A mentira tem perna curta; e braços longos.
A grande mídia agora se declara a serviço da democracia. Arrepende-se do erro que cometeu. Mas não tem dignidade de admitir o erro. Ao contrário, sempre cobra a autocrítica do PT. Quer que o PT, e as esquerdas, assumam a culpa pelos erros que cometeram, como se fossem eles os culpados pelo desgoverno e barbárie que vivemos hoje no Brasil.
Sim, o PT e as esquerdas erraram. Mas acertaram muito mais que erraram. Quem esconde e distorce isso, como o faz a grande mídia, mente. Por não aceitar uma sociedade com menos privilégios, mais inclusiva, mais lúcida e menos manipulável.
A grande mídia criou a criatura que fugiu de seu controle, e agora a afronta, sufoca-a com seus grandes braços. Um jogo de cena para continuar logrando o povo? Pois a criatura, que agora a grande mídia diz repudiar, faz exatamente aquilo que ela defende e deseja: avilta o trabalho e o trabalhador, privatiza serviços estratégicos (saúde, educação, segurança, saneamento, energia, aviação, etc.), loteia o patrimônio nacional, desdenha o meio ambiente, afrouxa a regulamentação da iniciativa privada, concentra renda e privilégios, isenta rentistas, imbeciliza a educação.
Há quem diga: “Não, a criatura que aí está destruindo o Brasil não era o candidato da grande mídia”. É verdade. Esse talvez tenha sido o mais espetacular erro da grande mídia. Ela não soube prever que estava criando o inqualificável fenômeno Bolsonaro: quando demonizou o PT e os governos de esquerda, quando apoiou o golpe contra o governo democrático eleito, quando louvou o governo fantoche ultraliberal de Temer, quando endeusou as distorções e mentiras da Lava Jato e a prisão de Lula, quando frustrou o sonho de uma sociedade mais justa e inclusiva. Acabou vítima de seu próprio erro, de seu próprio veneno.
Os resultados das urnas de 2018 mostraram duas coisas fundamentais: o poder de manipular o povo, fazendo-o votar na aberração travestida de novidade; e a recusa do povo logrado em escolher o candidato da grande mídia e de seu elitista sonho de plutocracia. Os grandes derrotados de 2018 foram a democracia e o PSDB.
Se a grande mídia agora vai assumir de fato o serviço à democracia, esta é uma alvissareira novidade. Mas a democracia que ela tem em mente será a mesma desejada pelo povo excluído? Que sonha com melhores condições de trabalho, salário e aposentadoria? Com um Estado forte, justo e nacionalista, que controle um setor privado voraz, entreguista, monarquista e escravocrata? E que inspire o orgulho de viver numa nação tão rica, por natureza e pela virtude de seu povo, como o é o Brasil?
Ou a grande mídia ainda é a porta-voz de arraigados instintos selvagens: o egoísmo, a ganância desmesurada? Eles impedem enxergar que a inclusão é o caminho para a superação de graves empecilhos sociais, ambientais e econômicos. Vencê-los seria galgar um degrau na escala civilizatória.
Oxalá seja a esta democracia que a grande mídia esteja declarando servir. Será que é?