Questão de gênero
Não sou estudioso das questões de gênero, perdoem-me os especialistas se vou parecer aqui demasiado leigo ou repetitivo de reflexões já manifestadas alhures. Sou geólogo, graduei-me e amadureci profissionalmente lidando com questões afeitas à Geologia, uma ciência natural, não há muito tempo dissociada da Biologia. Ainda há muito que une estas duas ciências naturais. Evolução das Espécies e Paleontologia ainda são disciplinas pertencentes aos currículos das duas graduações.
Como geólogo, aprendi muito com a natureza; principalmente que ela é sábia e parcimoniosa. Os fenômenos e processos naturais têm firmes razões de ser, têm propósito. A natureza é muito mais consequente naquilo que faz do que os arroubos do ego humano. E é mais do que sabido que vivemos a civilização do egocentrismo, do antropocentrismo, do androcentrismo, em que a descabida cobiça humana está comprometendo o equilíbrio natural. A natureza já nos dá mostras de que está desencadeando processos novos em resposta à nossa insensatez. E o ineditismo destes processos põe em risco a própria sobrevivência humana. Não seria a primeira vez na história do planeta que a natureza promoveria extinções em massa, em nome da evolução do milagre da vida.
Respaldado nestas lidas com a natureza do planeta, ouso opinar sobre a natureza humana. O gênero é um construto social e cultural, ou é um atributo natural? Deve-se defender a liberdade do indivíduo, seja qual for seu sexo, de escolher sua identidade de gênero? Deve-se estimular a aceitação do gênero que a natureza lhe atribuiu?
Acredito que o sexo com o qual nascemos não é um acaso, ele resulta de alguma talvez desconhecida razão, que vem acrescentar desafios a este aprendizado na escola da vida. Creio sim que a todos nós é dada a liberdade de escolher se aceitamos ou não o sexo que a natureza nos atribuiu. Creio que todos, em algum momento da vida, enfrentamos o dilema da difícil escolha da nossa afirmação sexual. Ainda que tal dilema tenha se refugiado no mais íntimo e secreto da nossa consciência. Não é fácil aceitar a feminilidade num mundo machista e misógino. Não é fácil aceitar a masculinidade num mundo em que a sensibilidade e a delicadeza são tidas como fraquezas ou atributos exclusivos do outro sexo.
Talvez o determinante na hora da escolha de nossa identidade de gênero seja o arbítrio de nosso ego. Ele pode ou não submeter-se à prévia escolha da natureza, que não nos perguntou com qual sexo gostaríamos de nascer. Talvez o aprender a lidar com nosso ego seja o principal desafio da vida, em todas as dimensões de nossa existência, não somente nas questões de gênero. Então talvez o ego que se recusa a aceitar seu sexo corpóreo e decida enfrentar todo o preconceito contra os “transviados sexuais” já esteja sendo submetido à sua mais árdua lição na vida. E a natureza tenha tido o capricho de atribuir-lhe justamente o sexo capaz de desencadear o conflito libertador. Sim, o desígnio da natureza é libertar. Desde o Big Bang ela expande, transforma, diferencia, cria toda a diversidade que conhecemos hoje, e que continua multiplicando-se. Esta diversificação é outra grande lição da natureza.
Então, como lidar com as questões de gênero? Repressão ao “diferente”? Liberdade e respeito incondicional? Ou trata-se ainda de assunto muito pouco estudado e compreendido?
Acho que ainda temos muito que aprender a respeito.