(Artigo publicado em 02/08/2005 - Jornal Opinião-Curitiba/PR)
 
     Dia desses, eu observava meu filho de quase três anos pelo vidro da porta da varanda. Entretido com o seu caminhão colorido, ele dizia que estava levando “aquele material para uma obra” pois pretendia construir uma casa grande, para que todos fossemos morar lá.
     Imediatamente meu pensamento deu um salto para o começo dos anos 70 no Rio de Janeiro, quando ainda na companhia de meu pai, eu tentava decifrar as coisas do mundo dos adultos e procurava me comportar bem diante da conhecida severidade do “Seu Alípio” .
     Recordei que havia três momentos mágicos com meu velho pai: Visitar a quadra da Portela, comer pastel nas manhãs de domingo no Mercadão Madureira e, mais tarde, ver no Maracanã, um tal de Zico que começava a mostrar sua genialidade.
     Lembrei também que ele repetia algumas de suas muitas "verdades": que era preciso respeitar os mais velhos, que as drogas faziam mal para a saúde, que era necessário preservar as amizades e trabalhar para se dar o devido valor ao dinheiro.
     Outras verdades daqueles tempos foram por água abaixo: Quem manda na casa é o homem, mulher não sabe dirigir e principalmente aquela que diz que “homem não chora”. Ah, essa eu nunca aprendi mesmo.
     No início dos anos 80, aos 44 anos, seu Alípio foi para o andar de cima, vítima de uma das verdades que ele sabia, mas que da qual era refém: “O cigarro faz mal!”
     As verdades de um Pai, certas ou não, são as ferramentas que eles oferecem aos seus filhos para que construam seus valores individuais: Caráter, conduta, respeito ao próximo e outros valores, que ao longo do tempo serão lapidados conforme os primeiros sinais de amadurecimento, cada um à sua maneira.
     Costumo dizer que o pai do melhor aluno da classe, o pai do mais cruel assassino, do mais bem sucedido empresário, do mais carente dos sem teto, do mais convicto ateu, do mais ferrenho religioso e muitos outros, são portadores das dores e alegrias vindas das condutas de seus filhos, somadas ainda aos sentimentos de fracasso ou de triunfo na arte de ser pai.
     Nestes tempos, em que as famílias são inexplicavelmente colocadas em segundo plano por quem tem como prioridade o dinheiro, a fama e a política, penso em como fazer para que meu filho esteja protegido das mazelas do mundo sem que eu lhe tire a liberdade, o aprendizado natural e a alegria das descobertas.
     Talvez, a única ferramenta para enfrentar estes tempos seja a de ensiná-lo a “olhar nos olhos”, a ter um aperto de mão firme, a não desistir dos sonhos, a compreender as diferenças, que só a verdade liberta e que a família é o nosso porto seguro, sempre, haja o que houver.
     Com a chegada do Dia dos Pais, deixo um grande abraço a todos que como eu, acordam e dormem pensando em como fazer deste mundo louco um lugar melhor para seus filhos.
     Que sejamos felizes nessa empreitada!