Um Tema Nacional

Um país com a maior extensão banhado pelo oceano atlântico, a única entre as 5 maiores nações do mundo localizada no hemisfério sul, a maior parte da maior floresta tropical do mundo seu território. Esses dentre outros são apenas algumas das características que fazem o Brasil uma das maiores promessas de potências mundiais que não consegue decolar. Problemas relacionados à política, corrupção, cultura e educação já são mais que clichês que perpetuam nosso cotidiano há alguns anos. Mas onde está realmente o problema? Ou melhor, onde está a solução destes problemas para mudarmos de uma vez por todas como nação?

A diversidade que se torna discriminação - somos um país miscigenado entre vários povos e várias culturas, desde africanos e indígenas até europeus e asiáticos. A nossa riqueza cultural se reflete, dentre outros campos, na nossa diversidade musical, que é sem sombra de dúvida, um dos únicos países no mundo com tantas vertentes e variedades, como forró, sertanejo, rap, funk, reggae, samba, MPB, etc. Porém, com o avanço da globalização, a padronização de cultura que na maioria das vezes vem da Europa ou USA, acaba se tornando um dos motores da desvalorização da diversidade. Além disso, os discursos de ódio que transitam na internet, muitas vezes de políticos, atingem um alto número de pessoas, consequentemente, o cidadão se vê no direito de propagar e semear a violência contra a diferença, uma vez que seu candidato/representante político faz o mesmo. É cômico pensar que, já fomos um povo subjugado como inferiores pelo pensamento eurocêntrico e hoje acontece o mesmo com minorias e/ou diferenças entre as pessoas dentro de nosso país. Ainda estamos longe de aprender. Tentamos erroneamente ser um país que acompanha o ocidente e até hoje carregamos consequências de um processo degradante à natureza e à espécie humana. Prova disso, são as condições precárias de moradia em grandes capitais do Brasil afora, que tentaram durante muito tempo “acompanhar” a industrialização e acabaram arrastando o tamanho da nossa diversidade para um vão de desigualdade.

A desigualdade social é o resultado de um processo de industrialização falho e mal sucedido, que deixou marcas que até hoje não se cicatrizaram, pelo contrário, aumentaram ao decorrer do tempo. As políticas sociais que poderiam ser uma esperança, mais se assemelham ao pão e circo de Roma, um tapa-buraco, não conseguem sustentar ou ao menos equilibrar, a gigantesca desigualdade entre os brasileiros. Com o atual regime político econômico capitalista, a desigualdade tende sempre a aumentar. Os exemplos que surgem na sociedade de pessoas de baixa renda que alcançam o sucesso, trazem um ar de esperança e são expostos, com a famosa frase: “Yes, you can”. Porém, sabemos que a realidade não é tão doce quanto parece. Vendem sonhos para milhões de pessoas apenas com algumas vagas disponíveis. As pessoas seguem uma receita mágica para conseguir atingir o objetivo, não atingem, daí surge ela, a frustração. Um fato social visível em diversos brasileiros que arriscam tentar a sorte em alguma grande capital do nosso país. Isso acaba por fim, provocando uma falta de perspectiva e consequentemente, uma aceitação e um contentamento de qualquer situação, submetendo as pessoas a uma condição de vida pífia. Mas somos um povo guerreiro, e o instinto de sobrevivência fala mais alto, continuamos esperançosos, trocamos alguns ingredientes da receita e fazemos conforme a música, tentamos outra vez.

A educação que não educa, mas te prepara para um regime político. Hoje é normal, alunos dos ensinos médio e fundamental já terem uma idéia do que querem ser ou ter como profissão, não vejo problema nisso. Porém, isto é na maioria das vezes relacionado ao status social da profissão e/ou ao valor de salário da mesma. Considero isso uma lástima, uma vida dedicada a um trabalho que não te faz feliz e tem somente por objetivo lhe conceder um meio de sobrevivência que é ditado pelo regime político e econômico que impõe uma força coercitiva sobre a sociedade, deixando o único direito intrínseco do ser humano, a liberdade, presa aos conceitos de sucesso e felicidade impostos e pré definidos. Sufocando a educação emancipadora, que poderia ser o único raio de luz em meio a essa escuridão que vivemos de não nos conhecermos, apenas seguimos e aceitamos esse modelo de vida, ditado e pragmático. Tiram a capacidade crítica e analítica do indivíduo ou melhor as adaptam para um modelo que traga algum tipo de retorno, é claro financeiro.

A política que se tornou demagogia - infelizmente essa é a realidade, a política brasileira passa por um momento catastrófico. E o pior é que a sociedade além de colher os frutos, se torna um reflexo. Para Aristóteles, o homem é um animal político, pois, por ser um ser imperfeito busca em uma comunidade, uma completude. O interesse próprio acima do interesse público ou do interesse em comum de uma sociedade, é um divisor de águas para ambos os lados, tanto para os políticos quanto para o povo. Em seu livro, a Política, temos uma frase que define claramente o que representa o egoísmo quando disseminado na sociedade: “Então o povo se transforma numa espécie de monarca de mil cabeças; é soberano, não individualmente mas em corpo.” Assim, criamos mais um dilema, a vida em sociedade é uma completude do ser humano, entretanto, sem um propósito igualitário e de interesses básicos em comum transformamos isso em um paradoxo. O egoísmo toma posse, a demagogia faz efeito. O que me deixa otimista é que pelo menos no dicionário, alocêntrico vem antes de egocêntrico.

Pelo cenário atual nada promissor, não vejo muita muita perspectiva de mudança nesse horizonte cinzento, apesar de termos boas ações acontecendo no mundo e até no Brasil devido a pandemia, sou um pouco cético quanto a solidariedade de empresas, acredito que a cobrança virá, agora ou mais tarde, até porque como dizia o saudoso Darcy Ribeiro toda ação aparentemente generosa é também uma ação egoísta. O dinheiro vai continuar sendo dominador, impactando a política, educação, sociedade e a saúde, como prova disso, temos a corrida maluca pela vacina do Covid19. Que já não é mais um objeto da ciência, mas virou uma “arma” política e se tornará em breve um objeto de alto valor econômico. Entretanto, minha natureza humana, positiva e meu “jeito brasileiro de ser” não me permite finalizar um artigo com uma opinião pessimista, portanto, encerro com 1 frase de Paulo no livro Romanos (8:24), que diz: “Esperança que se vê, não é esperança.”