OS LIMITES DE TODOS NÓS

Prólogo

Na sociedade atual em que vivemos somos instigados a ultrapassar nossos limites, ir além daquilo que podemos dar conta, e quase não percebemos que não respeitar nossos limites tem sido prejudicial a nossa saúde mental.

Pessoas extremamente otimistas ou esperançosas em demasia dizem: “Os limites que impomos a nós mesmos na realidade não existem. São apenas crenças que fomos adquirindo desde que éramos crianças.” — Discordo em parte.

Discordo por saber que há deficiências físicas ou mentais tão severas que limitam seus portadores ao extremo. Ademais, existem as limitações socioeconômicas, culturais, ambientais (provocadas pela natureza). Algumas dessas limitações podem ser superadas no todo ou em parte, mas há outras que obstam totalmente as mais gratificantes iniciativas.

Ora, é sabido e comprovado que todos nascemos com uma genética que nos ajuda a fazer algumas tarefas melhor do que outras, mas isso não quer dizer que tenhamos que desistir das atividades em que somos menos capazes. Portanto, entendo ser a genética a origem primária dos nossos limites.

O EXEMPLO DE UM CONHECIDO

Graduado em Ciências Jurídicas e Sociais – Direito –, Celestino Medeiros (Nome fictício em respeito à ética - Nota do Autor) se submetia aos exames da OAB todos os anos depois de se graduar. Reprovado por cinco anos seguidos e já com a sensação de incompetência latejando em sua mente jovem, Celestino me procurou chegando em minha casa de inopino.

— Bom dia Dr. Wilson. Sei que o senhor é advogado com registro na OAB e vim lhe pedir um conselho.

— Bom dia! Deixe o doutor aí fora e entre para tomar um café comigo – o relógio do visitante marcava 8h:37 min. Do que se trata? – Indaguei curioso. Os trajes simples do visitante não deixavam dúvidas: tratava-se de alguém, COMO TODOS QUE ME PROCURAM (Grifei), merecedor de todas as minhas atenções socioprofissionais possíveis.

— Desculpe-me por chegar sem avisar. Sou quase seu vizinho. Moro bem perto da sua casa. Se o senhor não puder me atender agora voltarei em outra ocasião.

— Entre. Vamos conversar. – A educação do visitante me convenceu e o assunto parecia ser urgente. Resumidamente ele me disse muito sério:

— Sou bacharel em direito há cinco anos, mas já tentei fazer o exame de ordem cinco vezes e não consegui passar. Gostaria que o senhor me dissesse quais são as matérias mais importantes para eu ser aprovado. Estudo feito um louco, todas as matérias, mas por não conseguir ser aprovado estou querendo desistir. Qual a sua orientação?

Fiquei tentado a dizer: “Estude mais e durma menos”, mas se ele disse “Estudo feito um louco” seria o caso de uma análise mais criteriosa desse suposto excesso de estudo.

— Você estuda de acordo com as matérias elencadas para o certame? Se sim... Ótimo! Você já dispõe de uma boa bagagem. Vou lhe transferir por e-mail algumas provas de alguns anos anteriores, mas antes lhe darei uma orientação valiosa. Além das matérias que você normalmente estuda procure estudar Direito Constitucional e Direito Administrativo.

— Ah! Dr. Estas são as matérias que eu menos gosto. Seria essa minha falha?

— Provavelmente. – Anuí efusivo por entender haver descoberto a provável causa de tantas reprovações para quem dizia “estudar feito um louco”. Tomamos um café. Conversamos mais um pouco. Trocamos e-mails para eu fazer a remessa de provas de concursos anteriores e lhe garanti que nesse próximo exame da OAB, no que dependesse de mim, ele seria aprovado.

Seis meses depois ele me procurou pessoalmente para me convidar para a entrega de seu registro na OAB. O documento será entregue em uma cerimônia solene, onde o bacharel terá que assumir um compromisso legal com o Estatuto da OAB. Com a inscrição feita na Ordem, o bacharel se transforma em advogado e está pronto para começar a advogar!

Enfim, o limite do colega advogado Celestino Medeiros (Nome fictício em respeito à ética - Nota do Autor) foi superado com algumas dicas ou orientações necessárias e pertinentes ao caso.

Por sermos todos limitados, em maior ou menor grau de limitação, necessitamos sempre de algum amigo que eventualmente possa nos perguntar: “Posso lhe ajudar em algo?”. Nessa ocasião é necessário ser humilde e pedir ajuda. Reconhecer nossas limitações é essencial!

UM EXEMPLO PESSOAL

Igual a todas as pessoas tenho meus limites! Aliás, tenho mais limites do que muitas outras pessoas. Ocorre que essa minha limitação extrema é usada PARA SUPERAR LIMITES! Certa ocasião alguém me perguntou: "Qual foi o maior desafio que o senhor enfrentou na caserna, isto é, durante o serviço ativo?".

Respondi sem titubear: Há quem trabalhe numa empresa privada ou pública, ou de economia mista; sirva à Pátria por longo tempo e quando se aposenta ou vai para a reserva verifica que não deixou algo substancial, marcante, útil e necessário por ocasião de sua permanência durante o serviço ativo. Não foi o meu caso!

Empáfia à parte, utilizando o aplicativo "access", da Microsoft, cujos módulos facilitaram sobremaneira minha tarefa, desenvolvi e implantei o Sistema de Cadastro e de PNR/2ª Sec. e, depois de estudar a linguagem HTML, utilizei o valioso aplicativo FrontPage para preparar a página eletrônica da Prefeitura Militar de Brasília - PMB. A missão me foi confiada. Portanto, haveria de ser cumprida!

NÃO TENHO FORMAÇÃO DE ANALISTA DE SISTEMAS

Esse trabalho e estudo, silentes, durante as madrugadas sem-fim, fez com que eu concluísse a difícil, mas não impossível missão de elaborar a "Home Page", isto é, a Página Eletrônica da Prefeitura Militar de Brasília - PMB. À época considerei esse o meu maior desafio!

É de bom grado escrever que não tenho a formação de Analista de Sistemas (Graduação em Ciências da Computação e Sistemas de Informação). É oportuno, ainda, afirmar: Em Ciências da Computação e outras matérias sou um autodidata recalcitrante e intimorato exatamente por reconhecer minhas limitações.

Eu precisava superar meus limites estudando diuturnamente HTML, PHP, e Java Script. Conseguir hospedar a "Home Page" da PMB nos servidores do Estado-Maior do Exército (EME) foi o meu melhor trabalho enquanto eu estava no serviço ativo do Exército, sem desmerecer alguns outros não menos relevantes. Para acessar minha obra prima eis o link: http://www.pmb.eb.mil.br/

OUTRO EXEMPLO DE DETERMINAÇÃO

Joaquim Barbosa, ou Joca, seu apelido, saiu de Paracatu (MG) no começo dos anos 1970. Tinha 16 anos. Queria fugir da pobreza e estudar. Acabou fazendo um bico de faxineiro em um tribunal de Justiça em Brasília antes de entrar na profissão de digitador na gráfica do Senado. Trabalhava à noite, digitando textos para o Jornal do Senado, enquanto terminava o antigo 2º grau em uma escola pública.

Logo depois, passou no vestibular de Direito na Universidade de Brasília (UnB). Nascido em família pobre, Joaquim Barbosa foi faxineiro como a mãe, digitador em gráfica, estudante de Direito em universidade pública.

Depois vieram o mestrado e o doutorado no exterior, o cargo de procurador da República, ministro do Supremo Tribunal Federal — (STF) e, depois, a presidência da Corte - também o primeiro negro nessa cadeira.

Irascível, ele não é uma pessoa de diálogo. Pessoalmente eu vejo o Joaquim Barbosa como um “casca grossa” e muito mal-educado, mas o tenho como exemplo de resiliência e determinação.

Em sua passagem pelo STF, de 2003 até 2014, Barbosa deixou a fama e um rastro de intransigente e de ter pouco traquejo no convívio com advogados e colegas da magistratura. (Neste artigo não está em discussão os caracteres pessoais de quem quer que seja. Nota do Autor).

CONCLUSÃO

Essa é uma prova irrefutável de que todos nós, independente de condição socioeconômica, raça, credo, cor, ideologia política, grau de estudo e outros... Somos limitados e quase sempre não enxergamos ou não queremos enxergar essa limitação.

Independente das nossas limitações o tempo e tudo o mais passa. Nossos filhos e filhas, crianças de outrora, crescem e ficam adultos e nós nos transformamos em velhos emotivos, saudosos, ranzinzas e/ou benevolentes com os acomodados escudados em seus limites reais ou imaginários.

Não existe nada de errado em admitirmos nossas limitações e fracassos passados, pois realmente todos nós os temos. Eu diria que os admitir é essencial. Todos temos limitações. E, às vezes, elas nos fazem sentir inadequados, impotentes, incapazes para os desafios que estão diante de nós.

Deus, porém, insiste conosco – crédulos e incrédulos – gratos ou ingratos – apesar das nossas limitações. Enfrente, estude e peleje; tente conhecer suas limitações, mas confie naquele em quem podemos confiar. Caia, levante-se e volte a caminhar... Não desista nunca!

O leitor amigo precisa subir uma escada com dez degraus e ficou cansado no 5º degrau? Não desça. Suba os demais cinco degraus e atingirá o seu propósito! Na medida em que você for dando os passos, por menores e mais inseguros que sejam, Deus iluminará os seus caminhos e lhe dará forças para você chegar aonde merece chegar.

____________________ NOTAS REFERENCIADAS

– Textos livres para consulta da Imprensa Brasileira e “web”;

– Assertivas do autor que devem ser consideradas circunstanciais e imparciais.