A VIOLÊNCIA POR TRÁS DA CULTURA DO CANCELAMENTO
O processo de formação da humanidade passa, em tempos em tempos, por mudanças profundas no modo de ser e agir dos atores aí envolvidos. Em outrora, o racismo era tolerado como uma espécie de comportamento social de uma época; hoje, embora ainda persista, quando descortinado é amplamente contestado. Os hábitos femininos na contemporaneidade certamente seriam reprimidos no século XX. Entretanto, essa nova perspectiva de enxergar o mundo vem despertando uma postura avassaladora nas pessoas fazendo-as julgar as ideias e os erros alheios, usando a internet como grande palco para promover justiça.
A "cultura do cancelamento" nasceu há alguns anos com a finalidade de amplificar as vozes de grupos socialmente oprimidos e pela a defesa da preservação da natureza. O esquema consistia em ações diretas marcadas em personalidades públicas visando angariar apoio. Em tese, o objetivo proposto por trás do conceito era muito salutar; afinal, como todos sabem, as minorias carecem de adesão em suas lutas diárias. No entanto, o expediente estabelecido foi outro, e o cancelamento virou uma arma de aniquilar reputações e por muitas vezes com viés antidemocrático.
Essa famigerada cultura possui elementos denotando seu nascedouro na própria natureza humana. É inerente a nós o desejo quase bestial de linchar as pessoas. Ao longo da história isso se confirma! Basta-nos lembrar da Inquisição e o espetáculo diabólico de queimar seres humanos em fogueiras. Ali, o entretimento dominical para a população era assistir às cenas com a presença de crianças no entorno, as quais eram incitadas, juntamente aos adultos, a xingarem e cuspirem nas vítimas executadas.
Até na Bíblia encontramos a conduta hostil dos homens. Na passagem do apedrejamento da adúltera, uma multidão tenta dar fim à vida de uma mulher em transgressão matrimonial. Os agressores, nessa e em qualquer situação típica, partem do princípio que eles são puros e veem no outro motivação condizentes para serem atacados, pois quem lincha o está fazendo por uma boa causa. Essa falsa percepção está associada fortemente a uma característica presente desde a construção do brasileiro como gente: a violência.
Sim, o brasileiro é historicamente violento. Contrariando a proposição de Sergio Buarque de Holanda, em Raízes do Brasil, nem de longe somos um povo cordial. Na Terra de Santa Cruz, muito sangue segue derramando encampado por clichês baratos e mascarando às várias guerras civis por aqui ocorridas. Balaiada, Cabanagem, Farroupilhas foram cunhadas como revoltas apenas por reles eufemismo; mas, no tocante, traziam um rastro sangrento denunciando os horrores vividos. Em Canudos, igualmente em sintonia, foi mostrado o quão os compatriotas sabem ser implacáveis quando necessário.
Logo, por simples dedução, compreendemos de onde emerge esse espírito cancelador imbuído de uma vontade quase visceral de impor o ostracismo a quem se negar a concordar com ele. A força motriz movendo essa estrutura perversa é a violência em nós conservada e tão largamente utilizada nas relações, quer seja na vida real ou na internet. Em um País intitulado pacífico, seria razoável esperarmos uma população afeita a paz; contudo a realidade vai em oposição a isso, mostrando-nos a selvageria cultivada em nossos atos, sobretudo quando cancelamos alguém.
Em tempo, é dado o alerta para refletirmos acerca das nossas atitudes perante aos outros e como isso diz mais sobre nós do que o contrário. Trata-se, portanto, de desconstruir esse discurso caótico de cancelar o próximo por capricho pessoal ou por não suportar pensamentos divergentes. Vale ressaltar também a importância dos grupos minoritários continuarem lutando para ganharem espaço na sociedade; não de forma agressiva, buscando apagar seus opositores, e sim trazendo luz ao debate, problematizando as questões de forma madura e impulsionando o alcance do tema. À margem da civilidade, somos meros animais estúpidos.
O processo de formação da humanidade passa, em tempos em tempos, por mudanças profundas no modo de ser e agir dos atores aí envolvidos. Em outrora, o racismo era tolerado como uma espécie de comportamento social de uma época; hoje, embora ainda persista, quando descortinado é amplamente contestado. Os hábitos femininos na contemporaneidade certamente seriam reprimidos no século XX. Entretanto, essa nova perspectiva de enxergar o mundo vem despertando uma postura avassaladora nas pessoas fazendo-as julgar as ideias e os erros alheios, usando a internet como grande palco para promover justiça.
A "cultura do cancelamento" nasceu há alguns anos com a finalidade de amplificar as vozes de grupos socialmente oprimidos e pela a defesa da preservação da natureza. O esquema consistia em ações diretas marcadas em personalidades públicas visando angariar apoio. Em tese, o objetivo proposto por trás do conceito era muito salutar; afinal, como todos sabem, as minorias carecem de adesão em suas lutas diárias. No entanto, o expediente estabelecido foi outro, e o cancelamento virou uma arma de aniquilar reputações e por muitas vezes com viés antidemocrático.
Essa famigerada cultura possui elementos denotando seu nascedouro na própria natureza humana. É inerente a nós o desejo quase bestial de linchar as pessoas. Ao longo da história isso se confirma! Basta-nos lembrar da Inquisição e o espetáculo diabólico de queimar seres humanos em fogueiras. Ali, o entretimento dominical para a população era assistir às cenas com a presença de crianças no entorno, as quais eram incitadas, juntamente aos adultos, a xingarem e cuspirem nas vítimas executadas.
Até na Bíblia encontramos a conduta hostil dos homens. Na passagem do apedrejamento da adúltera, uma multidão tenta dar fim à vida de uma mulher em transgressão matrimonial. Os agressores, nessa e em qualquer situação típica, partem do princípio que eles são puros e veem no outro motivação condizentes para serem atacados, pois quem lincha o está fazendo por uma boa causa. Essa falsa percepção está associada fortemente a uma característica presente desde a construção do brasileiro como gente: a violência.
Sim, o brasileiro é historicamente violento. Contrariando a proposição de Sergio Buarque de Holanda, em Raízes do Brasil, nem de longe somos um povo cordial. Na Terra de Santa Cruz, muito sangue segue derramando encampado por clichês baratos e mascarando às várias guerras civis por aqui ocorridas. Balaiada, Cabanagem, Farroupilhas foram cunhadas como revoltas apenas por reles eufemismo; mas, no tocante, traziam um rastro sangrento denunciando os horrores vividos. Em Canudos, igualmente em sintonia, foi mostrado o quão os compatriotas sabem ser implacáveis quando necessário.
Logo, por simples dedução, compreendemos de onde emerge esse espírito cancelador imbuído de uma vontade quase visceral de impor o ostracismo a quem se negar a concordar com ele. A força motriz movendo essa estrutura perversa é a violência em nós conservada e tão largamente utilizada nas relações, quer seja na vida real ou na internet. Em um País intitulado pacífico, seria razoável esperarmos uma população afeita a paz; contudo a realidade vai em oposição a isso, mostrando-nos a selvageria cultivada em nossos atos, sobretudo quando cancelamos alguém.
Em tempo, é dado o alerta para refletirmos acerca das nossas atitudes perante aos outros e como isso diz mais sobre nós do que o contrário. Trata-se, portanto, de desconstruir esse discurso caótico de cancelar o próximo por capricho pessoal ou por não suportar pensamentos divergentes. Vale ressaltar também a importância dos grupos minoritários continuarem lutando para ganharem espaço na sociedade; não de forma agressiva, buscando apagar seus opositores, e sim trazendo luz ao debate, problematizando as questões de forma madura e impulsionando o alcance do tema. À margem da civilidade, somos meros animais estúpidos.