APRISIONAMENTO NÃO É AMOR!

Quando eu era criança e morava no interior do Nordeste, criava pássaros em gaiolas. Eu cuidava daquelas pequenas aves e tinha um amor por elas como um bom pai tem pelos seus filhos, mas certo dia, olhei para eles por longos minutos e percebi que todos buscavam algum espaço naquela prisão que possibilitasse a fuga. É como uma simples equação: se eles queriam sair dali é porque não estavam felizes e se eles não estavam felizes, a minha felicidade seria fundamentada num profundo egoísmo.

Olhei fixamente para todos eles e decidi abrir todas as portas das gaiolas. Todos se evadiram dali imediatamente e nunca mais retornaram! A minha felicidade passou a ser a certeza de que escolheram o melhor para eles. É assim que deveria ser as relações entre todos os seres humanos: de total liberdade.

E tal como o pássaro aprisionado - que nos encanta pela beleza e insiste em ecoar o seu lindo canto - nós seres humanos também tentamos nos enganar e mostrar aos outros que estamos muito bem, mesmo não estando!

Cada pessoa deveria ter o sagrado direito de escolher o melhor para si. Isso inclui a escolha da profissão, da religião, da opção sexual, do parceiro e de todas as escolhas. E ninguém deveria ser condenado a ter que manter suas decisões para sempre porque a vida é curta e há uma imensidão de opções.

E da mesma forma que nos apaixonamos inexplicavelmente pelas pessoas, também deixamos de gostar. E tal como nos iludimos, também nos desiludimos! Deveria ser um processo natural, sem traumas, remorsos, constrangimentos, quedas de braços, sem sentimentos de inferioridade e perdas, sem mortes.

Nós amamos as pessoas, entretanto, elas não são nossas propriedades. Não somos donos de ninguém e ninguém deve ter nossa posse como se fôssemos meros objetos. Dispensemos todo o nosso ciúme para com os objetos, pois estes não têm o poder de escolhas.

Desnudemos da pretensão idiota de que só nós sabemos a melhor forma de aproveitar a vida, de se vestir, de amar, de se gastar o dinheiro, etc, etc. Somos seres exclusivos e únicos e essa condição garante que somente o próprio indivíduo decida o que é melhor para ele!

(Ivan Lopes, 01/08/2020)