Um Brasil Fragmentado

Como os efeitos de uma pandemia se intercalam com a crise política?

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O passo a passo do avanço do novo corona vírus, causador da doença COVID-19, parece ser um looping infinito onde todos os dias os noticiários repetem a narrativa do grande número de mortes no país em decorrência da doença. Nós, integrantes da sociedade, acompanhamos essa caminhada se estender a campos mais árduos, por vezes, corroborados por uma problemática à parte: a instabilidade política.

É certo que o governo de Jair Bolsonaro enfrenta dificuldades além do que poderia ser comum. Devido a situações que antecederam a chegada do vírus no Brasil, e que continuaram a acontecer por todo o momento desde então, criou-se uma instabilidade de governo bem maior que aquela que vimos durante todo o ano de 2019. Agora, a dificuldade se alastra ao terreno dos Estados e municípios, pois, inevitavelmente, Bolsonaro perdeu o apoio que tinha dos governadores ao defender logo no início que as pessoas ignorassem o surgimento do vírus e levassem suas vidas com normalidade. De fato, Bolsonaro teve em si sua parcela de culpa ocasional, porém, seria leviano e esdrúxulo virar a mesa contra Bolsonaro, isso por que os tais governadores decidiram agir por contra própria e tiraram o mais crucial numa democracia governamental, que é a união entre os poderes, onde cada um faz a sua função em busca de um bem em comum, e, isso se mostra distante de ser considerado nos dias atuais.

Nos últimos dias a ideia que surge é o lockdown, termo que designa uma estagnação total dos serviços e comércio e com isso deixa toda a população de fato em casa, medida essa que já foi adotada em algumas cidades do Estado do Tocantins, mas que para ser adotada em mais Estados Brasil afora ainda encontrará forte oposição dos próprios populares. Certamente, grande parte da população reprova a ideia de um lockdown pois ela mesma depende da atividade comercial para se sustentar em meio a esse período de isolamento. Lembremos que o desemprego no Brasil é altíssimo e sempre crescente, e com essa pandemia os números só tendem a aumentar. Isso ocasionará num verdadeiro caos social, com pessoas a beira da miséria, pois, mesmo com o auxílio emergencial ofertado pelo governo o sustento dessas pessoas não será ressarcido, e atentemo-nos para os populares que ainda não receberam tal auxílio e que nem ao menos se cadastraram, devido a problemas com documentos pessoais, e que nisso acabam lotando as agências bancárias correndo o risco de se contaminarem e levarem a frente esse vírus para os familiares.

O Brasil enfrenta problemas sociais contínuos, e nessa pandemia a falta de governabilidade presidencial é evidente, mas, isso se deve ao isolamento político de Jair Bolsonaro. As medidas impostas pelo STF tornando o combate ao corona vírus tarefa essencialmente obrigatória dos governadores e prefeitos agravou a falta de domínio de Bolsonaro. Os governadores tomam as rédeas da situação e para solução não impõem nada além do isolamento, não entregam soluções para fomentar a economia que está em estado de risco, tudo parece se resumir ao isolamento, como se o próprio isolamento fosse a cura. Lugares como Nova York mostraram que a situação não é bem assim, uma taxa de 60% dos contaminados com COVID-19 eram/são pessoas que estiveram em isolamento social severo, nisso encontramos uma falha drástica na solução, quase que ditatorial, do #fiqueemcasa. Atente-se para a ideia de que aqui não se propõe a eliminação do isolamento, ele tem sua parcela de utilidade, mas pensemos naqueles que mais necessitam de sair e buscar o seu ganha pão diariamente, como essas pessoas dormem a noite sem conseguir sair de casa, além do medo do vírus tem-se o medo de ser preso por ir contra as determinações dos governadores.

Bolsonaro não se ajuda em nenhum quesito, pelo contrário, corrobora para o debate acalorado contra sua pessoa, chama para si a culpa das mortes, chama para si a culpa de tudo desandar. A medida em que constrói seus problemas internos, tem em mãos também a responsabilidade sobre o número diário de mortes. A cada dia que se passa induz ao povo a sua inapta noção de comando, e sua instabilidade emocional, a medida que mente para ganhar tempo, e brinca quando tem de falar sério. Afirmo que o país está fragmentado não por culpa de um vírus chinês, mas por culpa de um governo que não sabe se colocar como tal e perde seu chão a cada dia, e vê do outro lado a força de oposição e detratores se alastrar pelos mais diversos cantos da sociedade, desde o povo em si, até a alta cúpula de apoiadores que antes tivera.

O pedido de demissão do Min. Nelson Teich explicita bem essa instabilidade no governo, devido a um embate com Bolsonaro sobre o uso da Hidroxicloroquina como combate primordial em pacientes com COVID-19, o Min defendeu que não é ainda o momento de forçar uma cura, e Bolsonaro insiste em enfiar goela abaixo o medicamento. Agora, Bolsonaro exige um Min que “fale sua língua”, que se atenha as suas propostas, que lhe dê ouvidos, esquecendo de que quem está no Ministério da Saúde é quem entende de saúde.

O Brasil se estende a uma fragmentação política, social, e econômica nos próximos meses. Enquanto não tivermos uma decisão firme e concisa para solucionar os problemas, ficaremos nesse embate entre presidente e demais detratores. Não é momento para defender lados, e sim para defender o melhor para si e para o próximo, e isso só é possível a partir do conhecimento da situação em que nos encontramos, pois, como em todas as guerras, os civis são os que mais sofrem, e nesse caso não seria diferente.