BRANQUITUDE - O PRETO NO BRANCO
BRANQUITUDE - O PRETO NO BRANCO
A escravidão deveria ser matéria obrigatória nas Escolas públicas, muitos países lucraram com ela, sem se importar minimamente com a quantidade de mortes que isso provocou. Era pouco: havia métodos de tortura para os rebeldes e um tratamento infame nas senzalas, a comida sendo apenas banana com farinha, "farelo", o ano todo. A culinária de origem africana que fez a Bahia famosa no país inteiro viria depois da Abolição, 1888, dificilmente como escravo teria o Negro material ou condições (acesso a legumes, a um fogão, panelas) dentro das senzalas para mostrar seus dotes culinários. Sim, escravas cozinhavam para seus donos, senhores... provavelmente receitas reinóis, bascas, árabes também. (Foi nos "cantos", nas esquinas das cidades que as "futuras BAIANAS" mostraram suas qualidades culinárias, "ganhando o pão de cada dia com doces e salgadinhos.)
O estudo de tráfico negreiro é necessário para entendermos as raízes que criaram o RACISMO e o sustentaram até nossos dias: era preciso tirar do Negro a aura de humano, "coisificá-lo" e mesmo ODIÁ-LO ! Nesse ódio "ao homem de cor" está a "justificativa" para a escravidão... dizem que haveria um padre -- num porto africano qualquer -- a batizar cativos... para quê ?! Ainda que real tal estória, serviria para quê ? Mudar-lhes o nome tribal ? Salvar-lhes a ALMA que a própria Igreja "cristã" afirmava não terem ? Vejo somente como mais uma sandice das Religiões, nenhuma delas -- NENHUMA, mesmo -- preocupada em verberar ou impedir a escravidão !
Cantada em prosa e verso, a Abolição -- feita às escondidas do pai, imperador -- fez da Princesa Isabel uma Redentora, porém jogou os "ex-escravos" "na rua da amargura", sem casa, trabalho nem pão. Muitos preferiram continuar na mansão dos antigos patrões e a maior parte foi criar as primeiras favelas nos Morros próximos. Muitos partiram pro assalto puro e simples, a fome é má conselheira... estava ligada "à cor da pele" a pecha de ladrão, estigmatizada desde então.
Enquanto o NEGRO trabalhava, de todos as formas possíveis desde a madrugada, a Sociedade em peso lhes pespegava a pecha de VADIO, de vagabundo, porque os via "parados nos cantos" o dia inteiro, à espera de um serviço salvador. E a Capoeira surgiu nesse contexto, os poucos músicos e artistas negros receberam tais apelidos ! As inúmeras rebeliões surgidas no Brasil precisavam de soldados para combatê-las... tirava-se das cadeias "os vadios e ladrões", negros é claro, alguns também "capoeiras". Na Guerra do Paraguai receberiam a liberdade (1865/67) se voltassem vivos, teriam terras, até. Tudo engodo, nada se cumpriu ! Porto Alegre se encheu de "ex-escravos" da Bahia, Ceará e Maranhão, seus descendentes estão lá hoje.
É urgente ESTUDAR -- para MUDAR e não somente... entender (?!) -- o tratamento que MILHÕES de pessoas negras, ainda hoje relegadas ao abandono de séculos atrás, continuam a receber no Brasil: desprezo e humilhações ! Mesmo os que alcançaram um patamar de sucesso social não têm o apreço da Sociedade majoritariamente branca (será ?), veja-se casos como o de Pelé e dessa Carol Conká, revoltadíssima com tudo o que viveu e amargou e vendo inimigos por todos os lados. O músico Espírito Santo -- aqui no Facebook -- com sua visão privilegiada viu, no especial da TV Globo com a cantora Conká, a "exumação dos ossos" daquela que o "BigBosta" destruíu ! Estivesse a Direção do "realityshow" minimamente preocupada com o futuro da jovem, a chamaria ao "confessionário" -- próprio para conchavos e "acertos" que o público idiotizado não pode testemunhar -- e a aconselharia "dar marcha a ré" naquele "suicídio".
Contudo, nessa "jaula moderna" é preciso ver os "animais bípedes" se engalfinharem, agredirem-se ! Agora, temos uma Carol "domesticada", boazinha (até a página 2), fazendo um "mea culpa" em rede nacional. Interiormente Conká sabe que nem todo o seu dinheiro a "embranqueceu", portanto, continua sendo menosprezada e detestada... por ser negra ! CABELOS são o tema do dia... se um "branquelo" qualquer -- e já recebi tal pecha, uns 20 anos atrás -- usa penteado afro ou rastafári ninguém estranha. Basta "escurecer" um pouco a pele e lá vem preconceito, discriminação, condenação social... "há uma barata aqui"!, diz o doido de Brasília, que 53 milhões puseram no Poder.
Eis que surge no "FACE" um espaço com o título de BRANQUITUDE... o termo tem um inegável tom de sarcasmo ! Também não gosto da expressão NEGRITUDE, soa "separatista", restritiva, "de enquadramento" de um povo inteiro, tem cheiro e gôsto de "apartheid". Pelo menos, foge-se dos antigos NEGRARIA e "negrada", ambos racistas, motivo de porrada justiceira !
Minha impressão inicial é a de que BRANQUITUDE tem um discurso ambíguo, o famoso "morde e assopra" tão comum ao brasileiro, mas não vou bancar o leviano e julgar o espaço sem ler as teses de seu autor. O jovem LOURENÇO CARDOSO "ataca" em todas as frentes: fala dos problemas raciais (ou quase isso... espaço, cotas para os nativos) nas universidades do México -- com 90% da população de ameríndios -- do "Racismo e Anti-Racismo" entre brancos (?!) e traz LIVE de uma senhora branca (de traços espanhóis) falando de BRANCAS baianas que "tomaram de assalto" o AXÉ, estilo de música comercial surgida -- como tudo o mais -- dos toques de atabaque dos ritos do Candomblé. Não vi a LIVE, não li ainda NADA do jovem cujas obras já têm dez anos ou mais "na praça", pelo que vejo, uma delas pelo menos.
Não vou "bancar o racista" COMBATENDO uma iniciativa -- positiva, até onde sei -- sem conhecê-la "in totum", mas me dou ao direito de "recusar" uma teoria de que as "práticas negras" devem ser somente PARA NEGROS... e se êles não as quiserem ? O jovem pobre das periferias -- normalmente negro -- quer praticar uma Capoeira que, em 1989, ouvimos do prefeito local que "era coisa de quem não tem o que fazer" ?! Critico o SINCRETISMO na Umbanda -- adaptação oportunista E BRANCA das crenças do Candomblé, em minha opinião -- porém detestaria ver condenadas as fotos de Pierre Verger, branco francês ou livros sobre a Capoeira porque escritos POR BRANCOS... talvez não tivéssemos nenhum, me parece, no caso inverso, entendendo-se que Waldeloir Rego não seja negro !
"NATO" AZEVEDO (em 9/maio 2021, 5hs)