PRÉ-CRIAÇÃO OU PRÉ-CONSCIÊNCIA
Ser você mesmo, reencontrar a si enquanto ser único (unicidade), proferir a sua voz ou sua palavra nesse mundo, compreender ou tornar consciente o seu plano de alma, não é algo que diz respeito a vontade do ego - "eu quero ser quem eu sou" - mas sim, está diretamente relacionado ao movimento criativo da psique - imagem arquetípica básica. Portanto, é algo natural e inerente ao ser que a medida que se torna mais e mais consciente de si, de sua integralidade, mais encontra possibilidades de ampliação dessa consciência e, portanto, mais se "individua" - torna-se o que se é.
De certo que quando se é consciente de que isso nos é inerente, de que há uma dinâmica criativa natural no universo ou da psique, a contribuição para que esse movimento ocorra com maior "facilidade", é maior. E dizendo de outra forma: a colaboração da CONSCIÊNCIA (não do ego) frente a esse movimento natural, favorece todo o processo, pois, a aceitação torna-se presente, sendo assim, se impõe menos resistência aos desafios.
E nesse agora, sinto que o nosso grande desafio está justamente em "aceitar" que as antigas vestes ou máscaras se tornaram rotas, desgastadas e não cobre mais aquilo que durante tanto tempo, escondemos de nós mesmos. O desafio agora, é se ver nessa nudez, olhar para o que está por baixo dessa roupa que vestimos durante tanto tempo, nos encarar - pessoal e coletivamente. Aliás, é através desse pessoal que em reflexo, tudo começa a ganhar outro movimento, fora. Contudo, sinto que olhando para essa nudez coletiva atual, é possível ver o que individualmente, antes, não enxergamos e disso, nos disponibilizar a "fazer novas vestes".
Sinto que é preciso presenciar que essas roupas antigas não nos serviram como "cuidado" em relação a nossa nudez, mas sufocaram-na e também ajudaram a nos ferir e esconder nossa maldade. Agora não é só a hora da cura dessa feridas, mas também a hora de "fazer vestes que não mais sufocam", mas sim, guardam ou cuidam. Vestes estas que de forma leve nos permita, vez ou outra, contemplarmos nossa nudez e cuidar da mesma, limpando e curando.
Não é possível viver nu nesse mundo, mas é possível termos novas vestes que nos auxilie em relação aos cuidados e não nos machuque ou ajude a deixar escondido, sufocando aspectos que se voltam contra nós mesmos e não queremos admitir que é em todos nós.
Estas vestes se espelham em nossa conduta íntima (crenças) que se refletem em nossos comportamentos. Comportamentos estes que polimos tanto para não denunciarmos estas intimidades encobertas. São estas vestes que se desgastaram, tornaram-se rotas e nossa nudez reclama por outras, mais adequadas, a partir daquilo que conseguirmos ver de nós mesmos.
Estas vestes semearam uma forma de convivência, várias relações se sustentaram e se sustentam ainda nas mesmas, porém, ao se desgastarem começam ou estão trazendo movimentações para essas relações e convivência. Estamos distanciados - pensando no distanciamento social, simbolicamente - uns dos outros para que possamos ver estes desgastes, essas roupas que não nos servem mais. E isso é positivo quando pensamos que estamos vendo o que precisa ser refeito, renovado ou reconstruído. Nisto, há a possibilidade de uma convivência ou relações melhores.
Alguns dizem que estamos no caos e podemos tomar essa fala de forma simbólica e vendo o quanto estamos "num estado de pré-criação" ou "pré-consciência". Estamos na indiscriminação do "Paraíso", onde certos aspectos se "misturam" ou estão tão juntos (unidos) que não conseguimos ver, ouvir ou discernir nada - o caos da inconsciência. Estamos sendo tentados pela serpente que hora nos parece boa, hora nos parece ruim, estamos no conflito primordial do que fazer, por onde ir e a quem acreditar, em que confiar. Essa serpente é sabedoria, mas também nos leva a pecar contra a essa indiscriminação, através da consciência que retira todas as vestes dos nossos olhos e isso implica, ser expulsos do "Paraíso" e concretamente, talvez, nos defrontar com tudo que acreditamos até o momento.
O que talvez não conseguimos ver, devido a tanta movimentação íntima e externa (caos), é que além da árvore proibida, também há árvore da vida, protegida e assegurada por inúmeros guardiões e que esta ainda encontra-se intocável e que tudo isso, é dentro de nós.
A consciência, não rejeita nada, contudo coloca "as coisas" no lugar, dentro de nós, primeiramente. Por isso, está para além do ego, não é querer, mas sim está aí, estamos vivendo e somente através, da consciência sobre si, sobre a nossa realidade pessoal, atravessando a nossa nudez, nos será possível refazer as vestes para os novos tempos que se indiscrimina, para renascer.
Kátia de Souza - 18/06/2021
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