaram. E, venhamos e convenhamos, digamos que uma criança, jogando bola, quebre acidentalmente o vidro da janela. O que parece mais justo? Dar-lhe uma surra de cinto ou deixa-la sem mesada para ajudar a pagar o conserto da janela? Esta é uma questão que merece ser discutida.

Um outro sinal muito positivo de como a mudança pode nos ajudar a viver melhor é o reconhecimento da existência do transtorno de personalidade narcisista e de pessoas com personalidade tóxica e abusiva e de como conviver com elas é danoso para a saúde mental. Atualmente, terapeutas discutem sobre o fato de que certas atitudes que antes eram consideradas normais hoje são reconhecidas como tóxicas e desrespeitosas. Antes, uma mãe que fizesse coisas como mexer nas mochilas dos filhos ou ficar por perto para saber com quem os filhos pudessem estar falando ao telefone era normal, atitude de mãe preocupada. Agora, admite-se que é uma atitude invasiva e desrespeitosa.

Também passou a se admitir que pais narcisistas escolhem um filho (chamado de bode expiatório pela ciência) para maltratar, despejando nele seu lixo psíquico. Os terapeutas são praticamente unânimes em dizer que a única maneira de se salvar é se afastando de pessoas tóxicas e narcisistas, porque não há uma chance de ter uma convivência harmônica com elas.

Ainda há muito para se evoluir, mas é ótimo que hoje saibamos muito mais do que nossos antepassados. O conhecimento serve para nos libertar e sermos capazes de nos ajudar e aos nossos próximos. Pensemos em como era antes, quando uma criança se sentia incomodada com a maneira como o pai ou mãe a tratava. Com certeza, essa criança ouviria que tinha que obedecer aos pais. Na atualidade, com os novos conhecimentos que possuímos, crianças que se sentem desrespeitadas e maltratadas têm mais chance de ser ouvidas e de conseguir auxílio porque elas podem estar vivendo em um ambiente familiar disfuncional e nada saudável para seu desenvolvimento como ser humano.