ESTAMOS EMBURRECENDO?

Einstein, Da Vinci, Newton são figuras reconhecidas por suas importantes contribuições científicas e para o entendimento do mundo a partir delas. Assim com eles, inúmeras outras personalidades também ofereceram seus arcabouços intelectuais visando modificar a sociedade e impulsionar o avanço do homem. Todas elas tinham em comum uma inteligência admirável frente ao tempo vivido, conseguindo romper o campo teórico e notabilizando suas capacidades no empirismo. Se vivessem hoje, estariam satisfeitos com o nível intelectual, sobretudo no imperativo das relações interpessoais, ostentados por nós?

Com o advento da internet e a constante evolução da tecnologia, o cérebro humano passou a ser bombardeado por um número significativo de informações, deixando-o em plena atividade. Mas, qualitativamente, ele estaria mais ativo? Como a velocidade dos dados é intensa, é razoável pensarmos sobre a incapacidade do cérebro de processar tantas informações, uma vez precisando de tempo para essa tarefa. Se ele não registra, logo os dados são meramente visualizados sem sofrerem nenhum tratamento. A consequência disso nós percebemos na prática: olhamos de tudo, mas internalizamos quase nada.

Quando partimos para as relações sociais o cenário vai ficando mais desfavorável. Trazendo novamente as contribuições de Einstein, o qual disse: "Eu temo o dia em que a tecnologia ultrapasse nossa interação humana, e o mundo terá uma geração de idiotas." Para validar a afirmação anterior, basta-nos observar a influência que o telefone celular tem em nossas vidas. É comum, numa reunião familiar ou em um encontro de amigos, as conversas face a face serem substituídas pelo uso do smartphone, freando as interações e dando um claro sinal de sustentação de um comportamento pautado unicamente no meio virtual.

Os desdobramentos resultantes desse estado são diversos, indo desde a perda da capacidade de nos relacionarmos com o real, tornando as relações afetivas frágeis e desinteressantes, até a percepção de sobrevivência, pois, uma vez ela sendo facilitada, nos imputa um estágio intelectual mais lento, onde o pensar fica em segundo plano. Ora, não é preciso ser um gênio para ter um perfil no Tinder e arranjar encontros esporádicos; tampouco é obrigatório ter doutorado em Ciências Políticas para manter um canal no Youtube, com meio milhão de inscritos, entregando conteúdos duvidosos.

Todavia, há outros comportamentos denunciando nossa falta de pensar no trato com a tecnologia, como, por exemplo, as discussões inúteis e agressivas nas redes sociais. Nessas, os embates dão a tônica possuindo um arsenal repleto de xingamentos, injúrias, acusações, etc. Existem também a defesa de ideias esdrúxulas e um certo orgulho por isso. Geralmente, esses indivíduos vão ao encontro de teorias inverossímeis e sem nenhuma praticidade. Além, é claro, das poderosas notícias falsas. Elas são capazes de interferirem em eleições e são amplamente utilizadas no Brasil, em especial por políticos desonestos e  pessoas de caráter rasteiro  com a finalidade de moldar a opinião pública.

Estar na rede e endossar essas práticas compromete a inteligência do sujeito e abre portas perigosas para retrocedermos como sociedade. O analfabetismo funcional tem direta participação nessa conjuntura, afinal as pessoas mais vulneráveis tendem a se comportarem alinhadas com a estrutura citada no parágrafo anterior. O fato é, o arranjo mostrado nas redes sociais, com informações rápidas e com linguagem simples, está impactando o modo como pensamos e como prestamos atenção nas coisas. A hiperconectividade é inimiga do pensamento elaborado, pois o tempo é vital para os diálogos ocorrerem. 

De forma alguma advogamos aqui contra o uso da tecnologia. A internet modificou a vida do homem e é impensável vivermos sem ela, assim como outrora. No entanto, qualificar a forma como a usamos é uma boa pedida e nos ajuda a maximizar nossos ganhos, principalmente na interpessoalidade e no crescimento pessoal. Quando extrapolamos no uso dessa ferramenta, estamos, mesmo inconscientemente, confirmando o quão superficiais e incapazes somos por não termos o predicado de conservar relações saudáveis com as pessoas ao redor. A consequência disso é vivermos num mundo cada vez mais fútil e egoísta.