Kit-Covid: salvação ou danação?
Sou do grupo de risco, ainda não vacinado, e não sou da área de saúde. Procuro orientar-me sobre a Covid através de leituras e algumas poucas conversas. Que confusão! O governo federal propagandeia o tal kit-Covid, um coquetel de drogas para tratamento precoce do coronavírus. Uma tal Associação Médica de Ponta Grossa -- cidade onde moro -- vem a público preconizar o uso do tratamento precoce. Questionado sobre as prioridades no enfrentamento da pandemia, o porta-voz da AMPG alertou que a vacina é prioritária, que seria uma bobagem desviar recursos da compra de vacinas para a aquisição do kit. Deduzo que ele quis dizer que os recursos disponíveis no Município devem ir para vacinas, e não para o controverso kit. Em seguida, a Câmara Municipal da cidade aprova regime de urgência para projeto de lei obrigando a Prefeitura a disponibilizar o kit-Covid para a população. Com quais recursos? Os das vacinas?
Ao mesmo tempo, a Associação Médica Brasileira divulga boletim em que, em primeiro lugar, afirma que a vacinação é a medida ideal para controlar a pandemia, e a seguir assevera que “... medicações como hidroxicloroquina/cloroquina, ivermectina, nitazoxanida, azitromicina e colchicina, entre outras drogas, não possuem eficácia científica comprovada de benefício no tratamento ou prevenção da COVID-19, quer seja na prevenção, na fase inicial ou nas fases avançadas dessa doença, sendo que, portanto, a utilização desses fármacos deve ser banida”. Esse boletim é assinado por inúmeras sociedades de especialistas e associações médicas, entre elas a do Paraná. Ele deixa claro: o kit não é controverso, ele deve ser banido.
Consultando notícias divulgadas pela BBC Brasil, El País Brasil, Folha de São Paulo e outros veículos, vejo que o kit-Covid chega a ser chamado de “kit-ilusão”, pois além de não ter eficácia comprovada, pode trazer graves efeitos adversos, comprometendo fígado e rins. Vejo também que a Organização Mundial de Saúde, a Organização Pan-Americana de Saúde, a ANVISA, órgãos de saúde dos EUA e da Europa condenam o tratamento precoce.
Fico confuso. Afinal, o tratamento precoce é ou não recomendável? Estariam os médicos de Ponta Grossa equivocados? Por qual motivo? E os vereadores, preferem ouvir a associação médica local do que as outras tantas entidades? Aí me lembro que médicos e vereadores são pessoas, e pessoas são influenciáveis e falíveis. Ora, a pessoa do presidente, que defende o kit-Covid, defende também a Terra plana -- embora tenha um ministro astronauta que viajou ao redor do planeta. E já se demonstrou, o negacionismo é traço de personalidades patológicas que alimentam seu doentio narcisismo criando situações polêmicas nas quais possam notabilizar-se.
Apesar de tanta confusão, estou decidido: não vou arriscar meu fígado e meus rins com o kit-Covid, vou esperar a vacina, com todos os cuidados de distanciamento e higienização. E espero que os vereadores tenham a estatura mental, ética e humana que o cargo demanda.