Um esforço conjunto

Se você sente que a pessoa ao seu lado – seja seu parceiro ou um dos seus genitores – não lhe respeita, faz você se sentir uma pessoa errada que não está à altura dela e está sempre lhe julgando de forma desfavorável, entenda uma coisa: esforçar-se para conseguir a aprovação daquela pessoa não a fará ter mais respeito por você. Talvez até piore sua situação, favorecendo posturas abusivas da parte dela. O amor e o respeito devem ser espontâneos e uma pessoa que nos ama e respeita irá nos amar e respeitar como somos e não irá dar sempre a entender que nós a irritamos ou ofendemos com nossa existência, jeito de ser e nossos supostos defeitos.

Numa relação, ambas as partes devem se esforçar para que as coisas deem certo. Se uma pessoa sente que tem que fazer por merecer que você a aprove ou, pelo menos, não a faça sentir que tudo que você faz é errado, inútil e sem valor, algo está errado. Isso realmente é algo difícil de entender, porque a gente supõe que uma relação a dois ou entre pais e filhos deveria ser baseada em respeito e compreensão, mas é frequente vermos pais ou parceiros que fazem seus parceiros ou filhos se sentirem como se não devessem existir e tivessem de viver se desculpando o tempo todo por ser como são.

Pais ou parceiros abusivos costumam nos culpar por nos maltratarem e desrespeitarem, dizendo que nós é que provocamos sua raiva por sermos burros, não fazermos nada direito e atrapalharmos suas vidas. Por mais que a gente se esforce, nunca conseguiremos ser como eles acham bom. Veja: parece certo uma pessoa viver lhe xingando, criticando, zombando de você e fazendo questão de lhe tratar como sabe que você detesta. Mas se você reclamar, essa pessoa dará a entender que o defeito é seu, nunca dela. É por culpa sua que ela é grosseira, insensível e abusiva, divertindo-se em lhe espezinhar, irritar, culpar por tudo e fazer de lixeira. O incrível é que muitas dessas pessoas posam de boazinhas na frente dos outros e até se queixam das suas vítimas para as pessoas de fora, dando a entender que sofrem muito nas mãos dos “filhos ingratos” ou do “parceiro egoísta e inútil”.

Podemos acabar sentindo que nós é que somos os culpados e acabamos por perder até a noção de quem somos. Isso até nos lembra uma expressão de um livro: “Quem me roubou de mim?” E de fato é assim que acontece, porque chegamos a não nos reconhecer mais e acreditar que somos o que dizem. “Aceitamos” as posturas abusivas e desrespeitosas como normais e ficamos anestesiados, esquecendo nossas motivações, o nosso entusiasmo pela vida e nos movendo como zumbis em nosso cotidiano.

Um dos trabalhos mais duros quando tentamos sobreviver a essas relações doentias é o de resgatar nossa própria identidade e aprender a nos ver com nossos olhos, livres da visão distorcida que nos foi imposta. Não é fácil e exigirá muito de nós.