A HISTÓRIA NO MEIO DO NADA !
Êle era extremamente tímido e mesmo com incentivo de seus amigos não criava coragem para apresentar na praça seu dom artístico !
Mas no dia de seu aniversário seus dois amigos pressionaram:
é hoje, cumpádi, se passar de hoje não insistimos mais !Trouxemos um incentivo infalível: um litro de São João da Barra, o conhaque do milagre !
Milagre ou não, êle foi, cambaleando (êle e seu estimado instrumento), estacionou na porta do Villarino, reduto na época dos mais renomados artistas que labutavam no Rio de Janeiro.Mais amarelo que melão por conta do receio da rejeição, enfrentou olhares inquisidores e sombrancelhas se perguntando:
"Quem é o "pouca-sombra"? De onde vem essa múmia ? Alguém conhece ?
Entrou , sentou-se numa mesa do fundo e não demorou para um abusado perguntar:
Que queres aqui, nanico ?
Sou uma merda e procuro um penico?
Silêncio total, denso, até que uma gargalhada puxou outra, numa zoeira infernal. Logo após muitos aplausos vem o convite:
Toque alguma coisa, aí!
Pegou o mote e tocou:
Alguma coisa acontece no meu coração... pediram BIS e êle veio com:
Meu coração não sei porque bate feliz...
Aplausos mis e a pergunta que não quer calar: "quem és tu, Coriolano"?-- JACÓ DO BANDOLIM, às suas ordens !
Acabava de ser inscrito mais um na parede dos frequentadores ilustres do Villarino!
PS: fiz esta história somente para homeangear o VILLARINO, que não conheci, embora tenha rodado muito (tanto de dia quanto de noite) Cinelândia e adjacências. Frequentavam o VILLARINO Vinicius de Moraes, Tom Jobim, Pancetti, Dolores Duran, Paulo Mendes Campos e Villa Lobos. (in DIÁRIO DO PARÁ, "A História no meio do nada", de RUY CASTRO, em 27/julho 2020, pag. B...)