Eu vejo o que muitos não enxergam
"Pessoal eu sei que sou invisível mas tenho fome..."
Foi assim com essa frase que um ser humano que vive nas ruas chamou atenção dos transeuntes para que o ajudassem.
Só quem passa por esse tipo de situação, ou conviveu algum tempo com essas pessoas sabe dimensionar o dia a dia e a luta para sobrevivência em cenários muitas vezes covardes.
O mundo deles nos remete ao autismo, a uma realidade surreal mas que é verdadeira. Vários estão ali por motivos complexos, bem como por opção e suas histórias são incrivelmente notáveis. Por ironia do destino, pude entender que a palavra notáveis se encaixava de forma assimétrica nos diversos relatos que me foi dado por esses ilustres moradores. Foi em seus cotidianos, nos detalhes de seus enredos, que percebi essa singularidade, me demonstrando como os seres humanos se tornam únicos, e quanto cada um de nós é valioso e tem sempre algo a nos acrescentar, a nos ensinar.
A vida e as circunstâncias levou alguns para o mundo das drogas, outros pela depressão e desespero vivem na angústia de sobreviver apenas por acaso da vontade, e ainda os que preferiram viver longe de tudo e de todos e fazerem dos momentos poesias, música, teatro, numa busca incessante de esperança e paz.
A sociedade, os governantes, o mundo precisa e deve saber que não é apenas mais um texto o que aqui escrevo. São seres humanos que como todos, temos defeitos, mas esperamos a virtude da solidariedade, da compreensão, do respeito, daquela mão estendida que faltou algum dia para oportunidade de ser.
Apenas ser visível.