Ninguém tem moral para falar de ninguém
“Antes de falar do seu próximo, observe como está a sua vida, não adianta nada um sujo falando de um mal lavado.”
Gabriel Marques
Quem já leu algum dos muitos livros contando histórias do lendário rei Arthur sabe que a rainha Guinevere era apaixonada pelo famoso cavaleiro Sir Lancelote e que o amor de ambos contribuiu para a ruína do reino. Por que se está falando da lenda do rei Arthur? Porque, em uma de suas muitas versões, As brumas de Avalon – contada sob o ponto de vista de Morgana, irmã de Arthur – dá-se bastante espaço para as mulheres que conviveram com Arthur e uma delas é Morgause, tia de Arthur e mãe do cavaleiro Gawain, que ambicionava reinar sobre Camelot e queria encontrar uma maneira de derrubar o sobrinho.
Morgause, junto com Mordred – filho de Arthur com Morgana – trama para apanhar Guinevere junto com Lancelote e, nesse ínterim, Lancelote, para fugir com a rainha, acaba matando (sem perceber), Sir Gareth, irmão mais novo de Gawain. Mordred, que fora criado por Morgause e tinha Gareth como um irmão, louco de ódio e dor, volta-se contra a mulher a quem até então tinha como uma mãe e diz que ela não tinha moral para falar contra Guinevere, já que sempre fora promíscua enquanto Guinevere, pelo menos, dormia apenas com Lancelote.
O que este tipo de história nos ensina? Que é frequente vermos pessoas falando das outras quando, muitas vezes, também são cheias de defeitos e até piores. Ninguém tem moral para falar de ninguém. Se repararmos bem, todo mundo tem telhado de vidro. Assim como Morgause não podia criticar Guinevere, muitas são as pessoas que são piores do que aquelas a quem criticam. Uma boa história que também mostra isso está na própria Bíblia. Não é preciso nem mesmo ler o Novo Testamento para saber o que Jesus Cristo disse a respeito da mulher apanhada em adultério: “Quem não tiver pecado que atire a primeira pedra.” Com certeza, muitos dos que estavam prontos para apedrejá-la até a morte eram piores do que ela.
É comum, como diz o ditado popular, ver o “sujo falando do mal lavado”. As pessoas criticam e atacam e esquecem-se de cuidar das suas próprias vidas, como se fossem juízes do comportamento e da vida alheia. Seria ótimo que cada pessoa se ocupasse apenas da sua vida e deixasse cada um viver em paz a sua. Mas o que nós vemos são as pessoas agindo como se tivessem moral para apontar dedos e julgar os comportamentos alheios.
As fofocas e intrigas fazem parte do comportamento humano, e a história da mulher apanhada em adultério ensina bem como o ser humano gosta de ver outro ser humano no chão de forma a apontar suas falhas. De fato, o ser humano consegue ser muito cruel. Quantas vezes não vemos pessoas, - que não são nada bonitas – zombando das outras, apontando-lhes os defeitos físicos ou mulheres que estão bem longe de ser modelos rindo das celulites e gorduras localizadas de outras mulheres? Isso é uma maneira bem cruel de esquecer as próprias imperfeições físicas, não?
Todos nós temos defeitos e deveríamos nos ocupar de tentar melhorar como pessoas em vez de ficar a criticar os outros. Ficar apontando as falhas alheias como se não tivéssemos as nossas, além de ser cruel, é altamente hipócrita.