OSWALDO COIMBRA: Muitos anos de Vida!
Todos morreram. Todos. E não perdi nenhum. A primeira foi a avó. (...)
Depois, as outras pessoas. Não pude conversar com elas, uma pena ! Mas, já tinha acontecido, antes de elas morrerem, por outros motivos. Viagens, compromissos. Por isto, a morte não abalou nossos laços. Posto que somos um amontoado de carne sobre ossos. São as emoções, as lembranças e os afetos que nos fazem existir. Os que guardamos em nós. E os que despertamos nos outros. Assim, os laços se mantêm, na distância física, que nos impede de ver as pessoas que amamos, vivas. Tampouco esmaecem, quando não as vemos, por terem morrido. Nada afeta a força das emoções e dos afetos. Que preservam nossa memória. Contra as distâncias físicas. E contra o tempo. O que não acontece com os relógios, que o impõem. Eles, sim, viram peças inanimadas de museu.
OSWALDO COIMBRA, in "Muitos anos de Vida", DIÁRIO DO PARÁ, 16/01/2021, pag. 4, cad. VOCÊ