Que cada um viva sua crença ou descrença em paz

“Aprendi a não tentar convencer ninguém. O trabalho de convencer é uma falta de respeito, uma tentativa de colonização do outro.”

José Saramago

Que cada um viva sua crença ou descrença em paz. Ninguém deveria tentar convencer pessoa alguma a acreditar ou deixar de acreditar em nenhuma divindade. Crença ou descrença em divindades é algo estritamente pessoal e não cabe a pessoa alguma tentar convencer a outra, como bem disse José Saramago – escritor português e ganhador do Nobel de Literatura – em uma de suas famosas frases. Se você é católico, protestante, espírita, budista, ateu ou agnóstico, isso é assunto seu e de mais ninguém. Você deve respeitar as crenças ou descrenças alheias da mesma maneira que tem o direito de ser respeitado sem que outras pessoas zombem de você por causa de sua crença ou descrença.

Muitos ateus e agnósticos não admitem seu posicionamento por medo de represálias e também porque sabem que serão, na pior das hipóteses, vistos como pessoas de mau caráter, visto que muita gente associa a descrença em divindades à falta de princípios morais sólidos. Um outro problema que quem descrê ou duvida pode enfrentar é ter de aguentar gente tentando convencê-lo a ir a alguma igreja católica ou templo evangélico para “ter um encontro verdadeiro com Jesus”. Vamos ser sinceros. Ficar tentando convencer alguém a frequentar cultos ou missas é uma atitude altamente inconveniente. Ainda mais porque muitos ateus e agnósticos já foram religiosos e deixaram de acreditar por não ver sentido nas religiões. Infelizmente, quando eles tentam explicar por que deixaram de acreditar ou passaram a duvidar, não são ouvidos.

Não falta quem diga que o ateu se tornou ateu porque “se revoltou com Deus”. Ou seja, no fundo, o ateu é como uma criança mimada que embirrou porque não teve seus desejos atendidos. Para fazer justiça, vejamos o outro lado da moeda: também há ateus arrogantes que desprezam os religiosos, chamando-os de pessoas infantis que usam a religião como muleta. Enfim, há preconceitos de todos os lados. Muitos protestantes consideram os católicos uns idólatras que adoram estátuas de santos e muitos católicos acusam os protestantes de não respeitar Nossa Senhora, a mãe de Jesus Cristo. O certo seria que ninguém tivesse opinião formada sobre religião alguma e deixasse cada pessoa em paz com sua crença ou descrença. Mas infelizmente muitos não têm maturidade emocional para entender que não deve julgar os outros por causa de crenças pessoais.

Temos visto atitudes inconvenientes em muitas redes sociais, como canais no Youtube ou mesmo no Recanto das Letras. Muitos crentes entram em canais ateus para fazer proselitismo religioso. Isso quando não chamam o dono do canal de “servo de Satanás”, dizendo que um dia as portas serão fechadas e ele não terá mais tempo de “encontrar Jesus”.

E aqui, no Recanto das Letras, autores ateus e agnósticos têm de lidar com pessoas que entram nas suas escrivaninhas fazendo propaganda religiosa ou mesmo chamando-as de “secretárias do capeta”. Vamos ser sinceros. Esse tipo de atitude é mal-educada e desrespeitosa. Cada um acredita no que quer? Por que entrar na escrivaninha de quem pensa diferente para dizer em que a pessoa deve acreditar? Seria o mesmo que entrar num terreiro de umbanda ou candomblé para pregar o Evangelho. Não temos o direito de invadir o espaço de outra pessoa e querer convencê-la a acreditar em alguma divindade.

Como você se sentiria se o obrigassem a comer uma comida que você detesta ou ouvisse uma música que você não aprecia? Entrar na escrivaninha de um ateu ou agnóstico para apregoar sua religião não o fará acreditar em nada. Apenas irá gerar aborrecimentos desnecessários. Do mesmo modo, quem é ateu ou tem dúvidas sobre se Deus existe não deve entrar na escrivaninha de um autor espírita para falar que a reencarnação é uma coisa ilógica ou que não há evidências de que as psicografias sejam reais.

Respeitemos o espaço e a individualidade de todas as pessoas. É uma pena que nem todos entendem que deveriam se respeitar independentemente de suas crenças pessoais.