Condecorações Demeritórias

A banalização de condecorações e atribuição de títulos faz com que os verdadeiros heróis fiquem inibidos diante de tantas não merecidas que são distribuídas "à torto e à direito" por aí. São tantas que hoje parecem até ridicularização de quem as recebe, tal qual as pompas com que são feitos os momentos de condecorar.

Algumas das imagens são sobejamente elucidativas para demonstrar a falta de rigor e a trivialidade com que são atribuídos títulos e condecorações mundo afora. Quem efetivamente as merece?

Quando eu vejo um General, um Almirante ou um Brigadeiro (mais raramente Marechais...) cheio de penduricalhos nos uniformes de gala, fico a imaginar quais foram os seus méritos. Fico admirado ou ensimesmado? Por vezes lembram-me mais as Retretas Municipais com uniformes e seus galardões, cuja estética nem sempre combinam com a dos integrantes.

Ora, a história do Brasil está cheia de exemplos de "Títulos Comprados", com ênfase ao período imperial e início do período republicano. Era interessante ter um Título de Marquês, Visconde, Barões e que tais, e na República, ter o nome associado à uma patente militar qualquer. Eram formas de distinção, ou seja, um "distinto" é nada mais que um "diferente" na sociedade, para o bem ou para o mal. Assim sempre se manifestaram as vontades. Sempre me pareceram formas de que essa "distinção" os imbuíssem de um extra poder sobre os demais viventes. Uma forma de psicológica de buscar compensar desequilíbrios intelectuais e mesquinhos, que se manifestavam notoriamente quando querem se "aparecer". Bom, até hoje você tem ouvido a famosa frase: "Você sabe com quem está falando"... A famosa “carteirada”. Sempre há nessas situações uma necessidade de ser aquilo que nunca foi ou será, aí aflora a “obrigação” de “se apresentar” como um “borra-bosta” qualquer, existentes aos montes na sociedade.

As decisões de condecorar deveriam ser somente homenagens póstumas, para que toda a vida do condecorado possa ser olhada como exemplo e não apenas momentos que mais parecem bajulações oportunistas e promovedoras do populismo de personalidades sabidamente medíocres e causadoras de coisas ruins para a sociedade mundo afora.

Mas, qual o que, uma coisa intrigante também é observar que quanto mais condecorados por bajulação são os supostamente mandatários de uma nação, mais miséria e injustiças nelas encontramos. Isto me faz também medir o grau de subjugação das populações dada as suas incapacidades de evolução nas questões de cidadania, devido ao cerceamento de suas possibilidades de ter escolas que possam melhor moldar-lhes o intelecto.

O baiano Afrânio Peixoto nos alertava sobre isso, quando escreveu lá no seu tempo (1876-1947) sobre "O futuro do Brasil", assim registrado:

"As democracias não se compreendem sem a educação do povo que, para exercer o seu direito, precisa conhecer-se e aos seus deveres. Só assim saberá escolher um governo idôneo, que lhe prepare o destino adequado e sobre o qual possa sempre exercer uma influência salutar.

Os povos ignorantes, e por isso imprevidentes, abdicam de si nos outros e votam-se à servidão e ao desaparecimento.

Um Brasil próspero e eterno, que honre a cultura greco-latina, as tradições lusitanas, a sua própria história, das quais deve ter legítimo orgulho, que propague e cultive a língua portuguesa, da qual é depositário, e já hoje o maior responsável, deve ser, para começar, um povo instruído e educado.

Só há um caminho para a conquista da natureza, dos homens, de si mesmos: SABER. Não há outro meio de o conseguir: QUERER."

Inspirado em Almeida Garrett permitam-me também aventar:-

"E tu castor! Róis árvores. Destróis florestas. Mas és labutador. Serás comendador!"

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João Baptista da Silva Leitão de Almeida Garrett, mais tarde 1.º Visconde de Almeida Garrett, foi um escritor e dramaturgo romântico, orador, par do reino, ministro e secretário de estado honorário português.

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Afrânio Peixoto,

Nasceu em Lençóis, Bahia aos 17 de dezembro de 1876, e faleceu aos 12 de janeiro de 1947 (70 anos) no Rio de Janeiros, então Distrito Federal. Foi Médico legista, professor, escritor e político. Foi condecorado (merecidamente) com a Grã-Cruz da Ordem Militar de Sant'Iago da Espada.