ACOMPANHADOS OU CONECTADOS?
ACOMPANHADOS OU CONECTADOS ?
Sobre alguns aspectos interessantes e factíveis de comentário das cartas 1 à 8, do livro AS 44 CARTAS DO MUNDO LÍQUIDO MODERNO, de Zigmunt Bauman. Zahar, 2011. Não que os demais, além destes, outros temas também não careçam de palavras dedicadas por esta escritora, motivo pelo qual deixo aqui o parênteses para que os leitores solicitem que elas venham posteriormente, caso desejem conhecer melhor o livro antes de lê-lo.
A leitura deste livro nos faz pensar sobre a velocidade com que as informações nos chegam e sobre a maneira fácil como podemos nos conectar com o mundo através de nossos aparelhos, assim como a forma com que estamos nos relacionando socialmente com os nossos semelhantes. Carregamos o mundo no bolso e estamos, ao mesmo tempo, em sua janela, mas essa realidade nos traz consequências dramáticas. Em 44 capítulos os quais o autor chama de cartas, o livro nos mostra uma análise de nossas simples atitudes cotidianas contemporâneas e a relação que mantemos com os fatos, assim como as conseqüências que essa realidade nos traz, ao passo que nos .aponta, uma saída para os problemas contemporâneos. Segundo Zigmunt Bauman, combater o individualismo seria a salvação para evitar a extinção de seres pensantes e sociais.
Para não se perderem de seus parceiros, os pássaros gorjeiam, fazem o seu chilrear para demarcar o seu território, evitando que se percam uns dos outros e, ainda, como uma forma de comunicar que o seu espaço já está ocupado. É uma forma de dizer, “estou aqui “. Talvez tenha sido essa a ideia que motivou a criação do ícone - imagem do twitter, onde as pessoas se agrupam virtualmente, a fim de tornar rápido e fácil a comunicação entre os membros.
Conforme o autor, não nos importamos com a profundidade e a consistência dos laços afetivos, o importante é ter contato instantâneo. Somos obrigados a estarmos sempre a postos, no celular, para atender a quem quer que seja. Se a pessoa ,que liga, for o chefe ou alguém do círculo familiar e não for respondida, aí o nosso mundo pode até cair, por causa das demandas da sociedade moderna. Muitas vezes, tal fato pode ser considerado uma atitude imperdoável, sinal de negligência, insubordinação, imprudência, indiferença ou má vontade.
Segundo o autor, estamos perdendo um forte aliado que torna as nossas relações mais consolidadas. Este aliado é o sigilo. Ter alguns poucos que saibam sigilosamente de nossas vidas, é um dos sinais mais estruturadores das nossas relações sociais. A privacidade é algo totalmente desqualificado em nossa sociedade. Poucos e raros são os que a desejam, porem são muitos os que procuram exposição e se tiver ostentação, melhor ainda, mesmo que ela seja fake.
Toda essa facilidade de acesso nos deixa em uma condição de surfista eternos, cuja sustentação é o nada em uma liquidez aterrorizante. Estar disponível para os outros, tornou-se uma obrigação paranóica e isso causa a ilusão de que se está no controle de tudo em nossos grupos, mas ao contrário, tornamo-nos mercadorias facilmente descartadas, quando alguém assim decidir, por qualquer que seja o motivo, sem nenhuma explicação anterior ou sinal de apreço, como se a pessoa nunca tivesse existido antes naquele suposto elo de amizade. A facilidade de desconexão é tão instantânea como a de se conectar, o que, segundo o autor, nos deixa frágeis e vulneráveis a toda sorte de fobias em um mundo onde tudo é efêmero, transitório, ágil e rápido..
Depararmo-nos com surpresas e desafios para os quais somos incipientes para compreendê–los, nos deixa em um labirinto de interrogações, onde nos sentimos, vulneráveis, paradoxalmente solitários e insustentáveis nas relações fluidas, mas com a ilusão de que estamos acompanhados, mas na verdade, estamos apenas conectados e a sustentação disso tudo é também é líquida.
Edneuda Oliveira Pinto.Claraliz Almadova
Fortaleza, 14/10/2020.