Ideologia ou hegemonia?
Há mais de dois séculos a humanidade vem se polarizando, dizem alguns que a polarização é ideológica: direita x esquerda, marxismo x liberalismo, socialismo x capitalismo, individualismo x comunismo e outros muitos rótulos. Esses rótulos têm sido enfaticamente repetidos e distorcidos, até que a população em geral ou não conheça mais seu verdadeiro significado, ou desenvolva em relação a eles um amor ou um ódio irracional.
A polarização supostamente ideológica encontrou sempre seu correspondente nos blocos econômicos: durante a guerra fria eram os “aliados” contra o bloco da Cortina de Ferro, atualmente é o Ocidente contra a emergente China e seus satélites. E nós, no Ocidente, sempre aprendemos que estamos sob ameaça da expansão do comunismo, identificado tanto com a União Soviética e a Cortina de Ferro quanto com a China e seus satélites.
Convém refletir sobre o real significado da polarização, já que ela muitas vezes leva países inteiros a guerras civis fratricidas por divergências de convicção. Talvez estas guerras fratricidas sejam já um objetivo conquistado por aqueles que manipulam e exacerbam a polarização: a concretização do princípio “dividir para conquistar”.
Terminada a Segunda Guerra Mundial os EUA difundiram pelas Américas o medo que no Brasil denominou-se a Doutrina de Segurança Nacional. O perigo iminente a ser combatido: o pensamento identificado com o outro grande vencedor (a um custo incomparavelmente mais caro) da guerra mundial: a União Soviética. Comunismo, marxismo, leninismo, socialismo passaram, para muitos brasileiros, a serem sinônimos de tirania, de crueldade, do mal maior, a ser evitado a qualquer custo, ainda que este custo seja a liberdade, a legalidade, a independência. A Doutrina de Segurança Nacional foi o pretexto para as ditaduras militares na América Latina, incluindo o Brasil.
Os dados históricos, entretanto, parecem revelar outros motivos para as radicalizações semeadas mundo afora. Nelas sempre se confundem as razões ideológicas, manifestas, e as econômicas, acobertadas. Não é isso que nos diz a aliança EUA e Iraque contra o Irã, depois a invasão do Iraque por causa das supostas, e inexistentes, armas de destruição em massa? A verdadeira razão dos conflitos sempre foi o petróleo, o Iraque tornou-se inimigo quando ameaçou exigir autonomia na comercialização de sua produção da maior fonte de energia do mundo atual. É essa fonte de energia, da qual os EUA carecem, que move os principais conflitos mundiais das últimas décadas, junto com os minérios estratégicos. Afeganistão, Irã-Iraque, Ucrânia, Síria, Venezuela, Brasil e muitos outros, são guerras, crises e golpes cuja real razão é o controle das matérias-primas estratégicas.
As sofisticadas tecnologias midiáticas conseguem fazer o povo simples acreditar que assume posições ideológicas, na verdade está sendo manipulado para assumir posturas a favor da hegemonia econômica do grande ganhador da Segunda Guerra Mundial que pouco sofreu com ela, saiu-se como o grande credor da reconstrução da Europa, e temido após a demonstração de força dos maiores atos terroristas da História, o extermínio da população civil de Hiroshima e Nagasaki.
A suposta polarização ideológica serve a vários propósitos. Os dois principais talvez sejam a difusão do ódio fratricida, o “dividir para conquistar”, e a ocultação de que os conflitos visam, na verdade, a hegemonia econômica dos EUA sobre o planeta.
Às custas da submissão incondicional de seus vassalos.