FEMICÍDIO: É PRECISO SERMOS BONS PERDEDORES E NÃO ASSASSINOS COVARDES

Por Ivan Lopes*

Homens brasileiros matam 48 vezes mais mulheres do que os homens do Reino Unido.

Antes de tudo, peço licença a vocês para compartilhar mais uma história e já aviso que tenho a intenção de provocar reflexões sobre o feminicídio.

Numa triste coincidência, ontem eu estava ouvindo uma música que gosto muito do Bruno e Marrone chamada “um bom perdedor”. Ao ouvi-la, eu comentava que se os homens se ligassem mais na letra dessa canção não teríamos tantos assassinatos de mulheres, pois é preciso que sejamos não somente bons amantes, mas também bons perdedores. Em menos de duas horas eu recebi a notícia de mais um feminicídio na minha cidade. (Deixo o link da canção para que os interessados tenham acesso).

E a partir daí vejo muitos comentários inteligentes nas redes sociais, mas também críticas grosseiras e generalizadas de algumas mulheres contra os homens. É bom que se diga que as campanhas do tipo “mexeu com uma, mexeu com todas” não tem sortido grandes efeitos. Perdoem-me pela sinceridade, mas muitas que vão às redes sociais endossar as manifestações são vítimas silenciosas e freqüentes das agressões do companheiro, ou seja, é sempre mais fácil cobrar atitudes dos outros do que fazer algo por si mesmo. Podemos chamar a isso de hipocrisia.

A generalização, às vezes, é totalmente descabida e injusta, pois há também mulheres que matam ou contratam executores para matar seus companheiros simplesmente porque também não aceitam o fim do relacionamento! Por outro lado, há também homens que tentam de alguma forma impedir as agressões contra algumas mulheres e que às vezes são impelidos, como é o caso de pais e filhos de mulheres que são agredidas costumeiramente.

O combate ao feminicídio não pode ser uma luta restringida apenas às mulheres como se somente elas sofressem com a dor das perdas irreparáveis, mas precisa ter o apoio de todos os homens de bem, pois estes também são pais, irmãos, filhos, netos, tios, sobrinhos, primos, amigos, etc. destas mulheres que padecem pela covardia desses criminosos. Os homens, principalmente políticos e legisladores, podem muito contribuir para o enrijecimento das leis que punem os autores de crimes contra as mulheres, especialmente as ameaças, tentativas e assassinatos.

Os assassinos ou aqueles que pensam que a mulher é um objeto de sua propriedade precisam saber que nós homens de verdade abominamos tal comportamento e que nos envergonhamos de tê-los no gênero masculino. São seres covardes que não nos representa e jamais terá nosso apoio em tais crimes. O fim de uma relação amorosa, uma traição ou qualquer outra falha das mulheres não justifica tal ato vil e covarde.

O Brasil ocupa o 5º lugar no ranking mundial de Feminicídio, segundo o Alto Comissariado das Nações Unidas pra os Direitos Humanos (ACNUDH). O país só perde para El Salvador, Colômbia, Guatemala e Rússia em número de casos de assassinato de mulheres. Em comparação com países desenvolvidos, aqui se mata 48 vezes mais mulheres que o Reino Unido, 24 vezes mais que a Dinamarca e 16 vezes mais que o Japão ou Escócia.

O Mapa da Violência do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) mostra que o número de mulheres assassinadas aumentou no Brasil. Entre 2003 e 2013, passou de 3.937 casos para 4.762 mortes. Em 2016, uma mulher foi assassinada a cada duas horas no país.

Além de mudarmos as nossas leis, também se faz necessário que mudemos a nossa cultura e os comportamentos. Ainda há muita gente que glamoriza o ciúme e a possessividade como se fossem atestados de amor verdadeiro! Ao contrário, sabe-se que na maioria das vezes esses sentimentos contribuem para a barbárie humana.

Lembrem-se homens: Não basta que sejamos bons vitoriosos e amantes, se faz necessário que sejamos também "Bons perdedores".

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*Professor, Licenciado em Pedagogia e Letras, pós-graduado em Gestão e Docência do Ensino Superior e formando em Jornalismo.