"MORRER SEM SER RECONHECIDO"
Uma agente de saúde de Manaus, que é indígena, declarou hoje para um órgão de imprensa, que não tem medo de morrer pelo coronavírus. Seu medo, segundo ela, é morrer sem ser reconhecida como indígena.
O local que ela mora e trabalha é um bairro de Manaus, predominantemente habitado por indígenas. Aliás, o nome em si já é muito sugestivo: Parque das Tribos. É um dos bairros da capital amazonense onde os serviços públicos se fazem praticamente ausentes e as estruturas são extremamente deficientes.
A declaração da agente de saúde é contundente, sobretudo por que é feito enquanto está trabalhando ao lado das famílias indígenas, que ela chama de seus parentes.
As palavras dela são carregadas de forte emoção, tendo em vista que, além de tentar orientá-los acerca da pandemia que assola a região, também percebe a pobreza das famílias daquela comunidade.
A expressão da agente de saúde não é apenas um sentimento étnico, porém, muito além disso, um sentimento de cidadania.
Essa penúria poderia estar restrita à comunidade indígena da periferia manauense. E esse dissabor poderia ser apenas da índia, agente de saúde. Infelizmente, o país remonta comunidades, cidadelas etc que sofrem com o descaso dos governantes de todos os níveis.
Em seu argumento simples e bem desenvolvido, a agente de saúde torna evidente que o vírus deixou de amedrontar tanto, por que o terror da desassistência não é nada novo, como a doença é.