Uma trajetória de insucesso

Estou aqui pensando em tudo o que vivemos... quase um ano se passou estamos aí, ainda batendo recordes de mortes e contaminação. Quanto negacionismo... quanta irresponsabilidade... e quantas “pérolas” garimpadas nas frases do “nosso” chefe do executivo!

São tantas que dá até para perder a conta, ou perder-se no meio de tantas asneiras e besteiras. É tanta incoerência no que diz e desdiz. Sem análise, podemos pensar em que contextos tudo isso foi dito? Eu lhes digo: em meio a uma pandemia que assolava e que ainda assola o país.

27 de fevereiro

“Estamos tendo problemas aí com esse vírus, o coronavírus. O mundo todo está sofrendo”, disse após o anúncio do primeiro caso.

6 de março

Com 15 casos registrados, ele afirma: “ainda que o problema possa vir a se agravar, não há motivos para pânico”

10 de março

Quando o Brasil passou de 40 casos, declara: “Temos uma pequena crise, no meu entender muito mais fantasia. A questão do coronavírus não é tudo o que a mídia propaga”. Não foi só fantasia, infelizmente!

11 de março

“O que eu ouvi do mundo todo é que outras gripes mataram mais do que essa”, disse no dia em que a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou a pandemia

15 de março

“Com toda certeza, muitos pegarão isso, independentemente dos cuidados que tomem. Isso vai acontecer mais cedo ou mais tarde. Devemos respeitar, tomar as medidas sanitárias cabíveis, mas não podemos entrar numa neurose, como se fosse o fim do mundo”.

“Tivemos vírus muito mais graves que não provocaram essa histeria. Certamente tem um interesse econômico nisso. Em 2009 teve um vírus também e não chegou nem perto disso. Mas era o PT no governo aqui e os democratas nos Estados Unidos”. Qual foi esse vírus? Não o encontrei em toda história.

16 de março

“Se eu me contaminei, isso é responsabilidade minha, ninguém tem nada a ver com isso”, respondeu ao ser questionado sobre os seus exames.

17 de março

"Não vou viver preso dentro do Alvorada. Se eu resolvi apertar a mão do povo, é um direito meu, eu vim do povo. Tenho obrigação de saudar o povo". de que povo foi esse que ele veio?

19 de março

“Alguns achavam que a gente deveria suspender o carnaval. Tivemos já um exemplo, esses dias, um governador quis impedir os brasileiros de irem à praia. Não só foi um fracasso, bem como aumentou o número de pessoas que foram à praia”.

“É grave, é preocupante, mas não chega ao campo da histeria ou de uma comoção nacional. E é dessa forma que nós encararemos essa questão”

20 de março

Com 991 casos e a primeira morte, o presidente disse: “Depois de uma facada não vai ser uma gripezinha que vai me derrubar”.

21 de março

“Reconheço a seriedade do problema e o temor de muitos brasileiros. O governo segue trabalhando e tomará todas as medidas possíveis para o combate ao coronavírus”, afirmou em pronunciamento à nação.

“Agora há pouco, os profissionais do hospital Alberto Einstein (sic) me informaram que iniciaram protocolo de pesquisa para avaliar a eficácia da cloroquina nos pacientes com Covid-19. (...) Tenhamos fé que em breve ficaremos livres desse vírus”. Infelizmente, não ficamos.

22 de março

"É uma crise fabricada pela imprensa. Não existe atrito, mas uma conversa entre nós. Ele (Mandetta) sabe que uma população em depressão perde imunidade e fica mais propensa a doenças".

“Por várias vezes a imprensa queria que eu fizesse a terceira prova. Falei que estavam muito preocupados com a minha saúde e, depois de uma facada, estou tranquilo com esse vírus. Eu falei que seria uma ‘gripezinha’ para mim”.

23 de março

Ao defender a necessidade de flexibilizar o isolamento, o presidente afirmou: “As vidas das pessoas estão em primeiro lugar. Agora, a dose do remédio não pode ser tão alta porque o efeito colateral pode matar o paciente”.

"Brevemente o povo saberá que foi enganado por esses governadores e por grande parte da mídia na questão do coronavírus". Quem dera tivéssemos sido enganados!

24 de março

“Pelo meu histórico de atleta, caso fosse contaminado pelo vírus, não precisaria me preocupar. Nada sentiria, ou seria, quando muito, acometido de uma gripezinha, de um resfriadinho”, afirmou em um pronunciamento à nação

Crítica a governadores: “Algumas poucas autoridades estaduais e municipais devem abandonar o conceito de terra arrasada”.

25 de março

“O que estão fazendo no Brasil, alguns poucos governadores e prefeitos é um crime. Outros vírus mataram mais do que este e não teve essa comoção toda”.

26 de março

"Mas acreditamos nos médicos, enfermeiros, pesquisadores, e esse Reuquinol [nome comercial da hidroxicloroquina no Brasil], se Deus quiser, vai ser confirmado como remédio para curar a covid-19. E com o remédio, vai embora essa histeria implantada pelo Brasil. Que não foi implantada pela imprensa, foi o Papai Noel, o Saci Pererê".

“Ele [o brasileiro] não pega nada. Você vê o cara pulando esgoto ali. Ele sai, mergulha e não acontece nada com ele”.

“Aplica logo [a hidroxicloroquina], pô. Sabe quando esse remédio começou a ser produzido no Brasil? Ele começou a ser usado no Brasil quando eu nasci, em 1955. Medicado corretamente, não tem efeito colateral”

27 de março:

“Tem um estado aí que orientou por decreto que, em última análise, se não tivesse uma causa concreta do óbito, bota lá (coronavírus)”.

“Não estou acreditando nesses números [de mortes divulgadas pela Secretaria de Saúde de São Paulo]”.

2 de abril:

“Eu desconheço qualquer hospital que esteja lotado. Não é isso tudo que estão pintando”. Quantos será que ele visitou?

9 de abril:

“O médico não abandona o paciente, mas o paciente troca de médico. Você vai com um médico e ele receita algo que não vai dar certo, o que pode acontecer. Você tem todo o direito de trocar de médico, com todo o respeito aos profissionais. Então eu repito: o médico não abandona o paciente, mas o paciente pode trocar de médico". Recado ao ministro

10 de abril:

“Fui tomar sorvete e fazer teste de gravidez”, ao ser perguntado sobre ida ao HFA”

“Eu tenho o direito constitucional de ir e vir. Ninguém vai tolher minha liberdade de ir e vir”.

12 de abril

Apesar do aumento nos números de casos, ele declarou: “parece que o vírus começa a ir embora”. E o vírus permaneceu.

16 de abril:

“Dizem que 60% dos brasileiros foram ou serão infectados, e a partir desse momento poderemos dizer que estamos livres do vírus, tendo em vista esse percentual grande de pessoas que conseguiram os anticorpos. A mensagem é cuidar dos idosos, que têm comorbidades, e as demais pessoas não precisam se apavorar”.

20 de abril

“Ô cara, quem fala de...Eu não sou coveiro, tá certo”. Não é mesmo, não tem competência para tanto.

28 de abril

"Lamento a situação que nós atravessamos com o vírus. Nos solidarizamos com as famílias que perderam seus entes queridos, que a grande parte eram pessoas idosas, mas é a vida. Amanhã vou eu. Logicamente que a gente quer, se um dia morrer, ter uma morte digna, né? E deixar uma boa história para trás"

“As mortes de hoje, a princípio, essas pessoas foram infectadas há duas semanas. É o que eu digo para vocês: o vírus vai atingir 70% da população, infelizmente é a realidade. Mortes vão haver. Ninguém nunca negou que haveria mortes"

“E daí? Lamento. Quer que eu faça o que? Sou Messias, mas não faço milagres”.

7 de maio

“Estou cometendo um crime. Vou fazer um churrasco no sábado aqui em casa. Vamos bater um papo, quem sabe uma ‘peladinha’, alguns ministros, alguns servidores mais humildes que estão do meu lado".

8 de maio

“Tá todo mundo convidado aqui. 800 pessoas no churrasco. Tem mais um pessoal de Águas Lindas, serão 900 pessoas confirmadas. Tem mais um pessoal de Taguatinga. 1100. Vai estar todo mundo aqui amanhã? 1300 pessoas no churrasco”.

19 de maio

"Quem é de direita toma cloroquina. Quem é de esquerda toma Tubaína”. Não esquece mesmo a ditadura...

22 de maio

"O que esses caras fizeram com o vírus, esse bosta desse governador de São Paulo, esse estrume do Rio de Janeiro, entre outros, é exatamente isso. Aproveitaram o vírus, tá um bosta de um prefeito lá de Manaus agora, abrindo covas coletivas. Um bosta”

3 de junho

“A gente lamenta todos os mortos, mas é o destino de todo mundo”

5 de junho

“O Jornal Nacional gosta de dizer que o Brasil é recordista mortes”.

“Acabou matéria no Jornal Nacional”. Quando o Ministério da Saúde mudou o horário da divulgação dos dados da Covid-19

10 de junho

“Se quiser falar, sai daqui, porque já foi ouvida”. “Cobre do seu governador” Respondendo a uma mulher sobre os números da Covid.

7 de julho

"Pra vocês [mais jovens] a possibilidade de algo mais grave é próximo de zero".

9 de julho

“É um testemunho meu. [A hidroxicloroquina]. Deu certo e estou muito bem. Aqueles que criticam, apresentem uma alternativa".

"Tem centenas de relatos de médicos e de infectados dizendo que ela [a hidroxicloroquina] deu certo. Quem não quiser tomar, não toma, mas não fica aí querendo proibir".

10 de julho

“Tivemos lá um médico [Mandetta como ministro], um primeiro médico lá, olha a desgraça que foi".

17 de julho

“Então houve uma neurose no tocante a isso daí. Ninguém disse que ninguém ia morrer por causa do coronavírus. Tanto ia como está morrendo, infelizmente. Agora alguns acham que tinha como diminuir o número de óbitos. Diminuir como?"

20 de julho

"O Brasil está mudando, demos azar com essa pandemia, mas vamos sair dessa”.

23 de julho

"Mais cedo ou mais tarde vai se chegar numa conclusão [sobre a eficácia da hidroxicloroquina]. Mas quem quiser prescrever, prescreve. É uma decisão do médico e do paciente”.

30 de julho

"Pessoal, se fala muito da vacina da Covid-19. Nós entramos naquele consórcio lá de Oxford. Pelo que tudo indica, vai dar certo e 100 milhões de unidades chegarão para nós. Não é daquele outro país não, tá ok, pessoal? É da Oxford aí".

6 de agosto

"A gente lamenta todas as mortes, está chegando ao número 100 mil... mas vamos tocar a vida e buscar uma maneira de se safar desse problema”.

9 de agosto

“De forma covarde e desrespeitosa aos 100.000 brasileiros mortos, essa TV festejou essa data no dia de ontem, como uma verdadeira final da Copa do Mundo, culpando o Presidente da República por todos os óbitos". Mas, se não é do presidente, a culpa é de quem?

13 de agosto

"Um órgão de imprensa grande me acusou de ser o responsável por 100 mil mortes. Não tem cabimento. Tomamos medidas concretas para se preparar, antever, prevenir, porque a gente sabia que viria [o vírus]".

20 de agosto

"Tem algum médico aí? A eficácia dessa máscara é quase nula".

24 de agosto

"Aquela história de atleta né, que o pessoal da imprensa vai para o deboche, mas quando pega num bundão de vocês a chance de sobreviver é bem menor. Só sabe fazer maldade, usar a caneta com maldade em grande parte".

8 de setembro

“A gente não pode injetar qualquer coisa nas pessoas e muito menos obrigar. Eu falei, inclusive, que ninguém vai ser obrigado a tomar vacina, e o mundo caiu na minha cabeça. A vacina é uma coisa que, no meu entender, você faz a campanha e busca uma solução. Você não pode amarrar o cara e dar a vacina nele. Eu acho que não pode ser assim”.

22 de outubro

"O que essa pandemia serviu para revelar foram os aprendizes de ditadores. Figuras nanicas, hipócritas, boçais, achando que manda no estado dele. Vai tomar vacina? Vai tomar você, pô. Vacina ou o que você bem entender. Coca-Cola, Tubaína".

24 de outubro

“Vacina obrigatória só aqui no (cachorro) Faísca”.

10 de novembro

“Tem que deixar de ser um uma país de maricas”.

11 de novembro

“Morte, invalidez, anomalia. Esta é a vacina que o Doria queria obrigar a todos os paulistanos tomá-la. O presidente disse que a vacina jamais poderia ser obrigatória. Mais uma que Jair Bolsonaro ganha”.

“Tudo agora é pandemia, tem que acabar com esse negócio. Lamento os mortos, lamento. Todos nós vamos morrer um dia, aqui todo mundo vai morrer. Não adianta fugir disso, fugir da realidade. Tem que deixar de ser um país de maricas. Olha que prato cheio para a imprensa. Prato cheio para a urubuzada que está ali atrás”.

13 de novembro

"E agora tem essa conversinha de segunda onda”.

"Mesmo que houvesse uma segunda onda [de Covid-19], é só fazer tratamento precoce. Conversa com o médico, tem três medicamentos para outras coisas que servem também para combater a Covid, que a princípio se resolve o assunto".

24 de novembro

“Pergunta pro vírus” Ao ser perguntado sobre uma possível extensão do auxílio emergencial.

26 de novembro

"Da máscara eu não vou falar muito porque terá um estudo sério falando da efetividade, se ela protege 100%, 90%, 80%. Falta apenas o último tabu a cair".

27 de novembro

“Vou estar em Itajaí antes do Natal, mas não vou tomar ozônio lá não tá (risos). Diz que o prefeito do ozônio foi reeleito né?! O pessoal sabe dessa história ou não? Vou falar só em partes: o prefeito falou que cura a covid com ozônio, com aplicação de ozônio. Mas não pergunta onde é a aplicação não. (risos) Tinha muita gente indo pra lá tomar ozônio ‘estou com Covid’ (risos)”.

10 de dezembro

“O tratamento precoce é o ideal. Sentiu sintoma, vai no médico. Vem alguns dizerem que [a hidroxicloroquina] não tem comprovação. Eu sei, mané".

15 de dezembro

"Eu, Jair Bolsonaro, não sou contra a vacina. Mas sou plenamente favorável a esse tratamento que nós temos no Brasil. Eu não posso falar como cidadão uma coisa e como presidente outra. Mas, como sempre, eu nunca fugi da verdade, eu te digo: eu não vou tomar vacina. E ponto final. Se alguém acha que a minha vida está em risco, o problema é meu. E ponto final".

19 de dezembro

“A pandemia está chegando ao fim. Estamos com uma pequena ascensão agora, o que chama de um pequeno repique, pode acontecer”.

“A pressa para a vacina não se justifica, porque você mexe com a vida das pessoas”

“Se você virar um chipanzé, se você virar um jacaré, é problema de você. Não vou falar outro bicho aqui para não falar besteira. Se você virar o Super Homem, se nascer barba em alguma mulher aí ou um homem começar a falar fino, eles (o laboratório) não têm nada a ver com isso”.

23 de dezembro

“Eu tive a melhor vacina, foi o vírus. Sem efeito colateral”.

“Eu não uso, mas tudo bem”. Quando um apoiador tentou entregar uma máscara.

24 de dezembro

"Parece que a eficácia da vacina de São Paulo está lá embaixo. Não vou divulgar percentual aqui, porque se eu errar 0,001%, eu vou apanhar da imprensa. Mas parece que a eficácia está lá embaixo, em relação à outra [vacina]".

28 de dezembro

Abaixo de 40 anos, quase ninguém contrai (o coronavírus). Ou se contrai, é assintomático. Para que esse pavor todo? A vida tem que continuar. Eu não errei nenhuma (medida no combate à pandemia). Quando eu zerei o imposto da vitamina D, vocês me criticaram”.

31 de dezembro

“Falam tanto em máscara. O tempo todo essa mídia pobre falando: "o presidente sem máscara". Não encheu o saco ainda, não? Isso é uma ficção. Quando é que nós vamos ter gente com coragem, que eu não sou especialista no assunto, para falar que a proteção da máscara é um percentual pequeno? A máscara funciona para o médico, que está operando uma máscara específica. A nossa aqui, praticamente zero”.

5 de janeiro

“O Brasil está quebrado. Eu não consigo fazer nada. Eu queria mexer na tabela do imposto de renda… Teve esse vírus, potencializado pela mídia que nós temos”.

"Sabia que o tio estava na praia nadando de máscara? Tava nadando de máscara? Mergulhei de máscara também, para não pegar covid nos peixinhos”.

"Agora criaram um pânico perante a população e quando eu falei lá atrás que tinha que enfrentar: "ah, ele despreza a morte!". Tem que enfrentar, pô, é igual a uma guerra”.

É igual a uma guerra? Mas, na guerra os líderes vão a frente e não ficam somente no rol das falácias contando mentirinhas... Eles, se querem vencer a guerra, elaboram projetos coerentes, baseados na ciência e com respeito à vida.

Sinceramente, não vejo sentido algum nos pronunciamentos do soberano do Planalto.

Nália Lacerda Viana, 25 de janeiro de 2021

Fonte

Jornal Estadão online

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Nalia Lacerda Viana
Enviado por Nalia Lacerda Viana em 25/01/2021
Reeditado em 25/01/2021
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