Eu quero me encaixar
Uma das piores sensações na vida de uma pessoa é a de se sentir inadequada, pensar que não se encaixa, que não passa de um peso no mundo e na vida das pessoas. A gente precisa sentir que nossa vida possui algum propósito, que não está aqui simplesmente para ocupar espaço e é horrível quando as outras pessoas nos dão a entender que incomodamos, que fazemos tudo errado e que as matamos ou de preocupação ou de vergonha. É uma sensação que ninguém deveria sentir neste mundo. Todos precisam sentir que são importantes, têm valor e são capazes de se encontrar, resolver seus problemas e se relacionar bem com as pessoas.
Entretanto, muitas são as pessoas que não conseguem se encontrar, que não se sentem aceitas, que dizem o tempo todo: “Eu quero me encaixar, sentir que não vim para esse mundo à toa.” Infelizmente, por causa do jeito de ser de algumas pessoas, elas são vistas como loucas, inadequadas, desajeitadas ou incômodas. E é comum que os próprios familiares as vejam assim, como seres que para nada servem senão para atrapalhar ou incomodar. Essas pessoas com frequência fazem um esforço enorme para “provar” que não são inúteis e que podem ser tão “boas” quanto qualquer outra pessoa. Porém, é também frequente que sintam que seus esforços não dão em nada, ao passo que há tantas pessoas que parecem não precisar fazer esforço nenhum para se dar bem socialmente e ter um bom relacionamento com suas famílias.
Sentir que não nos “encaixamos”, que não há lugar para nós no mundo mostra que precisamos encontrar uma forma de estar bem com nós mesmos. Não podemos agradar a todos, mesmo quando temos as melhores intenções e, se os demais nos acham inadequados e pensam que não fazemos nada certo, precisamos então procurar nossos próprios padrões para não vivermos tentando ser o que os outros esperam. Nós somos o que somos e grande parte da nossa personalidade vem de nossa educação e experiências. Se quisermos mudar, que seja para nosso crescimento, nunca para simplesmente agradar a quem jamais irá reconhecer nossos melhores esforços.
É bom acrescentar que muitas vezes trazemos da infância a ideia de que não somos adequados ou bons o bastante. E isto deve nos levar a perguntar: “O que eu diria à criança que eu fui um dia?” Você diria à menina ou menino que você costumava ser que ele ou ela era bobo(a), idiota ou que não fazia nada certo? Ou diria que ela ou ele era para ser feliz, que você a amava e se orgulhava dela? Com certeza, podemos ter tal sensação de inadequação por causa do que ouvimos quando crianças e essa ideia de que não servimos para esse mundo pode ter ficado tão incrustada em nós que não nos livramos dela nem depois de adultos.
Seria ótimo que iniciássemos um trabalho de reconciliação com a criança que um dia fomos, dizendo a ela que não é tola, desajeitada ou incapaz, mas que tem que andar com a cabeça erguida, que nos orgulhamos dela e que ela é tão capaz quanto qualquer outra pessoa. Se ela errou, digamos a ela que errar faz parte de aprender a viver e que não existe nenhuma pessoa que nunca cometa erros e possa se dar ao luxo de julgar aos demais, embora muitas ajam como se fossem donas da verdade e pudessem falar dos outros como se fossem apenas um poço de defeitos.
Não existe ninguém inadequado, incapaz e que apenas cometa erros. E ninguém deveria se sentir como um ser defeituoso e que não consegue se encaixar no mundo. Neste mundo, há lugar para todas as criaturas. Por que não haveria lugar para você? Infelizmente, vivemos em uma sociedade que tenta padronizar as pessoas, estabelecendo critérios de “normalidade” como se houvesse pessoas adequadas e outras inadequadas. Além disso, o ser humano é naturalmente preconceituoso e sempre julga o que não conhece bem. Temos de aprender a lidar com isso e não permitir que essas coisas afetem a ideia que temos do nosso próprio valor.