Não foi por falta de aviso
A saída de Sergio Moro e a mais nova e desastrada afirmação de Bolsonaro diante da tragédia do coronavírus obrigaram muitos brasileiros que ainda insistiam em acreditar no presidente e nas suas “boas intenções” a admitir o que há muito tempo boa parte da população já sabia: que votar nele foi um erro. Quando o presidente disse: “E vou fazer o quê? Sou Messias, mas não faço milagres.” , temos de admitir que, de fato, ele não mentiu. Ele é um ser humano, não faz milagres. Porém, a grosseria e a indiferença com que respondeu mostraram total descaso e falta de sensibilidade para com o estado lastimável em que o Brasil se encontra. E ele deveria levar em consideração que ele foi eleito por grande parte da população que foi atingida por esse terrível vírus.
Se há algo que podemos lamentar, e muito, é que não foi por falta de aviso que tantos brasileiros cometeram o erro de votar em um candidato que, em tantos anos como deputado, não apresentou um projeto relevante nunca se destacou por nada a não ser por seus discursos grosseiros, pela fanfarronice e ideias retrógradas e preconceituosas. Sempre que ele abria a boca, mostrava falta de tato para lidar com situações, deboche e uma idiotice quase inacreditável. Podemos citar o impeachment de Dilma, suas declarações ignorantes acerca da homossexualidade, sua simpatia para com a ditadura e a tortura, respostas grosseiras para com adversários e jornalistas e falta de cuidado na escolha das palavras, o que denuncia sua mediocridade, pouca cultura e desconhecimento de assuntos essenciais para qualquer político.
A cada vez que Bolsonaro, como deputado, dava declarações, mostrava sua ignorância, seus preconceitos e falta de educação. Mas os brasileiros foram seduzidos por sua fanfarronice, achavam graça nas suas declarações desastradas e ridículas e diziam que “ele tinha boas intenções”, era um homem religioso, da família e honesto. Não quiseram ouvir os que tentaram lhes abrir os olhos mostrando que ele era o homem errado para o cargo de Presidente. Quem tentou alertar os brasileiros, principalmente através das mídias sociais, exibindo vídeos antigos que revelam quem ele é, quem seus filhos são, foi xingado de comunista, vagabundo, petista desocupado e tantas outras coisas que não devem ser mencionadas aqui por serem de muito baixo calão.
Um dos trunfos de Bolsonaro foi o cansaço da população brasileira diante das várias denúncias contra o PT, o que fez vários verem em Bolsonaro uma figura messiânica que combateria a corrupção e iria moralizar o Brasil. Bolsonaro, que é próximo a religiosos e pastores (grupos que vem favorecendo), aproveitou-se do fato de tantos brasileiros serem religiosos, usou a afirmação: “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos.” E muitos o viram como defensor dos valores morais e tradicionais e da religião, como se fosse com isso que a gente precisasse se preocupar. E nós tentamos alertar os brasileiros, mostrando as afirmações de Bolsonaro e dos seus estúpidos filhos, o fato de que há fortes evidências de que há dedo da família Bolsonaro na morte de Marielle, das suspeitas da família ser ligadas a milícias, de que um tio da mulher de Bolsonaro é miliciano e outras tantas suspeitas que mostram que Bolsonaro, além de ignorante, despreparado, grosseiro e trapalhão, está muito longe de ser o paladino da honestidade.
Infelizmente, a facada o colocou como mártir e vítima da ignorância. Falou-se que ele foi vítima de um atentado por parte do PT e isso o favoreceu de forma bastante conveniente, salvando-o de ter de enfrentar outros candidatos em debates, o que o livrou de mostrar seu completo despreparo e falta de planos concretos.
Não demorou muito para vermos quem é Bolsonaro. Pouco tempo após assumir o cargo, ele mostrou a que veio. Comprou brigas com a França e outros países, não agiu com prontidão diante de desastres ambientais, acusou ONGs sem provas – mostrando sua irresponsabilidade – e favoreceu líderes religiosos com ideias atrasadas como Damares e outros, o que mostra que ele é tendencioso e favorece quem está ao seu lado.
Agora, muitos estão se vendo forçados a admitir seu erro. E quem tentou abrir os olhos dos muitos brasileiros que o chamavam de mito e nos xingavam e diziam em tom de vitória “Bolsonaro Presidente” não tem motivos para comemorar, porque está pagando pelos erros dos que se recusaram a enxergar o que era evidente. Mas o pior cego é sempre aquele que se recusa a ver a verdade quando nós tentamos mostra-la.