APRENDIZADO SEM FIM (SEM CONCLUSÃO)
Prólogo
Vou iniciar este texto explicando o “SEM FIM” e o “SEM–FIM”. Ambas as expressões existem, mas no meu escrito utilizo o “SEM FIM” pelo obvio do seu significado. “SEM FIM” é uma expressão com significado próprio, sendo o simples seguimento da preposição ‘sem’ e do substantivo ‘fim’, sendo sinônima de sem término, sem final, sem termo, sem conclusão.
Exemplos com “sem fim”:
1. Se você não dormir menos e estudar mais vai entrar por um caminho sem fim de concursos sem jamais ser aprovado;
2. O aprendizado do idioma português é sem fim, isto é, sem conclusão.
Exemplos com “sem–fim”:
“Sem–fim” com hífen significa uma quantidade indefinida, sendo sinônimo de: indefinido, ilimitado e infinito. Indica também uma extensão ilimitada, ou seja, uma imensidão, vastidão e amplidão. Exemplos:
1. Luzia não pode falar agora, ela tem um sem–fim de coisas para fazer;
2. As empresas do doutor Henrique oferecem um sem–fim de serviços que facilitam sua vida.
REMINISCÊNCIAS SAUDOSAS
Quando criança, nos idos de 1954, aos cinco anos de idade, e mesmo na adolescência de 1962 até 1968, eu me perguntava o porquê de o idioma português ser tão difícil e por que não devíamos escrever do mesmo modo que falávamos?
Eram tantas as dúvidas... Atraso ou atrazo? Contrafilé, contra filé ou contra–filé? Debaixo ou de baixo? Como usar uma e/ou a outra? Demais ou de mais? Quais as diferenças? Jiló ou giló? Jia ou gia? Jenipapo ou genipapo? Insosso ou insoso? Malpassado ou mal passado? Minissaia ou mini–saia? Onde e aonde... Como usar? Quis ou quiz? Tigela ou tijela? Traseiro ou trazeiro? Suspensão ou suspenção?
Arre! Quantas dúvidas! Qual das duas ou três formas está correta? Ainda hoje tenho muitas dúvidas, mas quando "dar um branco", isto é, quando
ocorre o sintoma de estresse mental momentâneo, pergunto a quem sabe e/ou consulto bons dicionários.
Vale escrever que fico verdadeiramente extasiado, muito curioso e admirado, quando pergunto a um estudante de no máximo dezessete ou dezoito anos:
— Como você está nos estudos? – E ele, o estudante garboso, me responde orgulhoso de seu suposto vasto saber: “Ah! Já terminei!”.
— Terminou? Excelente! – Verbalizo esse “excelente” com um muxoxo sem descrédito, raiva, indiferença, desprezo ou desdém perceptível, mas a verdade é que fico extremamente envergonhado pelo fato de eu já estar com setenta e dois anos de idade e não haver, ainda, concluído meus estudos. Ah! Quanta sapiência têm esses jovens contemporâneos.
UMA VERGONHA EXPLICADA
Escrevo “não concluído” por ser eu, ainda, um semianalfabeto, mas não apedeuta que come sanduiche de mortadela e arrota caviar. Aliás, aprecio sobremaneira a mortadela magra, com os pães franceses e quentinhos da padaria da “Dona Duquesa” (codinome carinhoso) no meu repasto da manhã e até no antepasto do almoço servida gratinada com azeitonas, berinjelas e cubos de queijo. Claro que a depender da companhia não desprezo os canapés dourados.
Fico envergonhado com a resposta do estudante: “Ah! Já terminei!” por eu apenas ser graduado e pós-graduado na Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ e haver sido classificado para fazer o estágio profissionalizante na OAB/RJ, no qual concorreram 622 (seiscentos e vinte e dois candidatos, dos mais de noventa municípios, e só trinta concursados poderiam ser classificados) e ainda assim não haver concluído meus estudos.
O ETERNO APRENDIZ E O ESTUDANTE PROMISSOR
Escrevo “não concluído” por ter consciência emocional para afirmar que sou um autodidata e eterno aprendiz. Mas aconselho: Desconfie sempre de quem diz de tudo saber! Já faz alguns anos, no Rio de Janeiro, um jovem rapaz me procurou, quando eu era 1º Sargento, para resolver um sério – segundo ele – problema ou questão gramatical. Eis a questão abaixo que me foi entregue em um papel um pouco amassado pelo estudante promissor:
Considerando as normas ortográficas vigentes em língua portuguesa, qual sequência de palavras preenche adequadamente as lacunas do trecho abaixo?
“_____ você está sempre de bom humor? Sinceramente gostaria de saber o _____ de tanta alegria...” Analu respondeu prontamente: “_____ eu estou viva.”
1) Por quê, porque, porquê
2) Porque, porquê, por que
3) Por que, por quê, porque
4) Por que, porquê, porque
De chofre eliminei as duas primeiras opções. Ora, no caso de uma interrogação só se inicia uma frase com “por que” separado e sem acentuação gráfica. Já “porque” (junto e sem acento) é utilizado em respostas para indicar uma causa ou uma explicação.
Portanto, entre as opções 3 e 4 a resposta correta é a de número 4 (quatro). Ah! O aluno me aplaudiu e disse que já houvera ganhado algum dinheiro com os colegas estabelecendo cinco longos minutos para a resposta correta.
UMA GRATA LEMBRANÇA NO INESPERADO REENCONTRO
No ano de 2018, com meu passaporte novinho em folha, resolvi dar entrada no competente processo para obter a autorização (Visto) e fazer uma visita à capital de Massachusetts ou Masachusetes, Boston, nos Estados Unidos da América - (EUA). Claro que consegui esse tão sonhado e desejado visto e viajei.
Durante minha estada no Rio de Janeiro, no mês de agosto do supracitado ano, já de volta da brevíssima viagem à capital Boston, para carimbar o passaporte, encontrei no Centro Comercial de Copacabana um jovem senhor em trajes de caminheiro que fez questão de me cumprimentar efusivamente dizendo e perguntando:
– Nobre professor Wilson. Como está? Duvido que se lembre de mim. Lembra? – Não me lembrava, mas não recusei o aperto de mão e abraço fraternos. Afinal, cortesias não se dispensam. Diante do meu arquear de uma sobrancelha ele me socorreu dizendo:
A ALEGRIA E GRATIDÃO DO ESTUDANTE BEM–SUCEDIDO
– Sou o estudante que tentou lhe embromar com aquela questão de português... "Os porquês". Lembra agora? – Ah! Sim. Agora me lembro (fazia uma eternidade esse episódio e o jovem estudante de outrora estava obeso, em trajes esportivos e bem mais velho, com poucos cabelos prateados iguais aos meus). Continua estudando e ganhando dinheiro com seus enigmas? – Perguntei.
– Sim. Continuo estudando porque segui seu conselho. “O aprendizado não tem (SIC) fim”. Depois que o senhor, em outras palavras, me disse essa simples frase nunca mais parei de estudar. Fiz Ciências Jurídicas e Sociais na UERJ. Exerci advocacia por algum tempo. Submeti-me a alguns concursos sem obter sucesso, mas numa quarta tentativa passei para o MP e hoje sou promotor de justiça. – Concluiu orgulhoso, com os olhos marejados, o nobilíssimo colega!
Durante o aprazível reencontro bebemos meia dúzia de chopes com petiscos de camarão na orla de Copacabana, conversamos sobre denúncias, dosimetrias nas sentenças e acórdãos dos tribunais superiores; súmulas, flagrantes, prisões preventivas; política, futebol e outros assuntos correlatos às nossas formações jurídicas e universo masculino.
Despedimo-nos alegres trocando e-mails e números de telefones. No finalzinho de nosso papo informal ele disse a razão deste escrito: “Em todas as áreas do estudo, principalmente em nossa área (Referia-se ao direito), o aprendizado é sem fim.”.
TENHO SAUDADE DE TODOS OS DOUTOS PROFESSORES DA UFRJ
Em 1989, quando entrei, por concurso, na Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, eu estava deslumbrado por estar, aos 40 anos de idade, entre a garotada do Centro Acadêmico Cândido de Oliveira – CACO. Eu não os acompanhava nas notas e mantive notas medíocres. Ademais, os implacáveis professores Pujol e Maciel eram, para todos nós, os temidos "nazistas" acrônicos da Universidade.
Minhas sofríveis notas, nas avaliações dos atemporais mestres (Pujol e Maciel), apenas eram (foram) suficientes para eu avançar e chegar no próximo semestre me arrastando. Hoje estou compreendo melhor os competentíssimos professores doutores e mestres de outrora.
Com desmedida empáfia o "nazista" Maciel dizia em hausto (respiração) vibrante: "Dificilmente vocês poderão me chamar de colega com essas desprezíveis notas". De fato: Ambos eram não apenas professores, mas também doutos, isto é, possuíam o mais elevado grau acadêmico, o mais alto grau de instrução (doutorado). Aliás, quase todos os mestres da UFRJ eram doutos ou estavam concluindo doutorado.
Quaisquer questões novas, por mais simples ou complexas que sejam, para mim serão mais um desafio a ser vencido. Uma das epifanias, sensação profunda de realização, no sentido de compreender a essência das coisas, ou seja, a sensação de considerar algo como solucionado, esclarecido ou completo, que acabei tendo desde a graduação na UFRJ é que gosto de aprender quando tenho a capacidade de escolher o conteúdo.
CONCLUSÃO
O ato de aprender uma nova habilidade cria caminhos em todo o nosso cérebro. Com o tempo, essa dedicação extremada ao aprendizado torna nossa mente mais eficiente, a se transformar em uma máquina ainda mais poderosa. Eu me tornei um eterno aprendiz não apenas curioso, mas sobretudo apaixonado pelo saber. Atualmente estudo todos os tipos de assuntos: português, geografia, história, matemática, homeopatia e atenção plena ao direito e linguagens de informática.
O meu assunto favorito é o desenvolvimento pessoal e a autocompreensão. Não viso ganhar mais e mais dinheiro, tampouco superar ninguém, senão a mim mesmo. Superar meus limites é a meta. Foi desse modo que passei dos meus limites humanos, experimentando e aprendendo mais sobre mim.
Enfim, resta-me transmitir aos mais jovens e irreverentes estudantes, principalmente àqueles que imaginam tudo saber, como um indivíduo mais maduro e autoconsciente, algo que tenho certeza de que apenas a experiência de vida pode proporcionar.
Durmam menos e estudem mais porque o aprendizado sem fim traz, sem nenhuma dúvida, resultados proficientes, gratificantes e positivos. Esse é o caminho do progresso! Compreender nossos talentos pessoais, limites, falhas, interesses e necessidades é essencial para o crescimento como pessoa. O conhecimento dessas informações nos ajuda a entender e criar prioridades e objetivos pessoais.
_________________
NOTAS REFERENCIADAS
– Textos livres para consulta da Imprensa Brasileira e “web”;
– Assertivas do autor que devem ser consideradas circunstanciais e imparciais.