EGO CENTRADO
EGO CENTRADO
"Egoísmo não é viver como queremos, egoísmo é querer que os outros vivam como queremos que eles vivam" - Oscar Wilde
Certa vez, declarei não ser egoísta, mas ter o ego centrado. Me explico, ou melhor, Flávio Gikovate, psicoterapeuta, explana bem o que eu gostaria de dizer com essa frase, no artigo “Individualismo não é egoísmo”. Nele, Gikovate faz a distinção entre o individualismo e o egoísmo. O individualismo está relacionado à individualidade, ou seja, a capacidade de nos reconhecermos como unidade mesmo diante da multiplicidade, enquanto o egoísmo está atrelado às pessoas que querem mais receber do que doar.
O individualismo ocorre quando a pessoa é naturalmente altiva, preferindo conservar suas reservas para momentos e relacionamentos nos quais ela se dispõe a partilhar interesses comuns. Não se trata de ser interesseiro, pois o interesseiro está apenas disposto a “sugar” o que o outro tem a lhe oferecer. É direito do individualista cuidar do que lhe valha contanto que não venha a prejudicar ninguém – eles têm noção de seus limites.
É natural que, em um mundo em que a pluralidade cada vez mais reina, soe estranho quando não agimos de forma idolatrada a todos aqueles que clamam por ajuda. Penso que, se ajudássemos a nós mesmos, criássemos autonomia, o mundo seria muito melhor. Por quê? Porque não posaríamos de vitimas. Não nos manifestaríamos como coitados. Sim, somos frágeis, mas é no reconhecimento de nossas fraquezas que nós podemos nos impulsionar para uma ação redentora.
Ninguém quer demonstrar fragilidade e por isso usa a fantasia de egoísta. Será que ser servido é realmente melhor que servir?
Não estarei sendo egoísta se eu pouco esperar dos outros e dar pouco de mim a estes. Não quero cobrar o que não posso dar. Os egoístas se aproveitam dos generosos – daqueles que não se importam com a gratidão. Daqueles que não visam à moeda de troca. O problema é que o egoísmo não se limita a meros favores – ele sequestra, ele ilude, manipula – dá a sensação de autossuficiência, quando, na verdade, se fosse, não precisaria usar suas artimanhas para ludibriar os bondosos.
Gikovate diz que o egoísta “conhece suas limitações emocionais e padece de inveja dos que são verdadeiramente independentes.” Podem até se expressarem autônomos, mas não se enganam. Sofrem calados. Não aceitam ajuda se não a tiver pedido. Perdem-se nas suas frustrações porque não querem admiti-las. São super-homens, mulheres-maravilhas, mas não são homens super nem maravilhas de mulher.
O individualista tem consciência do seu ego e utiliza-o para tomar posse de si e se tornar uma pessoa – com máscara irretirável. E com o modo ser individualista não quero firmar a ideia de que não preciso de ninguém. Longe disso. Preciso, mas me policio para não fazer de alguém o abrigo em que todas as minhas necessidades serão sanada. Certamente – confesso – já fui assim em alguma(s) ocasião(ões) e, por vezes, posso ir nessa direção, por isso preciso estar atento a esse movimento de mão dupla: de mim e a mim. O que sobre dessa relação biunívoca?
O egoísta tem o próprio ego girando em torno de si – sua identidade não tem concretude. O egoísta é marcado pelo “EU”. O individualista é o “Nós” unificado. Em qual perfil você se encaixa? Parece não haver meio-termo. Escolho dar o melhor de mim, mesmo se o reconhecimento não aceitar o convite da minha festa chamada vida. E nesta só permanecerá quem estiver disposto a ser (a)gente.