Não tem nada errado com o seu nariz
Enquanto meu ônibus não chegava, matando tempo nos stories do Instagram, me deparei com algumas fotos de antes e depois de um procedimento chamado harmonização facial. Basicamente, a coisa toda consiste em um procedimento ambulatorial no qual um profissional capacitado injeta ácido hialurônico em certas partes do rosto para deixá-lo, como o nome diz, harmônico. Essa harmonia funciona tão bem que vi uns cinco “antes e depois” de pessoas diferentes achando que pertenciam à mesma pessoa. Tem coisa errada aí – ou, melhor dizendo, tem muita coisa certa que estamos tratando como se fosse errada.
Antes de continuar, quero deixar claro que o intuito aqui não é criticar mulheres que fazem qualquer tipo de procedimento estético, porque eu faria vários, inclusive, mas de instigar questionamentos. Não há nada de errado em enfeitar-nos, melhorar o que nos incomoda e preferir uma versão depilada, maquiada e malhada de nós mesmas, mas será que isso é só por gosto pessoal, mesmo? Será que tudo no nosso corpo/rosto natural nos incomoda?
Eis aqui minha primeira foto de perfil do Facebook para ilustrar o exemplo. Fiquei chocada quando procurei uma foto minha para acompanhar esse texto e a última que encontrei sem qualquer modificação – tintura no cabelo, alisamento, micropigmentação, maquiagem, alongamento nos cílios – foi tirada em 2011. DOIS MIL E ONZE.
Eu tinha 13 ou 14 anos nessa época e era uma adolescente extremamente insegura. Implicava muito com meu peso, com o volume do cabelo, com os óculos, com o nariz – que parecia maior por causa dos óculos... Eu achava que, com o tempo, “corrigindo” essas questões externas que me incomodavam, eu deixaria de me sentir mal por ser quem eu era. Errei feio, errei rude, porque os anos seguintes foram pautados por desastres capilares, pânico do espelho e transtornos alimentares. Continuei me sentindo um lixo e me culpando por isso, simplesmente porque as questões não eram meramente externas: eu ligava o meu valor como pessoa à adequação da minha aparência ao padrão. De novo, não é crime preferir o cabelo liso em vez do cacheado natural ou coisa do tipo, mas primeiro, isso não pode pautar toda a vida de uma mulher, e segundo (e mais importante):
Essas “preferências” não vêm do nada e não são uma simples questão de gosto.
Nós vivemos em um mundo movido por, principalmente, interesses econômicos, e o mercado da beleza movimenta muito dinheiro (muito mesmo!). O amor-próprio e a satisfação das mulheres em relação à aparência não é interessante porque, se fôssemos todas plenamente satisfeitas nesse sentido, quem iria pagar para operar um nariz sem qualquer defeito funcional? Quem iria investir horas de vida (sim, horas de vida, porque trabalhar para ganhar dinheiro custa tempo) para comparar planos de emagrecimento restritivos que não funcionam a longo parazo? Para a mídia e as grandes corporações (grandes mesmo, tá? não estou falando da sua amiga cabeleireira, por exemplo), a nossa insegurança e a busca por um padrão inalcançável significam lucro. A gente surfa nessa onda sem se dar conta e, quando vê, gasta absurdos com “problemas” estéticos que nem eram problemas de verdade.
Não é que eu defenda que o certo seja jogar todos os nossos batons no lixo, abolir a depilação da face da Terra e fazer fogueira com revistas de moda; a questão fundamental aqui é questionar se a nossa relação com a aparência é algo saudável. Você não é menos digna de amor e respeito porque engordou. Não gostar de maquiagem ou ter cabelo curto não te faz menos feminina, e depilar o buço não é a sua obrigação – e você também não é fútil por gostar de se maquiar, ter cabelo comprido ou arrancar cada mísero pelo do corpo. Não é necessário ser igual a todo mundo para ser bonita e se sentir bem na própria pele; a aparência exterior é uma forma importantíssima de expressão de si mesmo e não existe necessidade alguma de mudar algo só porque te disseram que precisava ser mudado.
Hoje em dia, ainda sou insegura, mas menos insegura do que era na época daquela foto, e descobri que a moda e a maquiagem são formas muito divertidas de me expressar (só essa descoberta já é assunto para outro texto). Entender que o meu valor independe da aparência, que ao longo da vida vou engordar, emagrecer, envelhecer e mudar independentemente da minha vontade é realmente um processo, algo a se construir. Às vezes dói e às vezes eu quero só desaparecer e me tornar outra pessoa, mas isso também faz parte. Propor a si mesma esses questionamentos não é fácil, mas posso garantir que é libertador. Experimenta.
Enquanto meu ônibus não chegava, matando tempo nos stories do Instagram, me deparei com algumas fotos de antes e depois de um procedimento chamado harmonização facial. Basicamente, a coisa toda consiste em um procedimento ambulatorial no qual um profissional capacitado injeta ácido hialurônico em certas partes do rosto para deixá-lo, como o nome diz, harmônico. Essa harmonia funciona tão bem que vi uns cinco “antes e depois” de pessoas diferentes achando que pertenciam à mesma pessoa. Tem coisa errada aí – ou, melhor dizendo, tem muita coisa certa que estamos tratando como se fosse errada.
Antes de continuar, quero deixar claro que o intuito aqui não é criticar mulheres que fazem qualquer tipo de procedimento estético, porque eu faria vários, inclusive, mas de instigar questionamentos. Não há nada de errado em enfeitar-nos, melhorar o que nos incomoda e preferir uma versão depilada, maquiada e malhada de nós mesmas, mas será que isso é só por gosto pessoal, mesmo? Será que tudo no nosso corpo/rosto natural nos incomoda?
Eis aqui minha primeira foto de perfil do Facebook para ilustrar o exemplo. Fiquei chocada quando procurei uma foto minha para acompanhar esse texto e a última que encontrei sem qualquer modificação – tintura no cabelo, alisamento, micropigmentação, maquiagem, alongamento nos cílios – foi tirada em 2011. DOIS MIL E ONZE.
Eu tinha 13 ou 14 anos nessa época e era uma adolescente extremamente insegura. Implicava muito com meu peso, com o volume do cabelo, com os óculos, com o nariz – que parecia maior por causa dos óculos... Eu achava que, com o tempo, “corrigindo” essas questões externas que me incomodavam, eu deixaria de me sentir mal por ser quem eu era. Errei feio, errei rude, porque os anos seguintes foram pautados por desastres capilares, pânico do espelho e transtornos alimentares. Continuei me sentindo um lixo e me culpando por isso, simplesmente porque as questões não eram meramente externas: eu ligava o meu valor como pessoa à adequação da minha aparência ao padrão. De novo, não é crime preferir o cabelo liso em vez do cacheado natural ou coisa do tipo, mas primeiro, isso não pode pautar toda a vida de uma mulher, e segundo (e mais importante):
Essas “preferências” não vêm do nada e não são uma simples questão de gosto.
Nós vivemos em um mundo movido por, principalmente, interesses econômicos, e o mercado da beleza movimenta muito dinheiro (muito mesmo!). O amor-próprio e a satisfação das mulheres em relação à aparência não é interessante porque, se fôssemos todas plenamente satisfeitas nesse sentido, quem iria pagar para operar um nariz sem qualquer defeito funcional? Quem iria investir horas de vida (sim, horas de vida, porque trabalhar para ganhar dinheiro custa tempo) para comparar planos de emagrecimento restritivos que não funcionam a longo parazo? Para a mídia e as grandes corporações (grandes mesmo, tá? não estou falando da sua amiga cabeleireira, por exemplo), a nossa insegurança e a busca por um padrão inalcançável significam lucro. A gente surfa nessa onda sem se dar conta e, quando vê, gasta absurdos com “problemas” estéticos que nem eram problemas de verdade.
Não é que eu defenda que o certo seja jogar todos os nossos batons no lixo, abolir a depilação da face da Terra e fazer fogueira com revistas de moda; a questão fundamental aqui é questionar se a nossa relação com a aparência é algo saudável. Você não é menos digna de amor e respeito porque engordou. Não gostar de maquiagem ou ter cabelo curto não te faz menos feminina, e depilar o buço não é a sua obrigação – e você também não é fútil por gostar de se maquiar, ter cabelo comprido ou arrancar cada mísero pelo do corpo. Não é necessário ser igual a todo mundo para ser bonita e se sentir bem na própria pele; a aparência exterior é uma forma importantíssima de expressão de si mesmo e não existe necessidade alguma de mudar algo só porque te disseram que precisava ser mudado.
Hoje em dia, ainda sou insegura, mas menos insegura do que era na época daquela foto, e descobri que a moda e a maquiagem são formas muito divertidas de me expressar (só essa descoberta já é assunto para outro texto). Entender que o meu valor independe da aparência, que ao longo da vida vou engordar, emagrecer, envelhecer e mudar independentemente da minha vontade é realmente um processo, algo a se construir. Às vezes dói e às vezes eu quero só desaparecer e me tornar outra pessoa, mas isso também faz parte. Propor a si mesma esses questionamentos não é fácil, mas posso garantir que é libertador. Experimenta.