A completude da liderança
Quem intenta ser líder de homens, antes alija de si algumas fraquezas inerentes à condição humana, quais sejam, a emotividade exacerbada, a impaciência, a impulsividade, a irascibilidade. Pois se ainda tem essas em sua conta fomentará o desequilíbrio em mentes susceptíveis aos deletérios e famigerados exemplos.
Quando a liderança é genuína e digna não precisa aliciar ou arregimentar defensores, pois ela se preserva em sua própria dignidade, em sua autoridade moral.
Se não está pronto para um mister, deixe o mesmo para alguém mais capaz, pois aquele que estreita junto a si uma incumbência deve estar bem arraigado em bons propósitos, do contrário irá se enredar de tal maneira que será difícil retirar-se do lugar intrincado onde se meteu, voluntariamente.
A liderança, portanto, não que exija um espírito supra-humano, mas ela tem uma grande, ingente responsabilidade diante de si mesma, perante a consciência do líder e diante daqueles estreitados por ela.
Um líder deve ter o princípio da equidade ou equanimidade em suas atitudes, ou seja, ter a mesma postura, diligência, desvelo e desprendimento para atender aos anseios de todos os que estão sob a sua liderança, não só atendendo aqueles que comungam das suas ideias e desdenhando os anseios dos demais.
Um líder que segue rigorosamente o princípio da equidade é respeitado por todos, sem exceção.
Um líder tem origem na estirpe da decência. Um líder deve primar pela correção de maneiras. Se em essência ele não tem moderação, para o desempenho da sua liderança deve, por obrigação, aquilatar essa virtude para o cabedal da sua dignidade, respeitando, antes de tudo, a si mesmo. Ser líder, qualquer um pode ser, basta que outros aceitem a sua liderança. Mas ser um bom líder, realmente, é uma questão de essência.
É tão bom ouvir um líder embebido em luz falar. Os que ouvem sentem o alento do ânimo, da esperança. É muito triste um líder se perder nas sombras. Ele, além de perder-se a si mesmo, pode levar à perdição centenas, milhares, milhões.
Um bom líder fala com mansidão, com brandura, mesmo sendo naturalmente peremptório. Houve demandas e não se agasta, não se irrita, não se aborrece, não moteja, não zomba, não debocha. Respeita, pondera e considera, refletindo sempre em soluções. Nunca deixa ninguém a mercê do desamparo, dando sempre bom acolhimento a todas as necessidades, tanto aos anseios de informação quanto ao amparo no sofrimento, angústia ou infortúnio.
Qual guia, qual orientação, qual norteamento, concede ao líder o beneplácito para afirmar que a sua certeza, a sua convicção, conduzirá a si mesmo e a muitos para uma paragem ditosa? Dependendo da fonte da qual dimana tal orientação pode-se vislumbrar ou fica às escâncaras a respeitabilidade, a autoridade moral, ou o desdouro, a má fama ou a desonra do próprio propalador ou paladino dessa certeza, dessa persuasão íntima, o próprio líder.
Não importa se estamos aqui, além ou aquém, sempre estaremos sob a sujeição dos ditames das nossas crenças. Sempre moldaremos ou adequaremos o contexto com fragmentos, muitas vezes desconexos, dos conceitos, ideias, opiniões, informações, conhecimento assimilado ou incorporado, que vamos amalgamando ou combinando ao longo da nossa existência. Não que seja irrelevante, mas tem uma importância relativa, onde estamos no momento, pois a completude, a integralidade, essa reunião de partes que formam o todo, no tocante a qualquer ideia ou conhecimento, não será abarcada, não será contida no campo da nossa visão, da nossa observação. Sempre veremos apenas um ponto, que será estritamente o nosso ponto de vista.
Portanto, um líder, mais do que qualquer outro indivíduo, deve estar cônscio das suas limitações. Ele não sabe de tudo, portanto tem cautela, não é estouvadamente opinioso ou opinativo.
A essência de um líder é a liderança. A mais ignominiosa atitude de um líder é corromper essa essência, essa liderança, vilipendiando-a, desonestando-a. Corrompendo essa essência o líder pode criar uma egrégora negativa, uma soma de energias coletivas deletérias, danosas, dependendo da abrangência da sua liderança, de quantas susceptibilidades atingirá, de quantos influenciará.
Uma egrégora de luz, energia coletiva salutar, edificante, moralizadora, construtiva somente eclodirá de uma liderança equilibrada, honesta, digna e comprometida com uma disposição inata para o bem.
Há muita força advinda da coadunação das energias coletivas e para criar um ambiente moralizador, um ambiente sadio, essa criação, edificada moralmente, eclodirá para a existência, somente será possível a sua existência, se o líder abstrair da sua essência a plena liderança. Uma liderança no sentido lato da dignidade.