Um “método científico” de Karl Marx

Quem, por curiosidade pessoal ou acadêmica, costuma observar e tentar entender o comportamento humano, já deve ter pensado em qual seria a motivação cultural ou filosófica que faz com que algumas pessoas sejam totalmente avessas ao debate e se comportem com se estivessem na cobertura de um prédio alto de onde, inacessíveis, ficam atirando pedras em quem passa da calçada.

Esse comportamento é particularmente visível quando envolve posicionamentos ideológicos.

O que me vem a mente como explicação mais provável é que algumas pessoas resolvem abraçar uma causa, por algum motivo pessoal ou por influência de outras, para a qual não tenham perfeita compreensão e dessa forma, para se protegerem, evitam debates onde sua ignorância do assunto ficaria evidente e aí, ao mesmo tempo que se isolam, criam rótulos (as pedras) para tentarem depreciar os “adversários”.

Essas pessoas não conseguem perceber que num debate saudável não existe “adversários”, apenas participantes.

Contudo, observando o comportamento de uma das personalidades mais conhecidas de todos os tempos, Karl Marx, vemos que esse, que é considerado por muitos como um dos maiores filósofos da História, há 150 anos já costumava atirar suas pedras.

Como exemplo, vejamos alguns trechos tirados do Posfácio da segunda edição do livro O Capital:

“A revolução continental de 1845-1849 repercutiu também na Inglaterra. Homens que ainda reivindicavam alguma relevância científica e que aspiravam ser algo mais do que meros sofistas e sicofantas das classes dominantes tentaram pôr a economia política do capital em sintonia com as exigências do proletariado, que não podiam mais ser ignoradas. Daí o surgimento de um sincretismo desprovido de espírito, cujo melhor representante é Stuart Mill. Trata-se de uma declaração de falência da economia “burguesa”, tal como o grande erudito e crítico russo N. Tchernichevski já esclarecera magistralmente em sua obra Lineamentos da economia política segundo Mill.”

“Nessas circunstâncias, seus porta-vozes se dividiram em duas colunas. Uns, sagazes, ávidos de lucro e práticos, congregaram-se sob a bandeira de Bastiat, o representante mais superficial e, por isso mesmo, mais bem-sucedido da apologética economia vulgar; os outros, orgulhosos da dignidade professoral de sua ciência, seguiram J. S. Mill na tentativa de conciliar o inconciliável. Tal como na época clássica da economia burguesa, também na época de sua decadência os alemães continuaram a ser meros discípulos, repetidores e imitadores, pequenos mascates do grande atacado estrangeiro.”

“Critiquei o lado mistificador da dialética hegeliana há quase trinta anos, quando ela ainda estava na moda. Mas quando eu elaborava o primeiro volume de O capital, os enfadonhos, presunçosos e medíocres epígonos* que hoje pontificam na Alemanha culta acharam-se no direito de tratar Hegel como o bom Moses Mendelssohn tratava Espinosa na época de Lessing: como um “cachorro morto”.

"* Marx refere-se aqui aos filósofos Ludwig Büchner, Friedrich Albert Lange, Eugen Karl Dühring, Gustav Theodor Fechner, entre outros.”

Vejamos que são os “meros sofistas e sicofantas”, “representante mais superficial” e “ enfadonhos, presunçosos e medíocres epígonos”:

“John Stuart Mill (Londres, 20 de Maio de 1806 — Avignon, 8 de Maio de 1873) foi um filósofo e economista britânico. É considerado por muitos como o filósofo de língua inglesa mais influente do século XIX.”

Claude Frédéric Bastiat (Baiona, 29 de junho de 1801 — Roma, 24 de dezembro de 1850) foi um economista e jornalista francês.

“Entre os economistas franceses, Frédéric Bastiat ocupa um lugar de destaque.” “Para ele, protecionismo, intervencionismo e socialismo são as três forças de perversão da lei.”.

Friedrich Karl Christian Ludwig Büchner (Darmestádio, 29 de Março de 1824 - 1 de maio de 1899) foi um filósofo, escritor e médico alemão do século XIX.

Friedrich Albert Lange (28 Setembro 1828 – 23 Novembro 1875) foi um filósofo e sociólogo alemão.

De acordo com Lange, pensar claramente o materialismo é refutá-lo.

Karl Eugen Dühring (Berlim, 12 de janeiro de 1833 — Nowawes, 21 de setembro de 1921) foi um filósofo e economista alemão.

“Adversário do socialismo marxista, esforçou-se sempre por fazer sobressair a importância dos fatores morais e pessoais na economia.”.

Gustav Theodor Fechner (Gross Särchen, 19 de abril de 1801 — Lípsia, 28 de novembro de 1887) foi um filósofo alemão.

“Professor em Lípsia a partir de 1834, era tido como um matemático e físico brilhante. Em 1839 esteve ameaçado pela cegueira; isto resultou em uma grave crise pessoal que o impossibilitou de lecionar e despertou seu interesse por questões psicológicas e religiosas.”.

Agora vejamos quem é o “grande erudito e crítico russo N. Tchernichevski”:

Nikolay Gavrilovich Chernyshevsky (12 de julho de 1828 – 17 de outubro de 1889) foi um escritor revolucionário russo, filósofo materialista, crítico, e socialista (visto por alguns como socialista utópico).

Como se vê, Karl Marx atirava pedras em quem não concordava com suas teorias “irrefutáveis” e fazia menção elogiosa aos seus pares.

Atualmente mesmo os discípulos dos discípulos dos discípulos de Karl Marx, aqueles que não sabem quase nada das teorias do grande guru, continuam usando seu “método cientifico” de atirar rótulos nos “ignorantes”, tais como “fascista”, “racista”, misógino”, xenófobo”, “genocida”, etc.

Argonio de Alexandria
Enviado por Argonio de Alexandria em 23/07/2020
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