Esquerda versus direita

Conversando sobre o que significam esquerda e direita e sobre nosso próprio enquadramento ideológico, senti necessidade de debruçar-me sobre esse assunto. Falamos que, e dados históricos mundiais mostram isso, a população pode ser dividida em três grupos mais ou menos equitativos: os que querem que tudo continue organizado como está; os que se inquietam com o estado de coisas, e apostam na possibilidade de transformações para arranjos sociais mais equânimes; os que são indiferentes, não se identificam com nenhum dos dois tipos anteriores. Este terceiro grupo costuma alegar que não quer se envolver nas radicalizações dos dois outros, que querem a qualquer custo impor suas concepções de sociedade.

Os significados de esquerda e direita vêm da Revolução Francesa; à direita na Assembleia Nacional ficavam os monarquistas (continuístas), à esquerda os republicanos (revolucionários). Nas religiões, Cristianismo, Islamismo, Budismo, Taoísmo, Judaísmo, etc., seus fundamentos pregam sempre a solidariedade e o amor, o que implica transformação. Quando não é assim, o é pelas interpretações tendenciosas que se tem dado aos escritos sagrados.

Cristo era de esquerda? Ele pregava a transformação social, mas pelo amor, pela paz, não pela guerra. Uma revolução espiritual, não armada. Será que isso é possível? Mas Cristo tanto assustou o status quo da época que acabou crucificado, acusado pelo Império Romano, pelas autoridades religiosas e pelo povo, que o viram como uma ameaça à ordem estabelecida. Cristo pregava a justiça, o amor. Assim também Gandhi, John Lennon, Chico Mendes, Dorothy Stang, Marielle Franco e tantos outros. Pregavam, como Cristo, a revolução em prol da transformação para a justiça e o amor via pacífica. Acabaram todos assassinados.

Não creio que a divisão entre pobreza e riqueza seja questão de índole do ser humano, nem mérito, nem carma. Vejo mais como questão de oportunidades. A apartação social que vemos hoje resulta em sua maior parte da sabotagem da oferta de oportunidade à maior parte da população, que é confinada na miséria econômica e social. Mas acredito na mensagem cristã: a transformação deve ser pacífica.

Vejo entre os de direita aqueles que ou já pertencem às eli

tes privilegiadas ou têm fortes intenções de logo chegar lá. E acreditam que isso seja fruto do mérito próprio: quem se empenha conquista. Existe gente assim em qualquer classe econômica e social. Entre estes também existem os pacíficos e os belicosos. Vejo muito mais belicosos; são individualistas, a quem falta o anseio da justiça social.

O grupo que fica em cima do muro, creio que são mesmo de direita. Alheamento, indiferença, só fazem perpetuar o status quo. Mas e aqueles que não querem saber de alinhamento político ou ideológico, mas dedicam a vida à emancipação das pessoas, venham elas da direita ou da esquerda, dos pobres ou dos abastados? Bem, estas pessoas diria que se parecem com Cristo, Buda, Maomé... Estão contribuindo para a grande revolução da compaixão, que desafia a humanidade. São portanto de esquerda?

Êita tema cabeludo!